quarta-feira, 28 de março de 2018

O sucesso de "Pantera Negra" é a vitória da representatividade


Pantera Negra é um sucesso. Você já deve saber disso se acompanhou as notícias das últimas semanas. O mais novo filme da Marvel Studios vem quebrando diversos recordes de bilheteria, levando milhares de pessoas ao redor do mundo a encherem salas de cinema. Também é um dos principais destaques da história do agregador Rotten Tomatoes, sendo o longa com o maior número de críticas positivas até o momento. E essa recepção acalorada do público e da mídia especializada vem para silenciar um dos argumentos mais falaciosos que já apareceram em discussões sobre cultura pop nos últimos anos: que representatividade e diversidade não vendem.

É nítido o impacto da adaptação para a população negra ao redor do mundo. Através de notícias e postagens em redes sociais, é possível ver aqueles que assistiram ao filme abraçarem a cultura e o afrofuturismo da nação fictícia de Wakanda, seja através da saudação feita pelos personagens ou pelo lema "Wakanda Forever". E apesar de ainda não haver números absolutos de bilheteria, é possível estimar que o longa mobilizou mais pessoas negras que o usual. Segundo levantado durante o episódio do podcast Confins do Universo dedicado a Pantera Negra, cerca de 38% daqueles que compraram ingressos em pré-venda são negros, porcentual muito mais expressivo que a média para produções do gênero. Se tal número se manteve durante a venda normal, ou até mesmo aumentou, o objetivo de se comunicar com aqueles que representa em tela foi cumprido com louvor.

Ainda mais importante que isso tudo, porém, é ver o aspecto social que a obra trouxe a tona. Não foram poucas as campanhas visando a arrecadação de fundos para levar crianças ao cinema para verem Pantera Negra, seja nos Estados Unidos ou aqui mesmo no Brasil, com destaque às iniciativas do Load Comics, da Estéfany Rocha, da Vitória Sant'Anna Silva e do artista Rafael Albuquerque. Imagens de garotos e garotas se identificando com o que viram após saírem de uma sessão do longa também rodaram a internet, e histórias como a do jovem que resolveu voltar a estudar após assistir ao filme só mostram que estamos diante de um fenômeno não apenas cinematográfico, mas também cultural.

No último ano, Mulher-Maravilha abalou a indústria do cinema ao mostrar mostrar que um filme repleto de representatividade feminina poderia ser um sucesso de crítica e arrecadação. Em 2018, o bastão da representatividade foi passado com louvor para Pantera Negra, que segue marchando para se tornar um dos maiores longas de todos os tempos, seja através de sua bilheteria, sua recepção pela crítica ou o impacto cultural que sua apresentação da cultura africana nas telas proporcionou, além dos fantásticos personagens que introduziu ao Universo Cinematográfico Marvel. Motivos não faltam para que o povo negro ao redor do globo possa dizer "Wakanda Forever" com um sorriso no rosto.

quinta-feira, 1 de março de 2018

BALANÇO MUSICAL - Fevereiro de 2018


Olá! Seja bem-vindo ao meu projeto Balanço Musical, uma coluna mensal na qual falo sobre música, o que escutei no mês que se passou, o porquê das escolhas, o que me influenciou nesses dias, e publico uma playlist com uma faixa referente a cada dia do período. O objetivo não é nada além de escrever um pouco mais sobre música no blog, apresentar algumas coisas diferentes e dar às pessoas a oportunidade de conhecer novos artistas e canções. As postagens são publicadas sempre no primeiro dia útil de cada mês, o que pode ou não coincidir com o dia 1º .

Dando continuidade ao que tornei uma tradição pessoal nos últimos dois anos, fevereiro se tornou o mês em que eu cumpro o desafio de, a cada dia, ouvir um álbum que eu não conhecia antes. Musicalmente saudável e enriquecedor, é um período o qual reservo exclusivamente para descobrir novos artistas, conferir alguns clássicos que passaram despercebidos nesses anos e corrigir certas injustiças com alguns dos meus artistas favoritos. O resultado é sempre positivo e, das últimas vezes, acabou pautando boa parte do que escutei pelo resto do ano.

E como numa louca continuação de janeiro, fevereiro também foi um mês intenso. Muita coisa importante acontecendo ao mesmo tempo, muitas decisões a serem tomadas, muitas novidades, mudanças de rotina e, como não poderia deixar de ser, problemas, o que culminou em muito estresse (e nem mesmo o Carnaval foi suficiente para aliviar a sensação). Isso tudo só aumentou o valor do desafio, porém, como uma forma de espairecer, de distrair a cabeça de tudo o que é cercado pelo cotidiano e relaxar corpo e mente, ou seja, tornou ele terapêutico. Aliado às boas descobertas que fiz, acabou por ser ainda mais prazeroso que o usual.

No que diz respeito a números, fevereiro pode ser o mês mais curto de nosso calendário, mas acabou por ser um dos que mais ouvi música. Segundo meu last.fm, foram 941 faixas executadas nos últimos 28 dias, perdendo apenas para dezembro (982) e maio (1.026) do último ano. Fosse como os demais meses do ano, eu facilmente teria superado meu recorde caso houvesse mantido minha média diária de scrobbles (32). Muito disso é devido ao desafio, claro, mas também é um reflexo do quão complicado foi o período, já que tendo a escutar mais músicas quando preciso me concentrar ou descansar.

Assim como em 2017, a playlist de fevereiro é formada inteiramente por canções que fazem parte dos discos "inéditos para mim" que escutei. A diferença para as tentativas anteriores é que desta vez não repeti artistas, diversificando mais minhas escolhas e tornando muito mais vasta a gama de sonoridades. Outra novidade é que, em um ato de sandice de minha parte, achei que seria uma boa ideia escrever brevemente sobre cada um dos álbuns ouvidos. O resultado pode ser conferido logo a seguir.

- The Night Flight Orchestra - Internal Affairs: uma ótima estreia do grupo, já calcada no Hard Rock e AOR que pavimentaram o caminho para seu melhor e mais recente trabalho.

- Talking Heads - Talking Heads '77: um clássico absoluto, muito diversificado e repleto de experimentações.

- Blondie - Best of Blondie: sei que há quem seja contra coletâneas, mas esta é uma que merece atenção. Petardo atrás de petardo, o disco foi lançado durante o auge da banda e é uma ótima pedida para um primeiro contato.

- Killing Joke - Laugh? I Nearly Bought One!: outra compilação, mas com resultado abaixo da anterior. Queria conhecer mais do som do Killing Joke, mas infelizmente foram poucas as músicas que agradaram. Talvez seja mais recomendado conhecê-los direto por um álbum.

- Black Label Society - The Blessed Hellride: tido por muitos como o melhor trabalho do grupo encabeçado por Zakk Wylde, o trabalho mistura Metal e Southern Rock com êxito e é marcante até o último segundo.

- The Cranberries - Bury The Hatchet: um bom CD do Cranberries que tem suas escorregadas, mas entrega um resultado positivo e algumas canções contagiantes como Desperate Andy.

- Dan Auerbach - Waiting on a Song: enquanto o Black Keys segue com suas atividades suspensas, uma boa pedida é conferir este álbum do vocalista e guitarrista do grupo, que se afasta um pouco do blues, mas continua sabendo mesclar o Rock a uma sonoridade mais Pop como poucos.

- Trivium - Shogun: um brilhante trabalho do Trivium que equilibra com perfeição agressividade e melodia, dando uma aula de como se fazer um disco de Metal moderno.

- MGMT - Little Dark Age: lançado no último mês, o novo registro de inéditas do MGMT é divertido e viciante, ao mesmo tempo que foge de algumas convenções e se arrisca.

- Siouxsie and the Banshees - Peepshow: merece o título de sucessor do excelente Tinderbox, prosseguindo com a sonoridade pouco conveniente do grupo e ao mesmo tempo emplacando grandes canções.

- The Cult - Ceremony: segue a linha dos lançamentos anteriores do Cult, mas o estilo já começava a dar alguns sinais de fadiga. Uma audição muito agradável e recomendada, ainda assim.

- Camel - Mirage: eis uma banda de Rock Progressivo que merecia ter recebido mais destaque em sua época. A evolução das músicas dentro de suas longas durações é incrível. Prato cheio para os fãs do gênero.

- Living Colour - Shade: o mais recente trabalho do Living Colour acabou passando despercebido pelo meu radar no último ano, o que é uma pena, pois certamente teria entrado nas listas de melhores.

- Venom - Black Metal: nunca havia ouvido este clássico pois não o achava em uma qualidade sonora satisfatória pela internet. Felizmente veio esta versão remasterizada e finalmente pude conferir um grande disco que deixei passar em branco por anos.

- Frank Carter & The Rattlesnakes - Modern Ruin: o segundo trabalho do grupo surpreende por sua acessibilidade dentro do Hardcore (que aqui mais soa como Hard Rock). Este é um nome para se ficar de olho nos próximos anos.

- Joe Satriani - What Happens Next: o mais novo disco de Joe Satriani é não apenas um dos melhores de sua carreira, mas também um dos melhores do Rock Instrumental. Ponto.

- Kendrick Lamar - Black Panther The Album Music From And Inspired By: a trilha sonora do mais recente longa da Marvel Studios teve a curadoria de Kendrick Lamar, em colaboração a diversos outros artistas, e agradou até mesmo a mim, que não muito chegado em Rap. E isso quer dizer muito sobre sua qualidade.

- Temple Of The Dog - Temple Of The Dog: o único CD deste supergrupo do Grunge faz jus à sua fama, impressionando pela qualidade de suas composições.

- KISS - Creatures of the Night: provavelmente o disco do quarteto que mais flerta com o Metal, apresentando um KISS agressivo, pesado e técnico. Injustiçado à época, dá para dizer que hoje é um clássico cult.

- Bruce Springsteen - Devils and Dust: um belíssimo trabalho do "The Boss", que não tem medo de mostrar suas influências de Country e até mesmo Gospel mescladas a um Rock da melhor qualidade.

- The Verve - Urban Hymns: lembra muito Oasis, mas tem sua identidade própria, trazendo a tona um pouco do melhor que o Britpop tinha para oferecer.

- Machine Head - Through The Ashes of Empires: o Machine Head é uma das minhas bandas favoritas desde que os conheci, mas confesso que até hoje não ouvi toda a discografia dos caras. Este era um dos que me faltava escutar, e a experiência foi similar a de Catharsis, devido à transição entre o Nu Metal e a sonoridade que viria a marcar os três álbuns que sucederiam Through The Ashes of Empires.

- Alice Cooper - Billion Dollar Babies: outro clássico que deveria ser obrigatório, este álbum parece até uma coletânea, tamanha a qualidade das músicas.

- LCD Soundsystem - american dream: o álbum que faturou o primeiro lugar em muitas listas de melhores de 2017 tem uma inegável qualidade, mas acabou por não me agradar em uma primeira ouvida. Talvez eu o compreenda melhor caso dedique mais tempo a ele. Ou então é superestimado mesmo.

- The Cure - Disintegration: queria conhecer mais de The Cure ouvindo um disco completo deles e resolvi começar pelo dito melhor deles. Não foi a melhor das ideias, uma vez que a sonoridade apresentada é densa e repleta de experimentações. Pouco acessível, acredito que hajam opções melhores para se familiarizar o grupo além do óbvio.

- Pond - The Weather: um muito interessante registro que mistura o som oitentista ao Rock Progressivo com qualidade e deixa o ouvinte satisfeito com o resultado final.

- Zakk Wylde - Book of Shadows: provavelmente o meu favorito do mês, o primeiro CD solo mostra uma outra faceta do guitarrista, voltada para o Southern Rock e executada com um primor que pouco se vê.

- Tin Machine - Tin Machine: fechando fevereiro, o projeto de David Bowie voltado para o Hard Rock, do qual eu não tinha conhecimento até poucos dias atrás. A proposta é pouco convencional, mas o resultado é bem interessante, aliando a sonoridade típica do gênero a algumas experimentações que em muito lembram obras do vocalista como Aladdin Sane ou Station to Station.

Depois de todas estas análises, confira a playlist de fevereiro de 2018, que contém um representante para cada um dos álbuns vistos acima: