terça-feira, 18 de setembro de 2018

A Capitã Marvel vem aí para chutar nossas bundas (ao som de Pearl Jam após alugar uma fita VHS)


Sorriam, fãs da Marvel ao redor do mundo! Após anos clamando por um filme solo de alguma de suas principais heroínas (algo que já deveria ter acontecido há tempos com, no mínimo, a Viúva Negra), está chegando o dia de o estúdio finalmente entregar uma de suas mais aguardadas adaptações desde seu anúncio no fim de 2014: Capitã Marvel. O longa, que já deveria ter sido lançado em julho deste ano de acordo com o planejamento inicial, finalmente chegará aos cinemas brasileiros em 7 de março de 2019, com estreia estrategicamente marcada nos EUA e demais mercados no dia subsequente, 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

Após a divulgação das primeiras imagens e detalhes através da Entertainment Weekly, hoje foi a vez de mostrar o primeiro pôster e trailer, revelados durante a participação da atriz Brie Larson, que dá vida à protagonista, no programa estadunidense Good Morning America. Simples e pouco reveladores, porém poderosos, os materiais promocionais deixam uma mensagem bem clara: a Marvel Studios não está para brincadeiras, seja no que diz respeito à introdução daquela que promete ser a principal super-heroína de seu universo cinematográfico, seja para enfrentar a competição e possíveis comparações da DC que, além de Shazam! (o Capitão Marvel original), também tem marcada a estreia de Mulher-Maravilha 1984 para o próximo ano.

A prévia dá pistas do que esperar do filme, porém. Amnésia, passado como piloto de caças militares, natureza alienígena dos poderes, fica claro que, como era de se esperar, a origem de Carol Danvers será diferente da vista nos quadrinhos, deixando de lado a identidade super-heroica de Ms. Marvel (o que deixa aberta a possibilidade da introdução de Kamala Khan em um futuro próximo) e já indo direto aos finalmentes, com a presença da Carol Corps., capacete com moicano e as habilidades cósmicas de quando foi conhecida por Binária. Ao mesmo tempo, muita ação aliada ao clima típico dos anos 1990, época em que o longa se situa (com direito até à presença de uma loja da rede de videolocadoras BlockBuster), acabam por remeter à clássicos como Exterminador do Futuro 2 e Duro de Matar 2 e 3. E vale ainda o destaque para o jovem Nick Fury, a participação de Jude Law (que suspeito que será a versão cinematográfica de Mar-Vell) e, como não poderia deixar de ser, a cena em que a personagem-título dá um soco em uma velhinha, provavelmente um Skrull disfarçado, como já apontado por vários sites.

Confira abaixo o primeiro trailer de Capitã Marvel:


De quebra, fique também com o belo primeiro pôster do filme:

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

SUPERMAN - 80 anos, 8 histórias #2: "Reino do Amanhã"


Bem-vindos ao meu especial sobre o Superman, no qual falarei sobre 8 diferentes histórias do personagem como forma de celebrar seus 80 anos. Essas histórias podem variar entre arcos, edições únicas ou fases completas. Mais do que recomendar quadrinhos, espero que possa transmitir o que cada uma das escolhas significa para mim. Hoje, uma HQ em que os heróis de outrora tiveram que crescer.

A década de 1990 foi um período conturbado para a indústria de HQs estadunidense. Enquanto a parte mercadológica sofreu com a "Bolha dos Quadrinhos", a falência da Marvel e a perda de uma grande parcela do público, o campo criativo também passava por maus bocados: obras seminais como Watchmen e Batman: O Cavaleiro das Trevas ainda influenciavam novas revistas de super-herói, mas não da forma almejada por seus criadores. Apenas a estética e temas superficiais como a violência e a sensualidade foram absorvidos pelos roteiristas e desenhistas em destaque à época, que passaram a apresentar, em regra, tramas fracas, tentando se passar por adultas ao mostrar armas, tiroteios e conspirações aliados a assuntos polêmicos como violência sexual ou suicídio, mas sem nunca se aprofundar em nenhum deles; enquanto as artes eram de cair o queixo, embora sempre sexualizadas. Tudo isso envolto em uma atmosfera de cinismo e trevas, afastando-se do que os gibis foram um dia.

Havia exceções, como sempre há. Esta também foi época do surgimento da linha Vertigo, apresentando títulos subversivos e de temática adulta como Sandman, Preacher e Hellblazer, que fizeram história por sua inventividade, inovação e críticas sociais sempre inerentes. No âmbito superheroico, a Marvel chafurdava em um mar de histórias ruins, salvando-se apenas as sagas cósmicas escritas por Jim Starling, uma ou outra revista dos X-Men e a minissérie Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross. A situação na DC não era muito diferente já que, enquanto o Universo da Milestone Media ia passando quase despercebido pelo público, a linha principal apresentava em especial o Flash de Mark Waid e o recém-iniciado Starman de James Robinson como os principais frescores quando se tratava do revigoramento dos conceitos clássicos de heroísmo para tempos mais modernos.

Alguns dos nomes citados foram essenciais para o que gosto de chamar de "O Retorno dos Clássicos". Um jovem Alex Ross, por exemplo, após o sucesso de Marvels, restabeleceu a parceria com Kurt Busiek para, junto ao desenhista Brent Anderson, criar a longeva Astro City, com todo seu teor de homenagem aos super-heróis, na Image Comics. Ross também tinha uma ideia semelhante a da minissérie publicada pela Casa das Ideias para a DC, resgatando alguns conceitos de Crepúsculo dos Super-Heróis (o trabalho perdido de Alan Moore), e resolveu apresentá-las para James Robinson que, além de Starman, havia tido bastante sucesso com A Era de Ouro, uma história que apresentava os personagens da Sociedade da Justiça em um contexto mais adulto e desconstrucionista durante o pós-Guerra. Robinson gostou da ideia e aconselhou Ross a procurar por seu amigo Mark Waid, um exímio conhecedor da cronologia da Editora das Lendas e, tal qual o artista, um grande entusiasta da Era de Prata dos quadrinhos.

Foi neste contexto e através desta quase mística união de esforços que nasceu Reino do Amanhã, a mais importante obra da DC durante a década de 1990 e uma das leituras essenciais do período. Lançada originalmente em 1996 através do selo Elseworlds (conhecido aqui no Brasil como Túnel do Tempo) em quatro edições, a história se passa no futuro de uma realidade alternativa ao universo regular das revistas de linha, apresentando versões mais velhas de seus principais personagens, quando não os filhos ou herdeiros de seus mantos, em uma representação do conceito de legado, um dos grandes diferenciais da editora, extrapolado ao seu máximo. E embora a minissérie englobe uma larga variedade de heróis conhecidos do público, em especial os bastiões formadores da Liga da Justiça, seu foco, como não poderia deixar de ser, é voltado ao primeiro de todos, o Superman.

O retorno triunfal.

Na trama, situada em um mundo em que os velhos super-heróis saíram de cena ou passaram a atuar nas sombras após um terrível incidente, tendo sido substituídos por uma nova onda de personagens cuja moral trilha um perigoso caminho em que justiça e violência desmedida se confundem, acompanhamos o pastor Norman McCay e Espectro, o Espírito de Vingança, em uma jornada para testemunhar uma enorme catástrofe de proporções apocalípticas, com a qual McCay já vinha tendo visões, sem entender muito bem do que se tratava. Enquanto isso, o Superman, após uma visita instigante da Mulher-Maravilha, enxerga o caos em que a sociedade se encontrava mergulhada e resolve sair da aposentadoria para trazer a justiça e a ordem novamente ao planeta, independente do custo, convocando assim alguns de seus velhos aliados junto a representantes da nova geração que estivessem dispostos a seguir sua visão e orientação.

Em meio a intrigas, reviravoltas e paralelos com citações bíblicas do livro do Apocalipse, o enredo se desenvolve ao mostrar a equipe liderada pelo Homem de Aço tomando decisões cada vez mais autocráticas como forma de assegurar a paz e os velhos costumes através do fim forçado da criminalidade, sempre com a orientação de uma Mulher-Maravilha menos diplomática e mais agressiva do que antes, observada por um Superman que, embora execute as ideias dadas pela Amazona, não se sente 100% seguro quanto ao benefício delas. Neste ínterim, outros grupos começam a se movimentar para que seus interesses se concretizem em meio a este cenário, como é o caso da Frente de Libertação da Humanidade, formada pelos antigos vilões e liderada por ninguém menos que Lex Luthor, além de um novo time de Renegados juntado pelo Batman e também os novos heróis que preferem manter seus métodos radicais, que tem sua principal face em Magog, grande antagonista da história. Os ânimos se acirram quando o kryptoniano e seus aliados decidem pela construção do complexo prisional chamado de Gulag, o que acaba a acarretar um confronto que termina com a literal morte da inocência dos gibis do passado.

O trabalho desenvolvido por Waid e Ross pode ser enxergado através de duas óticas que podem render diferentes interpretações, ambas honestas. Uma delas é a de um leitor leigo, que o encara como uma grande história de super-heróis que levanta questões filosóficas, reimagina o universo DC de forma plausível dentro de seu próprio contexto e apresenta uma mensagem de otimismo e esperança para o futuro. A outra é a do leitor veterano, que consegue enxergar o mesmo que o colega recém-iniciado, mas também entende que Reino do Amanhã é uma espécie de manifesto contra o estado em que os gibis estadunidenses se encontravam na década de 1990 ao exercitar seus conhecimentos sobre o contexto da época e as principais editoras do mercado. Isso é algo dito e reiterado pelos próprios criadores, seja no tempo do lançamento ou nos anos que se seguiram, e que se torna explícito tanto pelo teor da obra, quanto pelo visual de muitos dos novos personagens, como é o caso de Magog, claramente inspirado em Cable, dos X-Men, ou do Americommando que, como dito pela dupla, é "o Capitão América se tivesse sido criado pelo Rob Liefield".

Uma nova era para os velhos heróis.

A arte de Alex Ross, vale ressaltar, caiu como uma luva para o teor da história. Seu estilo realista, aliado ao texto rico e valoroso de Mark Waid, consegue aliar o clássico ao moderno e dá ao quadrinho o tom imponente necessário para seu impacto e êxito, especialmente no que diz respeito aos super-heróis, que não poucas vezes são retratados como deuses ao melhor estilo greco-romano, elevando ainda mais a figura de tamanhos ícones da cultura pop mundial e alçando-os a um lugar em um panteão inalcançável. Mesmo as cenas de ação, que exigem maior sensação de fluidez e são alvo das principais críticas ao trabalho do artista, entregam a dinamicidade necessária e se saem bem no resultado final. É de se destacar, ainda, a composição das cenas e desenvolvimento dos visuais dos personagens, os quais ficaram todos a seu encargo, trazendo ideias interessantes para uniformes que certas vezes acabaram sendo incorporados ao universo regular, como é o caso do Robin Vermelho. E, como curiosidade, é justo informar que o visual do pastor Norman McCay é inspirado no pai de Ross, que serviu como modelo para seus desenhos.

Conforme dito anteriormente, a obra envolve basicamente todo o universo da DC, mas seu grande protagonista é o Superman. Tal destaque não é mero acaso, já que ele, na posição de primeiro super-herói já criado e, consequentemente, grande arquétipo do gênero, acaba por ser a incorporação antigos valores e tradições dos velhos gibis, algo que fica claro na história, especialmente em seu confronto com Magog, representante do que havia de novo. Ao mesmo tempo, é interessante ver durante o avançar da trama que, apesar de seu coração estar no lugar certo, sua cabeça não está e sua visão, tão presa ao modo que o mundo era outrora, acaba por levá-lo a tomar decisões equivocadas que levam a um resultado final irremediável. E é por isso que, ao final, ele cresce e muda sua postura de combativa para humanitária, o que é seguido pelos demais heróis, que passam a ajudar o mundo de outras formas. Esta visão acabou por definir o papel dos personagens na vida real dali em diante, com as boas histórias criadas desde então refletindo-a.

Reino do Amanhã foi lançada em diversos formatos ao redor do mundo. No Brasil, especificamente, saiu como minissérie em quatro edições separadas pela em 1997 e encadernado em 1998, ambos pela Editora Abril. A encadernação foi relançada em 2004 pela Panini que, a partir de 2013, passou a adotar o formato de luxo da publicação, o qual se encontra disponível em lojas e livrarias neste momento. Recheado de extras, conta com um enorme posfácio detalhando muitos dos aspectos do processo criativo, além de apresentar páginas extras que não constavam nas primeiras versões, como é o caso das cenas do Superman em Apokolips conversando com Orion e do epílogo no restaurante Planeta Krypton, que se encaixou perfeitamente com o resto da história e só intensificou sua mensagem.

O cenário dos quadrinho de super-herói estadunidense estavam salvos graças ao Superman e, principalmente, a Mark Waid e Alex Ross. Ou pelo menos até a chegada de uma nova "ameaça"... Mas isso é assunto para outra hora.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

"A carreira do Rush em 10 Álbuns: Por Geddy Lee" (traduzido do "Louder")


O Rush pode não existir mais, mas seu legado segue vivo. E não há ninguém mais orgulhoso do que eles deixaram para trás do que o vocalista e baixista Geddy Lee, cofundador da banda em Toronto no ano de 1968.

Lee se sentou com a revista Prog para relembrar 10 de seus melhores álbuns, desde a estreia autointitulada muito inspirada no Led Zeppelin até o canto do cisne em 2012, Clockwork Angels. Foi uma emocionante jornada, com altos e baixos, e ele respira fundo antes de começar...


Rush (1974)

O álbum de estreia, e o único do Rush com a formação Alex Lifeson (guitarra), Geddy Lee (baixo/vocal) e John Rutsey (bateria)

Geddy Lee: "Este disco foi a gente tentando encontrar uma sonoridade, achando que gostaríamos de ser uma banda de hard rock e emulando aquelas que achávamos legais. Consigo ouvir Led Zeppelin ali, e um pouco de Humble Pie. Gostaria de poder ouvir mais do que apenas essas duas referências, mas não consigo. John Rutsey era um baterista meio no estilo de Simon Kirke - só cuidar da batida e já podemos tocar. Então foi assim que as músicas foram compostas.

"Nós gravamos o álbum com um produtor chamado David Stock, mas o resultado sinal soou tão ruim que tivemos que refazê-lo com Terry Brown, que veio a se tornar nosso principal produtor. Adicionamos mais músicas nessa segunda versão, e uma delas era Finding My Way, que acabou se tornando uma das mais importantes faixas do álbum - verdadeiramente roqueira.

"E a música que realmente fez com que chamássemos a atenção foi Working Man. Ainda havia estações de rádio nos EUA sem uma programação estritamente controlada na época, e os DJs podiam apresentar faixas mais longas. Working Man tinha sete minutos de duração, e a quantidade de vezes que ela foi tocada acabou fazendo com que assinássemos um contrato com a Mercury Records. Foi uma canção com impacto incrível."


Fly By Night (1975)

No segundo álbum, Rutsey estava fora e Neil Peart estava dentro, como baterista e compositor. Também estava a bordo um estilo de rock mais progressivo.

Geddy Lee: "Nós tínhamos uma música escrita antes de Neil entrar - Anthem. Era algo mais arriscado do que qualquer coisa no primeiro álbum, tocada em um tempo de batida pouco comum. Foi o tipo de composição que convenceu John de que talvez isso não fosse para ele. Então, um ponto de virada para o grupo.

"Não era a ideia inicial de Neil escrever as letras. Eu e Alex sempre forçávamos ele a tentar porque não queríamos ter de cuidar disso. Mas acabou funcionando muito bem para nós.

"Beneath, Between & Behind foi um momento-chave em Fly By Night. Foi uma das primeiras letras que Neil compôs para a banda. Talvez tenha sido a primeira letra que ele escreveu na vida, ponto. Ela era bem prolixa, difícil de cantar, mas Alex e eu colocamos um instrumental fervoroso atrás dela e foi ótimo.

"By-Tor & The Snow Dog foi nossa primeira música épica. As pessoas odiaram o título: 'Ah meu Deus, que pretensioso!' Mas ela foi nomeada em homenagem aos dois cachorros do nosso empresário. Uma piada boba. E assim, de uma forma estranha, uma das principais canções do Rush começou como comédia."


2112 (1976)

A obra-prima que salvou a carreira do trio, definida por sua controversa faixa-título de 20 minutos com ares de ficção científica existencialista.

Geddy Lee: "Nosso terceiro álbum, Caress Of Steel (1975), não foi capaz de estabelecer uma conexão com o público. Ele era tão experimental, com nossa primeira tentativa de uma faixa-conceitual que ocupava um lado inteiro de um LP, The Fountain of Lamneth. Era tudo muito obscuro. Caress Of Steel não teve boa repercussão, e a gravadora não estava contente conosco. Então nós estávamos basicamente brincando com fogo naquele ponto.

"A última coisa que esperávamos era que 2112 fosse bem-recebido porque a faixa-título era outra que ocupava todo um lado do LP. Mas havia algo no som de 2112 que dava uma sensação muito mais definitiva e consolidada a ele.

"A história de 2112 era muito anti-autoritarismo. Era completamente sobre liberdade - individual e criativa -  e eu fiquei em choque quando a NME nos chamou de neofascistas. Isso é algo tão longe da realidade. É loucura.

"Mas no fim, o álbum realmente nos salvou. Trouxe muitos fãs novos. E o lado B realmente dá fechamento para o trabalho. A Passage To Bangkok, Something For Nothing, The Twilight Zone - são músicas de rock muito boas. E isso acabou se tornando um marco para nós, ter esse tipo de diversidade em todos os discos."


A Farewell To Kings (1977)

Indo totalmente contra a maré, este foi um colosso do rock progressivo criado no ano em que o punk estourou. Xanadu, Cygnus X-1, pássaros cantando: está tudo aqui.

Geddy Lee: "Era um sonho para nós gravar um álbum na Grã-Bretanha. Muito da música que nos influenciou enquanto crescíamos era blues rock britânico e rock progressivo britânico. Nós havíamos feito nossa primeira turnê no Reino Unido em 1977, e com Terry Brown sendo um britânico vivendo em Toronto, eu perguntei, 'Por que nós não gravamos por lá?' E foi assim que fomos parar nos Estúdios Rockfield em Gales.

"Nós ficamos muito embasbacados, então foi uma grande aventura gravar no interior galês. Tudo parecia muito rústico, especialmente durante as primeiras semanas, com o som de ovelhas balindo em sua janela ao amanhecer. Mas amamos trabalhar por lá, ir aos campos para capturar os sons ambientes que vocês ouvem em Xanadu e A Farewll To Kings - o eco natural das paredes de pedra, e os pássaros cantando ao nascer do sol.

"Xanadu foi gravada toda de uma vez só - 11 minutos, direto. Desde que nos preparássemos, podíamos fazer esse tipo de coisa. E Cygnus X-1 foi um mergulho de cabeça no espaço sideral - um tipo totalmente diferente de viagem."


Permanent Waves (1980)

Depois do longo e complexo Hemispheres de 1978, Rush entrou na nova década com um novo som, completo com o hit The Spirit Of Radio.

Geddy Lee: "Nós sentimos que realmente estávamos começando a parecer formulaicos com Hemispheres, e isso era assustador. A faixa que abria o álbum (Cygnus X-1 Book II: Hemispheres) era como 2112, com quase 20 minutos de duração, e não queríamos ficar nos repetindo.

"Com Permanent Waves, queríamos mais urgência em nosso som, no que diz respeito à empolgação - um tipo diferente de energia. Ainda tínhamos músicas como Natural Science, que é uma das minhas faixas favoritas em toda nossa história. Mas nossa intenção com o disco era realmente condensar nossa sonoridade e tentar ser compositores melhores.

"The Spirit Of Radio deu o tom a todo o registro. Ela era tão pra cima e tão contemporânea. A música é sobre a comercialização da música e como o rádio estava mudando. O riff de Alex representava o movimento das ondas de rádio. E a forma como a canção vai se modificando, entre diferentes estilos e tempos, foi feito para soar como se você estivesse mudando as estações.

"O álbum nos levou a um novo período, e tudo pareceu muito natural."


Moving Pictures (1981)

O maior e melhor álbum do Rush, contendo as clássicas Tom Sawyer, Limelight, Red Barchetta e YYZ. Mas foi difícil acertá-lo...

Geddy Lee: "Moving Pictures foi um disco enorme para nós. Aquele nível de sucesso era muito acima de qualquer coisa que havíamos vivido antes. Mas tivemos muitos 'momentos' com esse trabalho - foi bem difícil de finalizá-lo.

"Duas músicas foram tranquilas de serem compostas: Limelight e Red Barchetta, que era tão boa de se tocar ao vivo. Tom Sawyer foi o contrário, ganhando vida tardiamente. Tivemos tanto trabalho em ajustar os solos de guitarra e balancear o final. Mas depois de tanto sofrimento, acertamos em cheio e se tornou algo muito poderoso. Nos ficamos meio que, 'Cacete, de onde veio isso?'

"Nós nos divertimos muito com Witch Hunt [parte três de 'Fear']. Embora seja uma música sombria, ela envolveu tanta besteira. Para gravar os sons das multidões, nós três saímos para o estacionamento do estúdio no frio congelante do inverto. Mas na noite em que mixamos a música, soubemos da notícia de que John Lennon havia sido baleado. Ficamos todos em choque, muito chateados. É algo que jamais esquecerei."


Power Windows (1985)

Em um álbum brilhante, dominado por teclados, um guitarrista insatisfeito levou uma pelo time.

Geddy Lee: "Tivemos esse período nos anos 80 - a era dos teclados. Começou com Signals (1982), e foi até Hold Your Fire (1987). Acho que Power Windows é o melhor desse período. Eu amo a qualidade do som. Mas para Alex foi um disco frustrante de se fazer. E eu não tinha ideia do quão sofrido foi para ele até depois de encerrar as gravações.

"Eu estava tocando teclado, e também trouxemos Andy Richards, um especialista em sintetizadores bem respeitado. Então estávamos cobrindo as faixas com som, e Alex teve que lutar por seu espaço ali. Ele não surtou - não é de seu feitio. Ele joga pelo time, então seguiu com a corrente. Foi apenas depois de terminarmos que ele expressou suas frustrações.

"Claro que, olhando para trás, eu posso entender completamente. Mas no geral, há um bom equilíbrio entre músicas de destaque para guitarra como The Big Money e de predomínio de teclados como Middletown Dreams, uma bela canção. E em Mystic Rhythms, tudo gira em torno do riff de guitarra. Sério, Alex tocou de forma incrível em Power Windows. É algo evidente no decorrer do disco."


Roll The Bones (1991)

Mais guitarras, e ótimas músicas: os fatores-chave no melhor álbum da banda no início dos anos 90.

Geddy Lee: "Havia algumas boas músicas em Presto (1989). The Pass é de longe uma das melhores coisas que já escrevemos. Mas as composições foram tão mais fortes em Roll The Bones.

"Era definitivamente um álbum com mais foco na guitarra. Nós pisamos um pouco no freio com os teclados. Eles ainda estavam ali, mas não com tanta evidência quando em Presto e nos trabalhos anteriores, Power Windows e Hold Your Fire.

"Para mim, em retrospecto, a produção de Roll The Bones deixou um pouco a desejar. Ele poderia ter soado maior e mais consistente. Mas acho que o que garantiu o êxito do trabalho é a qualidade das músicas. Bravado é uma faixa tão bem escrita. O mesmo vale para Dreamline, e Ghost Of A Chance - que eu amo.

"O álbum como um todo representa um verdadeiro amadurecimento para nós como compositores. E a faixa-título cresceu muito com o tempo. Tocamos ela na nossa última turnê, em 2015, e foi uma sensação diferente, mais profunda. Ela soa mais forte atualmente, e eu pude sentir isso na forma que o público reagiu."


Vapor Trails (2002)

O álbum de retorno. Em 1998, após a morte de sua esposa e filha, Neil Peart disse a Lee e Lifeson para considerá-lo aposentado. Cinco anos depois, ele e o Rush voltaram à ativa.

Geddy Lee: "Sem dúvidas, Vapor Trails foi o disco mais difícil que fizemos. Eu não achava que voltaríamos e gravaríamos outro álbum. E foi muito difícil - uma época de muita emoção.

"Tivemos que redescobrir como trabalhar juntos, e sempre sendo razoáveis com a situação de Neil. Sua confiança teve que voltar lentamente. Tínhamos que dar espaço a ele e, ao mesmo tempo, encorajá-lo.

"O processo de composição foi bem inseguro, eu diria. E no que diz respeito às letras de Neil, era uma questão sensível. Ghost Rider e a faixa-título, ambas foram bem pessoais para Neil. Estávamos tentando achar a balança entre deixar Neil expressar o que passou e forçar as letras a um nível mais universal, de modo que se tornasse uma declaração válida sobre a vida, ao invés de apenas sobre uma pessoa.

"Tanta emoção crua acabou indo para Vapor Trails, e ele foi um disco que soou cru. Mas conseguimos superar isso. E era tudo o que importava."


Clockwork Angels (2012)

O clássico do final da carreira. O 19º trabalho de estúdio da banda foi de fato o que todo fã do Rush sonhou por muito tempo - um álbum conceitual do início ao fim.

Geedy Lee: "Nunca entrou em nossas mentes que este talvez fosse nosso último álbum - estávamos tão empolgados em fazer algo conceitual novamente. Mas tomamos cuidados para que ele não soasse tão progressivo. Nós quisemos mantê-lo moderno: bem diverso, cheio de música e melodias fortes, mas que ainda abalasse estruturas.

"A história que Neil criou para Clockwork Angels é fantástica. Essencialmente, é sobre inocência - um jovem que vai para o mundo, como todos fazemos. Ele é enganado e trapaceado, mas no fim chega a conclusão de que, independente das coisas tolas que fez durante a vida, ele faria tudo novamente, e que valeu a pena.

"Nós não queríamos que o som fosse escravo do enredo. Queríamos que as músicas parecessem levemente conectadas umas às outras, mas que também tivessem vida própria fora do conceito. Essa foi a parte mais difícil. Mas no fim conseguimos. É um dos melhores registros musicais que já criamos."

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Este texto é uma tradução integral do original em inglês, escrito por Paul Elliot e publicado no Louder. Você pode conferi-lo aqui: https://www.loudersound.com/features/rush-s-career-in-10-albums-by-geddy-lee

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Resenha de UM parágrafo sobre "OS JOVENS TITÃS EM AÇÃO! NOS CINEMAS"!


Tal como a série animada que lhe deu origem, Os Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas é transgressivo em relação a tudo o que já foi feito anteriormente com os personagens ou a equipe em qualquer mídia, deixando de lado grandes clichês superheroicos, dramas e romances adolescentes em prol de um humor às vezes subvertido, às vezes escrachado, mas que no fim não poupa ninguém (especialmente o próprio Universo DC, mas sem se esquecer da concorrência ou mesmo de outras grandes franquias do cinema). Cenas de ação dinâmicas e números musicais dão sustância à história para justificar um longa-metragem, que é então tomado por uma vasta gama de absurdos divertidíssimos que desafiam os limites do que já é conhecido por desenho animado pelo público. São muitas também as aparições de personagens e referências à Editora das Lendas, com destaque à reinterpretação do vilão Exterminador para este mundo que não se leva nem um pouco a sério. Acredite ou não, mas este é um dos melhores filmes lançados pela DC Entertainment desde a conclusão da trilogia O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan, ao lado de Mulher-Maravilha e LEGO Batman - O Filme.

TRAILER:

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

BALANÇO MUSICAL - Agosto de 2018


Olá! Seja bem-vindo ao meu projeto Balanço Musical, uma coluna mensal na qual falo sobre música, o que escutei no mês que se passou, o porquê das escolhas, o que me influenciou nesses dias, e publico uma playlist com uma faixa referente a cada dia do período. O objetivo não é nada além de escrever um pouco mais sobre música no blog, apresentar algumas coisas diferentes e dar às pessoas a oportunidade de conhecer novos artistas e canções. As postagens são publicadas sempre no primeiro dia útil de cada mês, o que pode ou não coincidir com o dia 1º.

Agosto é um mês que tende a demorar para passar, provavelmente o mais demorado dentre todos. Sua extensão de 31 dias, aliada a ausência absoluta de feriados (exceto regionais), acaba causando esta impressão nas pessoas. Mas o deste ano passou rápido, ou ao menos mais rápido que os demais. E esta não é uma impressão exclusiva minha, já que vi muitas outras pessoas comentarem o mesmo por aí. No meu caso, especificamente, as últimas semanas foram marcadas por despedidas, reencontros, novidades e descobertas em meio a um mar de incertezas, dúvidas e tempo livre que veio a ser ocupado por cultura pop, especialmente música.

A música, na verdade, acabou por ser a maior constante em minha vida nestes últimos dias. E quando digo isso, é porque foi de fato A maior, seja em quantidade ou em qualidade. Este agosto me fez ultrapassar todos os limites que conhecia anteriormente e se tornou, com toda certeza, o mês em que mais consumi música em toda minha vida. Para se ter uma ideia, bati meu recorde anterior de canções escutadas em um único dia (94) seis vezes, com 99, 100 (duas vezes), 101, 102 e - e este é o mais absurdo de todos - 132. No total, foram 2.157 reproduções, incluindo 581 artistas, 933 álbuns e 1.639 faixas diferentes. E desta vez minha conta do last.fm não esteve com nenhum problema, ao contrário do que aconteceu em julho, então todos estes números são absolutos. A título de comparação, meu 2017 todo contou com o contato de 692 artistas, e chegar perto deste número em tão pouco tempo é assustador. Aliás, o número de scrobbles de 2018 já ultrapassou o do último ano logo no início de agosto, e só Deus sabe onde esta contagem vai parar faltando ainda quatro meses até o final do período.

Como não poderia deixar de ser, um mês como este me fez entrar em contato com uma vasta diversidade de materiais interessantes e, como de praxe, vale a pena falar de alguns deles em meus DESTAQUES DO MÊS, que podem ser conferidos a seguir.

ARTISTAS DO MÊS:

- Siouxsie and The Banshees: um dos principais nomes do cenário alternativo dos anos 1980 marcou forte presença durante o último mês graças a reiteradas audições de Tinderbox e Peepshow, dois de seus mais conhecidos (e melhores) trabalhos, que se comunicaram com meu estado de espírito recentemente de maneiras que jamais entenderei por completo.

- Eric Clapton: sempre estive ciente da genialidade de Clapton, mas seus trabalhos nunca haviam me fisgado da mesma forma que recentemente. Sou da teoria de que tudo tem sua hora na música, e fico feliz que tenha chego a hora de ser conquistado pelas fantásticas composições do guitarrista.

- Toto: o grupo continua sendo uma das principais presenças musicais em minha vida, de modo que tenho ouvido o clássico Toto IV quase semanalmente. Aproveitei o embalo para conferir também a estreia da banda, quase tão boa quanto seu maior sucesso (o que já diz muito).

- Steely Dan: entrei em contato com o primeiro trabalho do grupo, Can't Buy a Thrill, ao acaso e me vi obrigado a ouvir novamente seu sucessor, Countdown to Ecstasy. Vício instantâneo nessa que foi uma das bandas que mais quebrou paradigmas em sua época.

- Midnight Oil: o mês se iniciou com a audição de Blue Sky Mining, um dos principais trabalhos dos australianos, e foi o suficiente para me manter ancorado a ele até o último dos 31 dias.

ÁLBUNS DO MÊS:

- The Longshot - Love Is For Losers (2018): a mais nova empreitada de Billie Joe Armstrong, mais conhecido por ser vocalista e guitarrista do Green Day, é uma grata surpresa por seu viés simples, descompromissado e direto, entregando um Rock and Roll de qualidade e sem firulas, com direito até a cover de Ozzy Osbourne encerrando a tracklist.

- Lucifer - Lucifer II (2018): o segundo registro do trio que carrega o nome do anjo caído apresenta um Hard Rock com pegada setentista que conquista por sua abordagem moderna aliada a elementos clássicos, sendo envolto por uma aura de misticismo e ocultismo que só colaboram com sua força. Vale a pena conhecer.

- Fantastic Negrito - Please Don't Be Dead (2018): um dos mais interessantes trabalhos do ano, este artista, que parece ainda não ter caído nas graças do público brasileiro, apresenta uma mistura de Blues, Rock, Funk e Soul em um disco forte, mas acessível ao mesmo tempo. Preciso ouvir mais vezes, mas já é possível dizer que é candidato ao posto de Melhor Álbum do Ano, apesar da concorrência de peso.

- Alice In Chains - Rainier Fog (2018): o Alice In Chains amadureceu, e isso fica evidente em seu mais recente registro. Um dos principais nomes do Grunge durante os anos 1990, conseguiu se reerguer após a triste morte de Layne Staley com a chegada de William DuVall e hoje vem se mostrando novamente relevante para a cena, apresentando um álbum que se afasta um pouco de suas origens e se aproxima ainda mais do Metal, além de soar mais otimista do que tudo feito pela banda anteriormente. Interessante e repleto de qualidade, vale ser ouvido e reouvido.

- Vinnie Vincent Invasion - Vinnie Vincent Invasion (1986): o nome Vinnie Vincent soa desconhecido para muita gente, mas ele integrou o Kiss entre 1980 e 1984, durante o segundo auge do grupo, após revelarem as faces por trás das maquiagens ao mundo. Acabou seguindo uma breve carreira solo, ficou no anonimato por mais de 20 anos e só retornou aos holofotes recentemente. De qualquer forma, a estreia de seu projeto Invasion é mais do que um atestado de sua qualidade, com um Hard Rock conciso e avassalador (muitas vezes flertando com o Heavy Metal) que fideliza o ouvinte logo na primeira ouvida.

- Metallica - ...And Justice For All (1988): este clássico completou 30 anos no último dia 25 de agosto e injustiça seria se ele não estivesse presente na lista.

- Helloween - Keeper of the Seven Keys, Pt. II (1988): outro clássico que completou 30 anos no último mês, havendo aniversariado no dia 29. Helloween era uma força da natureza em seus primeiros trabalhos, em especial neste, em que qualquer música poderia ter se tornado um grande hit sem muitos esforços.

- Elton John - Too Low For Zero (1983): continuando minha jornada de descoberta dos trabalhos do artistas, resolvi conferir este consagrado álbum que alia os elementos clássicos da sonoridade de Elton ao estilo do Pop que dominou os anos 1980. De quebra, a ótima I Guess That's Why They Call It The Blues me pareceu uma ótima escolha pra encerrar a playlist deste mês.

FAIXAS DO MÊS:

- The Beatles - The End: minha faixa oficial sempre que algo chega a seu inevitável fim.

- Simple Minds - Don't You (Forget About Me): a música que fecha o clássico filme Clube dos Cinco tem uma letra autoexplicativa.

- Sepultura - Ratamahatta: uma antológica composição como esta nunca é demais na vida de ninguém.

- Limp Bizkit - Take a Look Around: não é segredo para ninguém que estive em contato com os filmes da franquia Missão: Impossível nas últimas semanas. Coloquei essa música como representação simbólica do dia em que conferi Efeito Fallout no cinema, apesar de ela ser trilha sonora do segundo longa da saga de Ethan Hunt.

- Queen feat. David Bowie - Under Pressure: é apenas uma das melhores músicas feitas na história. Então, por que não, certo?

Ouça abaixo a playlist feita durante agosto de 2018: