Já tem pouco mais de dois anos que The Good Wife chegou a seu controverso capítulo final, que dividiu os fãs e crítica, embora todos estejam em um consenso: a série durou mais do que deveria. Falhas a parte, é inegável sua importância para a televisão: tramas complexas, intrigas por todos os lados, dramas de relações familiares que caíram no caos, paixões "proibidas", o uso de casos reais e reais, dentre outros elementos, deram substância a ela e a afastaram do lugar comum dos procedurais jurídicos. Mas um destes fatores se sobressai aos demais e é, de longe, seu verdadeiro grande atrativo: o retrato do funcionamento, dos bastidores e dos jogos que envolvem a política.
A premissa do seriado foi baseada nos fatos do relacionamento entre Bill e Hillary Clinton: o marido que cai em desgraça durante mandato de cargo público após exposição em um escândalo sexual, e a esposa que engole toda essa humilhação e permanece ao seu lado, ainda que apenas para manter as aparências e por seus interesses pessoais. Claro que muitas liberdades criativas foram tomadas, mas é impossível não traçar um paralelo com a relação absurda e quase doentia vivida por Alicia (Julianna Margulies) e Peter Florrick (Chris Noth). Eles precisam manter esta farsa viva, afinal, ou cairão em desgraça com eleitorado estadunidense (tão hipócrita quanto o brasileiro, se não mais) e não terão a força necessária para alcançar seus objetivos de poder.
Também é interessante ver como funcionam as relações com terceiros e as escolhas que levam a decisões que repercutem em toda a população. Cada ato tem uma motivação por trás, e nem sempre (para não dizer quase nunca) elas são tomadas pensando no bem maior. Não é incomum a série mostrar interferências dos detentores do poder como uma forma de prestar favores, mesmo que o outro lado sequer tenha pedido, e como também há a parte jurídica da trama, isso acaba por favorecer pessoas próximas com frequência. Nem mesmo as escolhas para uma equipe de gabinete passam incólumes, sempre favorecendo amigos ou filhos destes com cargos que dificilmente refletem sua capacidade para o trabalho.
De qualquer forma, os Florrick são apenas a ponta do iceberg quando se trata do que envolve a política estadunidense. Há muitos outros personagens, entre adversários, aliados e aqueles que trabalham em benefício próprio, que dão tempero a trama e tumultuam ainda mais a vida dos protagonistas. Entre eles, é impossível não destacar Eli Gold, interpretado por Alan Cumming, também baseado em uma figura real: no caso, Rahm Emanuel, que chefiou a campanha do Partido Democrata para o Congresso em 2006 e posteriormente foi nomeado Chefe de Gabinete durante o primeiro mandato do presidente Barack Obama, permanecendo no cargo entre 2009 e 2010. Atualmente, é o prefeito da cidade de Chicago, no estado de Ilinóis.
Embora muitas vezes faça o papel de alívio cômico (graças às ótimas reações e expressões do ator escocês), Eli vai muito além desta camada e não a toa é tido como um dos melhores e mais interessantes personagens do programa. Ele é o articulador político, uma figura que beira o maquiavelismo e que faz de tudo para conseguir êxito em sua missão de fazer um candidato alcançar o cargo almejado. Seu comando dentro de uma campanha política é transparente, mas seus métodos sempre são pouco éticos, desenterrando a sujeira de adversários e prevenindo seu aliado dos riscos de algo semelhante ser feito do outro lado. No fim das contas, Gold sabe como giram as engrenagens, como funciona a cabeça do eleitorado, como "aparentar" funciona melhor do que "ser". Ele é o camisa 10 dentro do jogo, aquele quem conhece as vantagens e desvantagens e usa ambas a seu favor.
Assistir a The Good Wife é uma tarefa gratificante. Ainda que não consiga conduzir de forma satisfatória algumas de suas tramas e caia em certas armadilhas do storytelling, propostas como essa de mostrar o outro lado da política fazem o tempo investido valer a pena. A série abre os olhos do espectador, que passa a entender muitos dos movimentos feitos por candidatos, especialmente em épocas de campanha. E como bem sabe Eli Gold, em momentos como este, nem tudo que parece de fato é.
Também é interessante ver como funcionam as relações com terceiros e as escolhas que levam a decisões que repercutem em toda a população. Cada ato tem uma motivação por trás, e nem sempre (para não dizer quase nunca) elas são tomadas pensando no bem maior. Não é incomum a série mostrar interferências dos detentores do poder como uma forma de prestar favores, mesmo que o outro lado sequer tenha pedido, e como também há a parte jurídica da trama, isso acaba por favorecer pessoas próximas com frequência. Nem mesmo as escolhas para uma equipe de gabinete passam incólumes, sempre favorecendo amigos ou filhos destes com cargos que dificilmente refletem sua capacidade para o trabalho.
De qualquer forma, os Florrick são apenas a ponta do iceberg quando se trata do que envolve a política estadunidense. Há muitos outros personagens, entre adversários, aliados e aqueles que trabalham em benefício próprio, que dão tempero a trama e tumultuam ainda mais a vida dos protagonistas. Entre eles, é impossível não destacar Eli Gold, interpretado por Alan Cumming, também baseado em uma figura real: no caso, Rahm Emanuel, que chefiou a campanha do Partido Democrata para o Congresso em 2006 e posteriormente foi nomeado Chefe de Gabinete durante o primeiro mandato do presidente Barack Obama, permanecendo no cargo entre 2009 e 2010. Atualmente, é o prefeito da cidade de Chicago, no estado de Ilinóis.
Embora muitas vezes faça o papel de alívio cômico (graças às ótimas reações e expressões do ator escocês), Eli vai muito além desta camada e não a toa é tido como um dos melhores e mais interessantes personagens do programa. Ele é o articulador político, uma figura que beira o maquiavelismo e que faz de tudo para conseguir êxito em sua missão de fazer um candidato alcançar o cargo almejado. Seu comando dentro de uma campanha política é transparente, mas seus métodos sempre são pouco éticos, desenterrando a sujeira de adversários e prevenindo seu aliado dos riscos de algo semelhante ser feito do outro lado. No fim das contas, Gold sabe como giram as engrenagens, como funciona a cabeça do eleitorado, como "aparentar" funciona melhor do que "ser". Ele é o camisa 10 dentro do jogo, aquele quem conhece as vantagens e desvantagens e usa ambas a seu favor.
Assistir a The Good Wife é uma tarefa gratificante. Ainda que não consiga conduzir de forma satisfatória algumas de suas tramas e caia em certas armadilhas do storytelling, propostas como essa de mostrar o outro lado da política fazem o tempo investido valer a pena. A série abre os olhos do espectador, que passa a entender muitos dos movimentos feitos por candidatos, especialmente em épocas de campanha. E como bem sabe Eli Gold, em momentos como este, nem tudo que parece de fato é.