segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

[RESENHA] "La La Land - Cantando Estações" (2016)


Foi em 2014 que o diretor Damien Chazelle se destacou para crítica e público pela primeira vez, com o lançamento de Whiplash - Em Busca da Perfeição. Como uma espécie de carta de amor aos clássicos do Jazz e relato pessoal, o filme trata da perseguição do sonho de ser o melhor, chegar ao limite e um dia poder ter seu nome no panteão das lendas, mesmo que isso signifique abrir mão de sua vida social, se humilhar e ser humilhado. Não são poucos os questionamentos referentes ao estilo nada convencional de ensino do rígido professor Fletcher ou a tudo que Andrew Neimann se submete, em uma trama intensa e passível de muitas reflexões. O longa se tornou meu favorito daquela temporada de premiações, seja por sua história, direção, atuações ou trilha sonora, e acabou indicado a 5 categorias do Oscar, vencendo em três delas.

La La Land - Cantando Estações, sua segunda grande obra, segue essa mesma temática de busca pelos sonhos e ideais, mas com outra roupagem: a agressividade e o peso de Whiplash dão lugar à leveza e empatia na trajetória de Mia e Sebastian, os dois protagonistas que compartilham com Andrew Neimann a devoção por seus ídolos e a pretensão de um dia poder compartilhar a história com eles. A paixão do diretor por música também se faz presente e cumpre papel fundamental, já que esse é um musical.

A jornada rumo ao estrelato nos apresenta a Mia Dolan, aspirante a atriz que trabalha em uma cafeteria dentro da Warner Bros., e Sebastian, pianista que quer salvar o Jazz clássico e abrir um bar dedicado ao estilo, no qual ele poderia tocar sempre que quisesse. Todo o envolvimento entre os dois é construído de modo a contrastar a procura por seus objetivos, muito diferentes em suas próprias definições, com o bem que fazem um para o outro, toda a evolução deles como artistas, criadores e seres humanos graças ao relacionamento. O desenvolvimento do casal ganha ainda mais força graças à química e as performances de Ryan Gosling e Emma Stone, que se mostra a grande dona do longa devido a serenidade e carisma apresentados em tela.

Não há do que reclamar dos aspectos técnicos. A direção de Chazelle funciona, faz os atores entregarem o melhor de si. Os ângulos, cortes de filmagem e a paleta de cores ressaltam o melhor das localizações escolhidas e conseguem passar toda a suposta magia que Hollywood possui para os jovens sonhadores. Os (poucos) planos-sequência existentes conseguem se encaixar no contexto em que aparecem e colaboram para a imersão do espectador. As coreografias são bem ensaiadas e executadas com perfeição, com o diretor mostrando que tem grande domínio tanto em números de grande proporção - como é o caso da abertura - quanto em momentos mais contidos.

O lindo poster IMAX de La La Land - Cantando Estações.

O quesito música é o que mais se destaca. Impecável, a trilha de Justin Hurwitz nos apresenta a uma gama de composições que consegue equilibrar a tendência espalhafatosa das clássicas produções hollywoodianas com canções mais simplistas, beirando o intimismo. Esse é um dos trunfos de La La Land: fugir do convencional das produções musicais. Embora tenha seus momentos espelhados nos grandes clássicos (especialmente no começo), em determinado ponto o filme se distancia dessa abordagem e passa a fazer algo próprio, com mais apelo à audiência atual. Há de se destacar, ainda, o desempenho do elenco na parte vocal, especialmente Ryan Gosling e Emma Stone, atores com menor envolvimento musical na carreira, mas que se dedicaram, trabalharam suas vozes e entregaram bom resultado.

O que mais agrada no longa, porém, é a felicidade que ele pode te proporcionar. E nisso ele funciona muito bem para qualquer público: enquanto os mais leigos se contentarão com a bela história de amor e a perseguição de objetivos, os mais envolvidos com a sétima arte perceberão as nuances, possíveis discussões a serem levantadas e a beleza que envolve tudo isso. O que importa de fato é o respiro de ar fresco que a obra oferece, pois, em um mundo cada vez mais tenso, que valoriza a mediocridade da vida comum e condena os sonhadores, é impossível não chegar a sequer esboçar um sorriso com a trama apresentada.

Muito tem se comentado sobre as 14 indicações ao Oscar que La La Land - Cantando Estações recebeu, e se elas são por mérito próprio ou por toda a homenagem feita à Era de Ouro de Hollywood. Mas, no fim, isso não tem importância alguma. O fato é que o filme é belo, comove, alegra, Emma Stone encanta e a trilha sonora se sobressai. Indicado ou não, Damien Chazelle faria história de qualquer jeito, e seu nome, assim como seus personagens almejam, vai chegando cada vez mais próximo do panteão dos grandes do cinema.

TRAILER:



TRILHA SONORA:

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Há esperança para o filme dos Power Rangers? (+ Logan)


Na quinta-feira passada (19/01), foram lançados os aguardados trailers de Logan e Power Rangers. E eu poderia fazer desse um texto sobre Logan, dizendo o quanto o trailer me agradou, o quão boa é a ação, fotografia, trilha sonora, a X-23 criança e que o filme promete, mas sempre há aquele receio que dê errado etc. Só que essa seria basicamente a mesma nota de opinião que todos os outros sites já soltaram, então não há motivo ou desafio para fazer o mesmo que já foi incansavelmente repetido e já é lugar comum entre os fãs.

Com Power Rangers, a história é outra. A franquia que marcou a infância de todos que foram crianças durante os anos 1990 será adaptada para as telas, e isso gerou desconfiança em muita gente. A série sempre foi famosa por sua extravagância e tosquice, e a direção que o longa aparentava tomar, de algo mais sombrio e realista, não despertou o interesse esperado. O primeiro trailer, lançado no ano passado, também ficou aquém das expectativas, com um tom indeciso e confuso, e que não mostrava nada que importasse ou chegasse a empolgar.

O novo vídeo, porém, foi o exato oposto do anterior. Diversão e humor marcaram a prévia, que contou com os Rangers devidamente trajados, o Zordon feito por Bryan Cranston, o robô Alpha 5, Rita Repulsa, monstro gigante, os Dinozords e o primeiro vislumbre do Megazord, que não será mais uma simples fusão montável dos outros robôs gigantes. A origem dos heróis ainda parece ter um quê de Poder Sem Limites, mas todo o resto parece ser feito com certa irreverência e respeito ao material original. Alguns dos momentos que mais saltaram aos olhos, inclusive, foram as pequenas referências à série clássica, como uma certa piada e a "aterrissagem super-heroica" antes do início de uma luta.

A impressão que o trailer passou é positiva. Os Power Rangers, apesar de serem conhecidos pela galhofa, tem uma mitologia vasta e interessante, e uma atualização disso tudo sem deixar de lado as raízes pode dar certo, divertindo o público e trazendo a tona uma nostalgia para todos os garotos que discutiam quem seria o Ranger Vermelho e as garotas que queriam ser a Ranger Rosa na hora do recreio. Ainda há esperanças para esse filme, o qual eu não estava interessado no início, mas que agora despertou minha curiosidade a ponto de me fazer considerar assisti-lo no cinema.

Power Rangers chega às salas brasileiras em 23 de março, enquanto Logan será lançado no dia 2 do mesmo mês. Abaixo, os trailers de ambos os longas.





Só queria deixar essa imagem da X-23 totalmente badass para encerrar o post mesmo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

"The Last Jedi", logotipo vermelho e o que isso significa para Star Wars - Episódio VIII


A internet parou na tarde de ontem (23/01) quando finalmente foi divulgado o título oficial de Star Wars - Episódio VIII. A sequência de O Despertar da Força se chamará The Last Jedi, sem uma tradução oficial para o português ainda, mas que, como notado pelos fãs, pode acabar se tornando "O Último Jedi", "A Última Jedi" ou "Os Últimos Jedi" aqui no Brasil. Tudo depende da direção que o filme tomar, mas o nome pode acabar entregando parte da trama.

Enquanto muitos constatam o óbvio e dão certeza que o referido Jedi é Luke Skywalker (que, de fato, é o último Jedi conhecido desde O Retorno de Jedi), outros já acham que Rey seja a tal Jedi, e outros já vão mais longe dizendo que se trata de Luke e Rey ao mesmo tempo, ou até Kylo Ren entrando nessa soma. Meu palpite é de que o filme acabará se chamando "Os Últimos Jedi", mas algo me diz que tem muito mais nessa história e que a referência irá além dos protagonistas... Vale lembrar que, ao que tudo indica, Luke Skywalker estava procurando pelo Primeiro Templo Jedi enquanto dado como desaparecido, então talvez isso possa se referir a alguma profecia ou a algum trecho histórico sobre a Ordem Jedi.

Outro detalhe que saltou aos olhos de todos é a cor do logotipo. Ao contrário de O Despertar da Força, que usou o clássico amarelo, The Last Jedi se destaca por usar o vermelho. Apenas dois outros filmes da franquia utilizaram tal tom em seus logos: A Vingança dos Sith e O Retorno de Jedi. Além de serem os terceiros de suas respectivas trilogias, ambos tem em comum a forte presença do Lado Sombrio e seu embate com a Luz em suas tramas. Se o novo longa seguir o mesmo caminho, fica claro que os treinamentos de Kylo Ren e Rey, bem como um novo confronto entre os dois, serão parte fundamental de sua história. Já é confirmado que Luke Skywalker também terá grande participação na trama, então espera-se que o mesmo se aplique ao Líder Supremo Snoke.

Uma coisa é certa, porém: a divulgação do título é sinal de que está oficialmente aberta a temporada de divulgação do novo Star Wars. O que significa que muito em breve um trailer deva ser lançado. A previsão mais otimista é que ele saia ainda nessa quinta-feira (26/01), enquanto a mais pessimista é que ele só veja a luz do dia em março, aproveitando os grandes lançamentos do mês, ou no fim de abril, junto com Guardiões da Galáxia Vol. 2. Mas vale lembrar que o Superbowl está chegando, e talvez vejamos um vídeo de 1 minuto no dia 5 de fevereiro...

Por hora, só nos resta aguardar, especular e torcer para que o dia 14 de dezembro de 2017 não esteja tão longe quanto parece.

Os três filmes de Star Wars com logotipo vermelho. Significa algo? Certamente não foi a toa.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O Batman de Tom King me deixa desconfortável

Não, não esse Batman do Tom King...

Sou familiarizado com o Batman. Quando criança, assistia religiosamente a Batman - A Série Animada, brincava com os bonecos e ocasionalmente me fantasiava como o Morcego para fingir que estava combatendo o crime. Quando adolescente, fui marcado pelos longas da trilogia O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan e pelos dois primeiros títulos da série de games Batman: Arkham. Mais recentemente, como jovem adulto, passei a me dedicar mais aos quadrinhos do herói, tanto aos clássicos quanto a fases mais recentes. Ele sempre esteve, de alguma forma, presente em minha vida, me entretendo em muitos momentos e me ajudando em outros, se tornando um de meus personagens favoritos de toda a cultura pop.

Com o advento do DC Universe Rebirth, que zerou a numeração da maior parte das HQs da DC e iniciou novas fases com novas equipes criativas, passei a acompanhar, entre muitos outros, o título do Batman, agora publicado em periodicidade quinzenal. E devo confessar que a leitura das histórias tem me deixado desconfortável em certos momentos.

No bom sentido, é claro.

 O roteirista Tom King publicou três ótimos arcos até agora, sendo eles I Am Gotham, I Am Suicide e o breve Rooftops, de apenas duas edições e que mais funciona como um epílogo do segundo. Com narrativa limpa e fluída, o escritor não poupa esforços para contar épicos, ao mesmo tempo que consegue fazer uso de figuras esquecidas da vasta galeria de vilões do Homem-Morcego e prestar sua homenagem a alguns icônicos momentos da história do herói.

O Detetive e seu próprio Esquadrão Suicida, formado pela Mulher-Gato, Ventríloquo, Punch e Jewelee, e o Tigre de Bronze. Arte da capa de "Batman" #10, por Mikel Janín.

O desconforto reside, porém, no tratamento dado ao desenvolvimento dos personagens. King sabe caracterizá-los da mesma forma que um maestro conduz sua orquestra, mas os trabalha de uma forma pouco convencional, beirando o intimismo. Sua personalidades são dissecadas, suas falhas são expostas e a humanidade de cada um deles chega a ser palpável.

Não são poucos os momentos em que isso ocorre: em I Am Gotham, temos o Batman reconhecendo suas limitações como ser humano e se solidarizando pela trágica perda de alguém, assim como um dia aconteceu com ele. No segundo arco, I Am Suicide, vemos Bruce e Selina Kyle se abrindo um para o outro, expondo as dificuldades que enfrentaram na vida, mostrando como elas os tornaram quem são e o porquê de isso fazer com que eles entendam um ao outro. E em Rooftops, observamos de modo quase invasivo todas as nuances do disfuncional relacionamento da Mulher-Gato com o Cavaleiro das Trevas, e como, a seu louco modo, ele funciona.

Tudo isso feito com sutileza e elegância, sem desvirtuar o tom das histórias e transformá-las em algo pesado, depressivo, ou, ainda pior, cínico e pseudo-realista. Tom King escreve o Batman do jeito que ele deve ser, mas também analisa toda a psique do herói e aqueles que o cercam, sem um tom crítico ou irônico, mas de um modo honesto e honroso que chega até a ser belo de ser lido.

O Morcego e a Gata na capa de "Batman" #15, por Mitch Gerads.

A estranheza talvez esteja no fato de que não estou acostumado a ver personagens como esse escritos dessa forma. Super-heróis, principalmente os da DC, tem algo de mítico em sua própria existência, como se fossem parte de um panteão de deuses. Então, não é comum vê-los de uma forma tão falha, humana como vemos aqui. Provavelmente esse é justamente o objetivo do escritor: tirar o leitor da zona de conforto e apresentar algo novo, ao mesmo tempo que conta boas histórias. E deve ser por isso que vejo muita gente reclamando da atual fase, acostumados com a abordagem menos ousada apresentada nas histórias de Scott Snyder e Greg Capullo, por mais que essa run tenha seus próprios, mas diferentes, méritos.

Esse tipo de abordagem não é incomum para King: outras de suas obras, como as elogiadas Visão e Sheriff of Babylon, também trazem esse aspecto psicológico de seus personagens. Mas o que ele vem fazendo em Batman nos ajuda a compreender e se aproximar desses ícones tão famosos de um modo que poucos roteiristas conseguiram, ao mesmo tempo que consegue prestar suas homenagens, revitalizar muitos aspectos e, acima de tudo, contar grandes histórias. E é isso que faz desse um dos títulos essenciais da DC no momento.

Desconforto nem sempre é sinônimo de algo ruim. As vezes é bom sentir-se desconfortável se for para sair do lugar comum. É isso que Tom King vem fazendo com o Batman, e eu espero que ele continue assim até o fim de sua estadia como roteirista do personagem.

Breve, em "Batman" #16... (arte por David Finch)