sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

É HORA DOS MELHORES (discos) DO ANO, GALERA!!! (Top 21 + Extras!)


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SIM! Mais um ano, e mais um Top Álbuns do Ano aqui no Ground Zero! A tradicional lista está de volta, para alegria de muitos, e dessa vez está ainda maior e cheia de extras! Se no ano passado eu listei 15 álbuns, em 2016 serão 21! E bônus, como as menções honrosas de 2015 e o retorno da decepção do ano, com em 2014! E playlist com as melhores músicas do ano! OK, já deu para perceber que eu estou empolgado, então chega de exclamações. Os melhores do ano vem crescendo a cada edição, e eu só quero tornar essa experiência cada vez mais divertida, tanto para mim quanto para vocês. Música nunca é demais, afinal.

Todos sabemos que esse ano não foi fácil, sendo lotado de perdas de figuras importantes, acontecimentos impactantes ou trágicos e um cenário cada vez mais estranho, em que poucas coisas parecem fazer algum sentido. Felizmente, seguindo a risca de seus antecessores, 2016 foi um ano com muita música boa, para nos confortar e dar forças nas horas mais difíceis e confusas. Qualidade não faltou nos principais lançamentos do ano, como vocês podem conferir a seguir.

TOP 21

#21: THE CULT - "HIDDEN CITY"


Os melhores álbuns do The Cult já foram feitos. Isso não significa que a banda seja ruim hoje, pelo contrário: continuam fazendo boa música, como é o caso de "Hidden City", um álbum que preza pelo Rock bem executado e que explora diversas nuances em sua sonoridade. Talvez não seja o mais recomendado para conhecer os britânicos (ouçam "Love", "Electric" e "Sonic Temple"), mas vale a conferida.

#20: KAISER CHIEFS - "STAY TOGETHER"


Um divertido lançamento do grupo, que se distancia do Rock que o consagrou e adota um estilo bem mais Pop. Dançante e cheio de ritmo, chega a perder um pouco de força no final, mas o saldo ainda é positivo.

#19: WHITE LIES - "FRIENDS"


Outra banda que se distancia de suas origens, o White Lies aqui soa como uma espécie de casamento entre U2 e New Order, com um Pop Rock repleto de sintetizadores digno das bandas de sucesso da década de 1980. Um CD que não chega a superar o excelente "To Lose My Life" de 2009, mas com qualidade o suficiente para deixar seus demais antecessores para trás com folga.

#18: RED HOT CHILI PEPPERS - "THE GETAWAY"


O RHCP nos trouxe um de seus trabalhos mais maduros nesse ano, sem deixar o Funk Rock que os consagrou de lado. Perdeu um pouco da graça do passado e não apresenta a mesma criatividade dos tempos de John Frusciante como guitarrista, mas tem qualidades o suficiente para satisfazer fãs e o público geral.

#17: GRAND MAGUS - "SWORD SONGS"


Dando sequência ao trabalho anterior, "Triumph and Power", o Grand Magus continua sendo o melhor expoente do "True Metal" na atualidade, com canções diretas que não buscam reinventar a roda, mas esbanjam qualidade. Evoluindo sua sonoridade, que aqui se apresenta um pouco mais rápida e agressiva, "Sword Songs" é um petardo pra nenhum fã de Metal Tradicional botar defeito. E ainda conta com um ótimo cover de "Stormbringer", do Deep Purple.

#16: BLUE PILLS - "LADY IN GOLD"


O segundo lançamento Blue Pills prossegue com o que foi feito em seu trabalho de estreia, com seu Hard Rock influenciado por Blues sendo refinado e Erin Larsson mais uma vez mostrando toda sua potência vocal. Um pouco mais burocrático que o anterior, mas ainda assim muito agradável e vale a audição dessa que é mais uma excelente banda que emula a sonoridade setentista.

#15: SPIRITUAL BEGGARS - "SUNRISE TO SUNDOWN"


Outro que tem um som mais voltado para o Rock dos anos 1970, o Spiritual Beggars é na verdade um projeto paralelo de músicos do Arch Enemy, mas que já tem tantos anos e trabalhos lançados que é, no fim das contas, uma banda própria. "Sunrise to Sundown", seu último play, tem muito êxito em equilibrar peso, psicodelia e melodia em um trabalho que não fica devendo nada para as melhores bandas de Hard Rock da época, chegando até a lembrar os tempos áureos do Deep Purple em certos momentos.

#14: GREEN DAY - "REVOLUTION RADIO"


Após o lançamento de “American Idiot” em 2004, o Green Day veio apresentando uma queda na qualidade de seu som, representada em seu máximo pela lastimável trilogia “Uno”, “Dos” e “Tré”. Felizmente, a banda parece ter se reencontrado em “Revolution Radio”, apostando no básico, resgatando um pouco de suas raízes e surpreendendo com um CD cheio de energia e muito mais inspirado que os anteriores.

#13: DREAM THEATER - "THE ASTONISHING"


Com 2h10min de duração, o Dream Theater entregou um álbum que consegue ser um de seus mais simples e mais complexos ao mesmo tempo. Apesar de nenhuma canção ultrapassar 10 minutos, são 34 faixas que tratam de uma história sobre um futuro distópico e que abordam temas como música, a vida, política e recomeços. É um pouco cansativo ouvir um mesmo CD por tanto tempo, mas “The Astonishing” consegue ser uma experiência recompensadora, com o grupo mostrando toda sua versatilidade nas composições.

#12: THE ROLLING STONES - "BLUE & LONESOME"


Com seus integrantes já septuagenários, o Rolling Stones resolveu gravar um disco de Blues, reinterpretando clássicos do gênero. Curiosamente, é em "Blue & Lonesome" que os músicos soam mais vivos desde muito tempo, executando versões de qualidade das canções escolhidas, demonstrando muita afinidade e apreciação pelo estilo e, por incrível que pareça, demonstrando muita energia. No papel, não poderia dar errado, e o resultado final só veio para comprovar a teoria.

#11: INA FORSMAN - "INA FORSMAN"


Uma belíssima voz, uma banda competente e ótimas composições embalam a estreia dessa cantora finlandesa, calcada no Blues e no Soul e que em muitos momentos lembra a falecida Amy Winehouse, mas com uma aura mais alegre e alto astral. Um grande registro de uma artista que muito pode vir a surpreender nos próximos anos.

#10: AVENGED SEVENFOLD - "THE STAGE"


Após o mediano “Hail to the King”, o grupo retorna com ideias renovadas, um novo baterista e uma nova guinada em seu estilo. “The Stage” é um álbum maduro, pesado, agressivo, cheio de peso e muitos temas interessantes, elevando o Avenged Sevenfold a um novo patamar. O melhor deles ao lado de “Nightmare” e “City of Evil”.

#9: OPETH - "SORCERESS"




Mais um excelente resultado dos suecos desde a drástica mudança em seu estilo, “Sorceress” mantém o que a banda apresentou em seus últimos dois discos, com a sonoridade claramente inspirada no Hard Rock setentista e que se permite arriscar com mais peso e muita influência do Progressivo. Um belíssimo trabalho, que deixa ainda mais clara toda a qualidade desse que é um dos maiores nomes das últimas duas décadas.

#8: MEGADETH - "DYSTOPIA"


O Megadeth vinha seguindo uma sequência de bons lançamentos com desde “The System Has Failed”, de 2004, até “TH1RT3EN”, de 2011. Aí, em 2013, “SuperCollider” infelizmente aconteceu. No ano seguinte, Chris Broderick e Shawn Drover anunciaram suas saídas da banda. Então, Dave Mustaine convocou Chris Adler para as baquetas e o brasileiro Kiko Loureiro como guitarrista, e gravou “Dystopia”, um álbum avassalador e que segue o caminho de trabalhos mais recentes como “United Abominations” e “Endgame”. A criatividade de Loureiro se faz sentir, com arranjos exóticos que resultam em excelentes solos. Um retorno do grupo à sua melhor forma.

#7: IGGY POP - "POST POP DEPRESSION"


A parceria de um ícone da música como Iggy Pop com o trio Matt Helders (baterista do Arctic Monkeys), Dan Fertita e Josh Homme (ambos do Queens of the Stone Age) felizmente não desapontou, e “Post Pop Depression” é divertido, criativo e um tanto bizarro, do jeito que deveria ser. Composições como “Break Into Your Heart”, “Gardenia”, “American Valhalla”, “In The Lobby”, “Vulture”, “German Days” e “Paraguay” falam por si só sobre a inegável qualidade do play.

#6: TEDESCHI TRUCKS BAND - "LET ME GET BY"


Um disco tão belo e gostoso de se ouvir que deve agradar a qualquer um que se diga apreciador de música. Uma mistura de Rock com Southern, Funk, Soul e Blues que funciona muito bem e faz de “Let Me Get By” um trabalho único, criativo e que em alguns momentos chega até ser tocante. Susan Tedeschi e seu marido Derek Trucks colocam toda sua afinidade e qualidade nesse que é o ponto mais alto da carreira de seu grupo até o momento.

#5: RIVAL SONS - "HOLLOW BONES"


O quinto álbum da carreira dessa banda californiana consegue ser um de seus mais distintos e mais prazerosos de se ouvir. O Rival Sons não abandonou o estilo que o consagrou, mas vem adicionando muitas influências ao seu som e, aliado ao pico de criatividade pelo qual vem passando seus integrantes, faz de “Hollow Bones” uma das melhores experiências que o Rock tem a oferecer em 2016.

#4: NORAH JONES - "DAY BREAKS"


Norah Jones retorna com mais um belíssimo trabalho de Jazz, mostrando ao mundo mais uma vez sua força como um dos melhores e mais importantes nomes do gênero. Qualidade e versatilidade andam de mãos dadas em “Day Breaks”, que consegue alcançar tanto os apreciadores de longa data quanto o público leigo.

#3: THE LAST SHADOW PUPPETS - "EVERYTHING YOU'VE COME TO EXPECT"


A dupla Alex Turner e Miles Kane uniu esforços novamente após 8 anos e entregou esse que é provavelmente o álbum mais subestimado de 2016. Com composições afiadíssimas e contagiantes, “Everything You’ve Come to Expect” vicia desde a primeira audição, com um estilo único e marcante que faz dele um dos melhores trabalhos do ano.

#2: METALLICA - "HARDWIRED...TO SELF-DESTRUCT"


Como escrevi em minha resenha, o Metallica está soando solto e honesto em “Hardwired...To Self-Destruct”, e é isso que faz dele um grande álbum. Composições pesadas, criativas e variadas deixam o trabalho extremamente prazeroso e provam por que eles são o maior grupo de Metal da atualidade.

#1: DAVID BOWIE - "BLACKSTAR"


Já era um excelente álbum em seu lançamento, e se tornou ainda mais especial após o falecimento do artista dois dias depois. “Blackstar” fecha a discografia de uma das mentes mais criativas da história da música quebrando todos os paradigmas de sua carreira, soando distinto de seus demais trabalhos com uma combinação de Jazz, Pop, R&B e Rock. Um belíssimo disco do início ao fim, marcando a despedida de Bowie deste plano. Obrigado por tudo, David.

MENÇÕES HONROSAS

GHOST - "POPESTAR"


O Ghost lançou seu segundo EP, que conta com a inédita "Square Hammer" e mais quatro covers. O resultado é mais um registro com o selo de qualidade que atualmente só Papa Emeritus e seus lacaios podem oferecer. Destaque para, além da nova música, as reinterpretações de "Nocturnal Me" do Echo & The Bunnymen e "Missionary Man" do Eurythmics.

"WESTWORLD: SEASON 1 (MUSIC FROM THE HBO SERIES)"


Que "Westworld" é uma excelente série, o mundo todo já sabe. Um dos elementos menos comentadas sobre ela, porém, é sua trilha sonora. Além de sua fantástica abertura, ela também conta com excelentes temas próprios e reinterpretações de músicas marcantes da cultura pop, indo de "Black Hole Sun" do Soundgarden para "The House of the Rising Sun" do The Animals e chegando até em "Back to Black" de Amy Winehouse. Mais um ótimo trabalho de Ramin Djawadi, também responsável pelas trilhas de "Game of Thrones" e do filme "Círculo de Fogo".

"STAR TREK BEYOND (MUSIC FROM THE MOTION PICTURE)"


"Star Trek: Sem Fronteiras" é um filme incrível, e muito disso se deve à excelente trilha sonora de Michael Giacchino. Em seu terceiro filme da franquia como compositor, ele já se sente em casa, sabendo o que é necessário para as cenas, sejam elas de ação, sejam elas mais introspectivas. Um festival de temas para tocar o coração de qualquer fã.

"ROGUE ONE: A STAR WARS STORY (ORIGINAL MOTION PICTURE SOUNDTRACK)"


E olha ele aí de novo! Outro trilha de respeito que foi composta por Michael Giacchino, que soube capturar toda a essência das músicas de Star Wars ao mesmo tempo que cria temas novos e reinterpreta com excelência os clássicos. Como disse em minha análise, um trabalho impecável para deixar John Williams orgulhoso.

"BATMAN V SUPERMAN: DAWN OF JUSTICE (ORIGINAL MOTION PICTURE SOUNDTRACK)"


Eu já falei sobre "Batman vs. Superman" diversas vezes nesse blog, seja para elogiar o longa ou para criticá-lo. Uma coisa é certa, porém: sua trilha sonora é incrível. Composições fortes e até mesmo gritantes marcam essa colaboração do gênio Hans Zimmer com Junkie XL, responsável pelas trilhas de "Mad Max: Estrada da Fúria" e "Deadpool". Os temas do Batman e da Mulher-Maravilha são disparados dois dos melhores dos últimos anos.

DECEPÇÕES DO ANO

VOLBEAT - "SEAL THE DEAL & LET'S BOOGIE"


Deixando claro desde já: esse não é um disco ruim, mas foi uma decepção para mim. O Volbeat se tornou uma das minhas bandas favoritas na atualidade, especialmente após o excelente "Outlaw Gentlemen & Shady Ladies" de 2013. Quando anunciaram que um novo trabalho estava a caminho, fiquei muito animado. Infelizmente, as 8 primeiras faixas de "Seal the Deal & Let's Boogie" soam repetitivas, repetindo uma mesma estrutura e tentando ser as novas "Cape of Our Hero" ou "Heaven Nor Hell". Pelo menos as 5 últimas músicas são excelentes, variadas, o que eu esperava ouvir do grupo, pena que a criatividade esteve tão limitada pelo lado comercial.

NICK CAVE & THE BAD SEEDS - "SKELETON TREE"


Outro disco que provavelmente não merecia estar aqui, o fato é que eu vi "Skeleton Tree" em tantas listas de melhores do ano que fiquei empolgado para ouvi-lo, crente de que essa seria uma experiência que fosse mudar minha concepção de música para sempre. Mas o disco é apenas... estranho. Não me empolgou em nada. Até tem alguma beleza no trabalho, mas não foi o suficiente para me cativar. Simplesmente não foi feito para mim.

TOP 20 MELHORES MÚSICAS DO ANO

Criei essa playlist com o intuito de divulgar um pouco dos álbuns que estão na lista. Ano passado foram 10, mas nesse ano escolhi 20 músicas, e mesmo assim foi difícil. As faixas estão na ordem inversa, assim como em 2015. Divirtam-se:



AS MÚSICAS MAIS OUVIDAS POR MIM EM 2016, SEGUNDO O SPOTIFY

Outra playlist, essa sendo gerada pelo próprio serviço de streaming, com as 101 faixas mais ouvidas por mim nesse ano. O resultado me surpreendeu um pouco, especialmente pela variedade de estilos presente na lista. Muitos dos álbuns citados aqui também estão representados nela, alguns com mais, e outros com menos canções. Mesmo assim, fica aqui mais como curiosidade, para mostrar mais do que eu estive escutando em 2016 em 7h57min de música ininterrupta:

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

ANALISANDO - "ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS" (2016)


Ah, Star Wars... Mais um fim de ano chegou, e junto a ele, pela primeira vez na história, um novo filme da franquia chegou ao cinemas com apenas um ano de diferença do lançamento anterior. Dessa vez, ao contrário de "O Despertar da Força", não se trata de um novo episódio da saga: "Rogue One: Uma História Star Wars" é o primeiro spin-off feito para a telona, com foco em outra história e novos protagonistas, ao mesmo tempo que se liga à trama principal de alguma forma. Um longa que me deixou com certo receio quando foi anunciado, pois na minha concepção não precisava existir, mas que me fez mudar de ideia com os primeiros materiais divulgados, de modo que só pensei "bom, já que estão fazendo, espero que seja bom". E como estou feliz por minhas expectativas mais uma vez terem sido correspondidas e até mesmo superadas.

Embora já tenha escrito minha breve crítica anteriormente, "Rogue One" tem muitos aspectos a se analisar, os quais são impossíveis de se abordar em apenas um mero parágrafo. E é por isso que esse texto existe. Mais uma vez vindo cumprir meu papel como fã, apreciador da sétima arte e pseudo-aspirante a escritor, cá estou eu para destrinchar o longa, desde o mais básico aos detalhes mais complexos que fazem do filme o que ele é.

E fica o aviso: ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS. Assim, se você ainda não foi assistir ao longa, em primeiro lugar repense sua vida, depois vá ao cinema para vê-lo e só aí volte aqui para continuar lendo essa análise. Não quero ser a pessoa que vai estragar sua experiência, então novamente: EVITE OS SPOILERS.

ANTES DE TUDO, O QUE É "ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS"?

Para responder essa pergunta, devemos voltar ao primeiro Star Wars, "Episódio IV - Uma Nova Esperança", e ler seu letreiro de abertura:



Essa é a premissa básica de "Rogue One: Uma História Star Wars": contar a história desse grupo de rebeldes que conseguiu sua primeira vitória contra o Império Galático ao roubar os planos de sua arma derradeira, a Estrela da Morte, uma estação espacial com poder o suficiente para destruir um planeta inteiro. Ou seja, ele é um prelúdio direto ao primeiro instalamento da franquia.

A grande diferença é que o filme é um capítulo único na saga, sem foco nos Skywalker e sem necessidade de continuações, mas que apresenta novos protagonistas, novos conceitos e uma trama que se inicia e se encerra em suas 2:14h de duração. É por isso que esse não é um "Episódio", mas "Uma História Star Wars".

"MAKE TEN MAN FEEL LIKE A HUNDRED"


Já que "Rogue One" é um spin-off, uma nova abordagem à franquia foi feita pelo diretor e roteiristas. Desse modo, os Jedi e a Força são deixados um pouco de lado (mas não esquecidos), a estrutura clássica da jornada do herói e toda a aventura que a cerca é jogada para escanteio, e o filme trata de um elemento que, ironicamente, não é o principal de Star Wars: a guerra. Aqui, vemos soldados fazendo o possível e o impossível para cumprir seus objetivos, mesmo que isso custe-lhes as próprias vidas. Tudo em nome da causa, do bem maior que eles procuram alcançar.

Um dos maiores triunfos do longa é justamente o modo em como ele dá dimensão ao conflito entre Rebeldes e o Império. A vida não era fácil na Galáxia Muito Distante naquela época, e aqui podemos conferir de perto a opressão imperial aos civis em vários planetas, com inspeções agressivas aos cidadãos e patrulhas armadas de Stormtroopers circulando em plena luz do dia, configurando um Estado de Exceção nos moldes que bem conhecemos. Também podemos observar a diferença do poderio bélico entre os dois lados, algo que já era claro na trilogia clássica, mas que aqui fica ainda mais evidente: o Império dispõe de muito mais tropas, armas e veículos a sua disposição, sendo praticamente um milagre o resultado da ofensiva da Aliança, mesmo com as inúmeras baixas que ocorreram.

Ao mesmo tempo, "Rogue One" explora um lado mais sujo da Rebelião. Embora sempre retratados como o lado bom da história, não dá para se manter 100% íntegro quando se trata de guerra. Por isso, vemos no filme comandantes que nem sempre seguem estritamente as ordens de seus superiores e passam outras instruções para seus subordinados, os quais tem que sujar as mãos para se manterem em jogo e honrarem os objetivos pelos quais lutam. Ainda conhecemos uma facção rebelde mais radical e não relacionada à Aliança, a qual possui membros que operam como verdadeiros jihadistas (inclusive nas vestes) e que é liderada pelo extremista Saw Gerrera, personagem de Forrest Whitaker. A destruição causada pelo grupo na Cidade de Jedha não poupa nada nem ninguém à sua frente, fazendo muitos danos às tropas do Império, mas ao mesmo tempo deixando seu rastro de vítimas civis.

O acerto da abordagem de "R1", ainda, é claramente sentido nas cenas de ação. O longa foge em boa parte do tempo das já conhecidas grandiloquentes batalhas pelas quais a franquia é conhecida, focando em sequências de infiltração e tiroteios de menor dimensão envolvendo apenas o grupo, o que em muitos momentos me lembrou os games de "Metal Gear Solid", especialmente o trecho que se passa em Eadu, planeta onde Galen Erso se encontra. Quando é hora de um confronto em grandes proporções, porém, o filme entrega, e da melhor maneira possível. A Batalha de Scarif é um dos maiores momentos de toda a saga, deixando no chinelo qualquer batalha da trilogia prequel e se equiparando às batalhas de Hoth e Endor, dois dos mais emblemáticos enfrentamentos da história do cinema e os mais queridos pelos fãs de Star Wars.

E como não poderia deixar de ser, para se mostrar guerra como ela é, poucos personagens devem ser poupados, e realmente há muitas baixas ao decorrer do filme. É aí que reside, em um tempo de tantas franquias com intermináveis sequências, a maior coragem dessa obra cinematográfica: em matar todos os personagens aos quais somos apresentados.

"NÓS, QUE ESTAMOS PRESTES A MORRER, O SAUDAMOS"


"Rogue One: Uma História Star Wars" traz um elenco que prima pela diversidade. Com uma mulher como principal protagonista, coadjuvantes latinos, asiáticos, negros e muçulmanos, ficou clara a mensagem que Kathleen Kennedy, presidente da Lucasfilm, quis passar a Hollywood. E ficou claro também que qualquer pessoa pode lutar pela Aliança Rebelde, sem discriminação.

No decorrer da trama, somos apresentados a esses personagens como Jyn Erso, a garota errante cercada de tragédias a sua volta; Cassian Andor, o rebelde de moral questionável que está envolvido com essa luta desde criança; Chirrut Îmwe, o monge cego protetor dos cristais kyber e do que restou do culto à Força, e seu parceiro mercenário Baze Malbus; Bodhi Rook, o piloto do Império que resolveu trocar de lado; e o robô K-2SO, antiga propriedade imperial que teve suas funções reprogramadas. Ainda temos o extremista Saw Gerrera, responsável por boa parte da pessoa que Jyn é; Galen Erso, pai de Jyn; e o Diretor Krennic, o supervisor da construção da Estrela da Morte.

Construídos de forma satisfatória conforme seus papéis, cada um desses novos protagonistas consegue causar empatia ao espectador, não sendo meros artifícios de roteiro para se chegar a um determinado fim. Não há como não se solidarizar com a dramática história de Jyn ou os antecedentes de Cassian, ou não simpatizar com o carisma de Chirrut (ou o modo como o personagem do lendário Donnie Yen luta) e até mesmo o humor e humanidade de K-2SO.

É por isso que a morte de cada um deles funciona: o público é cativado pelo grupo e se deixa abater por suas perdas. Essa é, no fim, a história sobre os heróis esquecidos de Star Wars.

Claro, porém, que eu não estou me esquecendo de alguns personagens essenciais...

AH, O FAN-SERVICE...


Um dos pontos mais comentados de "Rogue One: Uma História Star Wars" tem sido a quantidade de referências que a obra possui. E, de fato, o filme é um festival de easter eggs: temos o leite azul logo nos primeiros momentos de tela, os criminosos que aparecem em "Uma Nova Esperança" na Cantina de Mos Eisley, o "Holochess" (o xadrez holográfico da Millenium Falcon), rostos familiares como Mon Mothma e Bail Organa, falas que mencionam os então vindouros eventos do "Episódio IV", o clássico "I have a bad feeling about this", rápidas aparições de C-3PO e R2-D2 na histórica base de Yavin IV, e, claro, duas participações de Darth Vader para levar os fãs a delírio, especialmente a última.

Dois fan-services merecem mais destaque, porém. O primeiro deles é a recriação digital de dois personagens clássicos da trilogia original: Grand Moff Tarkin e Princesa Leia. Enquanto a última só aparece na última cena do longa, o primeiro tem uma participação ativa na trama. E é de arrepiar, pois Peter Cushing, que interpretou Tarkin no primeiro filme da franquia, já está morto há mais de 20 anos, mas está ali, contracenando com o Diretor Krennic com toda sua imposição e arrogância, perfeitamente refeito em um impressionante CGI. O mesmo vale para Leia: é como se Carrie Fisher não houvesse envelhecido um dia. Um trabalho sem igual da Industrial Light and Magic, de arrancar lágrimas dos mais fanáticos.

O outro fan-service que se sobressai, mas que menos pessoas souberam ou notaram, foi o uso de cenas excluídas do primeiro Star Wars em sequências da película. Como confirmado recentemente, o diretor Gareth Edwards vasculhou as filmagens do clássico de 1977 que não chegaram ao corte final e, após tratamento digital, as incluiu em "R1". As cenas em questão são todas aquelas que mostram os pilotos da Aliança Rebelde nas ofensivas espaciais durante a Batalha de Scarif. Então, se você estranhou aqueles caras com o visual que muito remetia à década de 1970, é porque eles realmente eram daquela época.

Todos esses detalhes deixam clara a devoção de Edwards pela franquia e como ele quis preparar algo legal para os fãs, ao mesmo tempo que não deixou de lado a qualidade do filme e ainda o fez ser uma ótima experiência mesmo para aqueles que não conhecem tanto a saga.

"MÚSICA POR JOHN WIL--" QUEM É MICHAEL GIACCHINO?


Todos sabemos a importância da trilha sonora em um Star Wars. A saga marcou a história do cinema com alguns dos mais belos e icônicos temas já feitos, como os clássicos "Imperial March" e o "Main Theme", passando pelos geniais "The Asteroid Field" e "Han Solo and The Princess", os marcantes "Duel of the Fates" e "Battle of the Heroes", e até mesmo os recentes "Rey's Theme" e "March of the Resistance". Todas essas composições saíram da genial mente de John Williams, premiado compositor responsável por boa parte das melhores trilhas de filmes dos últimos 50 anos, e que sempre ocupou a titularidade do posto nos 7 filmes da criação de George Lucas.

Mas "Rogue One", mais uma vez, segue um caminho diferente. Inicialmente sobre responsabilidade de Alexandre Desplat, que abandonou o projeto por conflitos de agenda, ficou com Michael Giacchino a tarefa de assumir uma posição dessa magnitude e compor uma trilha sonora digna de Star Wars. Giacchino não é um iniciante, sendo responsável pela música de "Os Incríveis", "Planeta dos Macacos: O Conflito", "Divertida Mente", "Zootopia", "Doutor Estranho" e dos três últimos "Star Trek". Essa também não é a primeira vez que ele tem que honrar John Williams, pois também foi o compositor dos temas de "Jurassic World", sendo muito elogiado à época.

Já elogiei Michael Giacchino algumas vezes, especialmente nesse ano, e mais uma vez reitero seu talento e a qualidade de suas composições. A trilha de "Rogue One: Uma História Star Wars" marca com temas como "A Long Ride Ahead", "Jedha Arrival", "Rogue One" e "Jyn Erso & Hope Suite", dando ênfase o clima das cenas do longa e ainda homenageando muitas das clássicas músicas da franquia. Um trabalho impecável, de deixar John Williams orgulhoso.

O SUCESSO DO FILME E O FUTURO


"Rogue One" já é um sucesso: apenas em seu primeiro final de semana, a obra já fez mais de $ 290 milhões mundialmente, tornando-se a segunda maior estreia do mês de dezembro (atrás apenas de "O Despertar da Força"). A crítica aclamou o filme, muitas vezes indo um pouco além da conta (gente, "R1" é excelente, mas "melhor filme de Star Wars"? "O Império Contra-Ataca" existe, lembram?), mas reconhecendo tudo o que o filme tem de melhor a oferecer. E os fãs, como era de se esperar, estão pirando, discutindo o longa avidamente e indo assisti-lo repetidas vezes.

Todo esse êxito é o indicador que a Lucasfilm precisava para guiar qual será o futuro da franquia nos cinemas. Recentemente, a presidente da companhia, Kathleen Kennedy, deu a entender que os filmes derivados podem ser o caminho a ser seguido após o fim da nova trilogia. Nesse meio tempo, já temos agendado o spin-off focado no jovem Han Solo para 2018 e rumores sobre outro, programado para 2020 e que poderia abordar Obi-Wan Kenobi, Yoda ou Boba Fett.

A ideia é boa, especialmente para não transformar Star Wars em uma espécie de Marvel. Assim, após o Episódio IX, o melhor a se fazer é de fato expandir todo esse fantástico Universo idealizado por George Lucas, explorando personagens queridos que receberam menos destaque ou até outros períodos, como os primórdios da Velha República. E se "Rogue One" nos ensinou alguma coisa, é que, nas mãos certas, os derivados podem ser tão bons quanto os principais.

O VEREDITO


Poucos filmes derivados conseguem ser algo além de meras sombras das obras originais. "Rogue One: Uma História Star Wars" consegue ser uma dessas exceções. Divertido e emocionante, o longa entrega um clima distinto do que vimos anteriormente, ao mesmo tempo que consegue manter o coração da franquia intacto. O sucesso em combinar uma verdadeira aula de fan-service com uma história única e uma diferente abordagem da "guerra nas estrelas" faz dessa uma experiência que já reside nos corações dos fãs e que ainda tem a capacidade de alcançar os menos aventurados na Galáxia Muito Distante.

Reitero: a coisa mais linda que vi nos cinemas em 2016. E que venham os próximos spin-offs!

FICHA TÉCNICA

"ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS" ("ROGUE ONE"), EUA, 2016
Um filme da LUCASFILM LTDA.
DIRETOR: Gareth Edwards
PRODUZIDO POR: Kathleen Kennedy, Gareth Edwards, Simon Emanuel, Kiri Hart, John Swartz, Susan Towner e outros
ESCRITO POR: Gary Whitta, John Knoll, Chris Weitz, Tony Gilroy
MÚSICA POR: Michael Giacchino
ESTRELADO POR: Felicity Jones, Diego Luna, Alan Tudyk, Donnie Yen, Wen Jiang, Riz Ahmed, Forrest Whitaker, Ben Mendelsohn e Mads Mikkelsen.

TRAILER:



TRILHA SONORA:

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Crítica de UM parágrafo sobre "ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS"!


A coisa mais linda que eu vi nos cinemas em 2016. A união perfeita entre um ótimo filme e fan service pra fazer qualquer marmanjo derramar lágrimas, aliado a efeitos especiais inacreditáveis, personagens carismáticos e aparições que vão tocar o coração de qualquer fã. Ainda conta com mais uma excelente trilha sonora composta por Michael Giacchino nesse ano, para John Williams nenhum botar defeito. Uma trama de guerra e infiltração, apresentando um lado menos explorado da franquia, que mostra que Star Wars pode funcionar muito bem sem foco nos Skywalkers. Por que você ainda está lendo esse post? Vá logo ao cinema mais próximo de você assistir essa maravilha.

NOTA: 10,0

TRAILER:

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Balanço final dos filmes de herói de 2016


2016 foi agitado no departamento de adaptações de quadrinhos: ao todo, foram 6 filmes lançados por Marvel Studios, DC Entertainment e 20th Century Fox, curiosamente distribuídos em 2 para cada. Alguns resultados foram acima do esperado, enquanto outros decepcionaram tristemente. E, embora eu já os tenha avaliado anteriormente, volto a eles para dar uma opinião final e encerrar o assunto por este ano. Opiniões mudam, afinal, para melhor ou para pior, e não pretendo deixar nenhuma injustiça para trás.

Então, qual é o veredito final para os filmes de herói de 2016?


Batman vs Superman: A Origem da Justiça

Nada melhor do que já começar com o filme mais controverso do ano. Por um lado, um roteiro mal construído e cheio de furos, uma trama que muitas vezes não faz sentido e com diversas passagens que poderiam ser melhor trabalhadas, resoluções que chegam a beirar o ridículo e personagens muito distantes de suas contrapartes nos quadrinhos. Por outro, uma fotografia fantástica, trilha sonora espetacular, ótimas atuações, cenas de ação de cair o queixo e um banho de fanservice. Eu gosto de pensar em BvS como uma representação das HQs da década de 1990 no cinema: cinismo, violência, clima sombrio, pretensões de emular "Watchmen" e "Batman: O Cavaleiro das Trevas", belos visuais e história fraca. Mesmo assim, o longa tem tantas referências e momentos legais que é difícil não gostar dele. As críticas são compreensíveis, mas, para mim, o saldo ainda é positivo. Talvez seja, ao mesmo tempo, o "pior melhor filme de super-herói" e o "melhor pior filme de super-herói" já feito, mas ao menos ele conseguiu fazer as pessoas sentirem algo, seja amor, ódio ou desconforto, e é motivo de discussões até hoje. Uma coisa é unânime, porém: a Mulher-Maravilha de Gal Gadot é incrível.


Capitão América: Guerra Civil

Divertido, repleto de ótimas sequências ação, um bom roteiro, uma boa introdução ao Pantera Negra e ao Homem-Aranha no Universo Marvel e uma excelente atuação de Robert Downey Jr. Mas também um vilão esquecível, uma trilha sonora esquecível e um conflito esquecível. "Guerra Civil" é um bom filme, mas tinha o potencial de ser muito mais do que é. Infelizmente o evento não teve 1/3 da gravidade de sua contraparte dos quadrinhos, e o que deveria ser um ponto de virada para os Vingadores acabou se tornando apenas mais um capítulo para preencher espaço enquanto "Guerra Infinita" não chega. Um longa que será mais lembrado por seus ótimos momentos individuais do que pelo conjunto da obra. Uma pena.


Deadpool

Se pararmos para pensar, esse é o único filme de herói que de fato fez alguma diferença nesse ano. A violência exacerbada, as referências, as quebras de quarta parede e as piadas adultas de "Deadpool", aliados a um roteiro sólido e atuações competentes, são uma experiência até agora única nesse subgênero. Muito disso se deve a Ryan Reynolds, que nunca deixou o projeto morrer e está mais que excelente no papel do mercenário tagarela. Um dos maiores acertos de 2016 nas telas.


Doutor Estranho

A estreia de Stephen Strange no cinema foi agraciada por por duas excelentes atuações: a de Benedict Cumberbatch como o protagonista e Tilda Swinton interpretando a Anciã. Uma boa história de origem que diverte, entretém e sabe usar conceitos fundamentais do personagem em prol de sua trama. Infelizmente é mais um filme da Marvel que faz mau uso de seus vilões, transformando-os em meros recursos narrativos. Por outro lado, é o filme visualmente mais belo do estúdio até agora.


Esquadrão Suicida

Passou muito longe do que prometia e entregou uma película sem graça, sem ritmo e sem tom definido. "Esquadrão Suicida" é provavelmente um dos filmes mais esquizofrênicos já lançados, muito graças às inúmeras intromissões dos produtores executivos em sua montagem, na tentativa desesperada de tentar emplacar um sucesso depois das duras críticas a "Batman vs Superman". Ainda teve a infelicidade de nos apresentar ao Coringa de Jared Leto, a pior representação do personagem na história, junto com outros personagens intragáveis, como a Magia de Cara Delevingne e o forçadíssimo Capitão Bumerangue de Jai Courtney. Pelo menos a Arlequina de Margot Robbie, o Pistoleiro de Will Smith e a Amanda Waller de Viola Davis conseguem salvar o longa de ser um fracasso retumbante.


X-Men: Apocalipse

Esse é um filme injustiçado. "X-Men Apocalipse" é um filme divertido, com sequências incríveis e participações bem-sucedidas das novas encarnações de Jean Grey, Ciclope, Norturno e Tempestade nas telas. Entendo que a participação do Magneto foi desnecessária e que o Apocalipse não foi um primor como vilão, mas, para mim, o longa funcionou bem. Longe de ser algo como "Primeira Classe" e "Dias de um Futuro Esquecido", mas ainda assim uma boa conclusão a essa segunda trilogia dos mutantes da Marvel no cinema.

E esse foi o 2016 dos filmes de herói. Agora, qual deles foi o melhor? Para mim, claramente "Deadpool" merece o título. Se fosse para fazer uma lista, essa seria a ordem, do pior para o melhor:

#6 - Esquadrão Suicida
#5 - X-Men: Apocalipse
#4 - Capitão América: Guerra Civil
#3 - Batman vs Superman: A Origem da Justiça
#2 - Doutor Estranho
#1 - Deadpool

Concorda? Discorda? A área de comentários está aí para isso. O importante é que 2017 está chegando, e, com estreias de "Guardiões da Galáxia Vol. 2", "Homem-Aranha: De Volta ao Lar", "Logan", "Mulher-Maravilha", "Thor: Ragnarok" e "Liga da Justiça", o futuro parece mais promissor que nunca para o gênero.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O filme da Mulher-Maravilha precisa dar certo


2 de junho de 2017 pode parecer longe, mas esses pouco mais de sete meses passam em um piscar de olhos. Nessa data chegará aos cinemas o filme da Mulher-Maravilha, a primeira grande produção baseada em histórias em quadrinhos estrelada por uma mulher (porque "Elektra" e "Mulher-Gato" definitivamente não contam). O clima que paira o longa, porém, é de incerteza e receio.

Por um lado, tivemos dois excelentes trailers, repletos de cenas com bela fotografia, ótimo contraste de cores, o que aparenta ser um equilíbrio certeiro entre seriedade e humor, e ação frenética, mas com assinatura de quem sabe fazer. Os vídeos realmente empolgam, com sequências de tirar o fôlego e trilha sonora digna dos épicos de Hollywood. O elenco é composto de grandes nomes, como Connie Nielsen, Robin Wright e Chris Pine, mas a presença e imposição de Gal Gadot dominam qualquer cena em que a mesma participa. A diretora Patty Jenkins é conhecida pela qualidade de seus trabalhos, tendo dirigido "Monster", que acabou rendendo um Oscar a Charlize Theron por sua atuação. Colaborando com tudo isso, temos Geoff Johns, o atual chefe da DC Entertainment, alegando que a produção terá um tom mais leve e otimista em comparação com as outras tentativas do estúdio.

Por outro lado, temos a mesma DC/Warner com dois retumbantes fracassos de crítica em 2016. "Batman vs. Superman" ainda conseguiu dividir as reações do público, mas a opinião sobre "Esquadrão Suicida" foi unânime: fraco, retalhado e sem uma tonalidade definida, e eu prefiro nem entrar no mérito (ou na falta de) do Coringa de Jared Leto. Ambos tiveram sucesso na bilheteria, com o primeiro arrecadando mais de 873 milhões de dólares mundialmente, enquanto o último fez 745 milhões de dólares ao todo. Bons resultados, muito embora BvS foi abaixo do 1 bilhão de dólares esperado por ser o filme que uniria os dois heróis mais famosos de todos os tempos, claramente prejudicado pela má recepção.

Mulher-Maravilha em um dos momentos de maior imponência do trailer, logo após desviar uma bala em seu bracelete.

E é com esse cenário que a Princesa Amazona mais famosa da cultura pop chega às telas. A espera é grande e o material de divulgação, junto com os nomes envolvidos, só colaboram, mas o medo de ser lançado mais um filme aquém do esperado também é enorme, especialmente se lembrarmos que "Batman vs. Superman" e "Esquadrão Suicida" tiveram campanhas de marketing exemplares e o resultado final foi muito pior do que era mostrado em trailers e comerciais. Para piorar, a concorrente Marvel continua emplacando sucesso atrás de sucesso, com sua fórmula cada vez mais consolidada, e pretende lançar nada menos que três filmes em 2017, com "Guardiões da Galáxia Vol. 2" tendo data marcada para 27 de abril, pouco mais de um mês antes do longa da DC.

A pressão pelo sucesso de "Mulher-Maravilha" nesse momento deve ser enorme, especialmente após o CEO do grupo Time Warner admitir em setembro que os filmes baseados em quadrinhos da companhia poderiam ser melhores, posição reafirmada pelo CEO da Warner Bros. Entertainment. Não colabora se lembrarmos também que no fim de agosto surgiu um rumor de que a produção do longa estava uma bagunça. Por mais infundado que ele fosse e com a diretora vindo a público desmenti-lo e defender a adaptação, sua cota de estrago já foi feita.

O filme, porém, aparenta estar em uma boa posição, e já é possível perceber isso pelos próprios trailers: diferente do clima sombrio de "Batman vs. Superman" e do show de montagem e músicas empolgantes de "Esquadrão Suicida", "Mulher-Maravilha" vem se vendendo pela qualidade de sua fotografia, por seu tom épico e por seu humor sutil e bem-colocado. A sensação que ele passa é claramente diferente de seus antecessores, sendo uma releitura da origem da personagem que respeita seus melhores elementos, representados por toda a coragem, inocência e sinceridade que Diana apresenta. O envolvimento direto no roteiro e a supervisão de Geoff Johns também parecem ter surtido um efeito positivo, com ele, que conhece os personagens após trabalhar com os mesmos por quase 20 anos na editora, evitando que certos conceitos fundamentais fossem modificados.

Colabora também pensar o cenário que cerca a personagem no momento: em 2016, a Mulher-Maravilha completou 75 anos de sua criação, foi nomeada Embaixadora da ONU pela Igualdade de Gênero e fez sua estreia no cinema, aparecendo em "Batman vs. Superman" e sendo considerada por muitos a melhor coisa coisa do filme, opinião praticamente unânime em algo que gerou tanta divergência. Nos quadrinhos, a Amazona vem passando por uma de suas melhores fases nas mãos do roteirista Greg Rucka e dos artistas Liam Sharp e Nicola Scott, além de ter ganho algumas releituras em "Wonder Woman: Earth One" de Grant Morrison e Yannick Paquette, "Wonder Woman: The True Amazon" de Jill Thompson, e "The Legend of Wonder Woman" de Renae de Liz. Esse pico de popularidade só tem a favorecer o sucesso do filme, principalmente se o mesmo sair como esperado.

Você consegue imaginar um filme que proporciona uma visão dessas dando errado?

A importância de "Mulher-Maravilha" vai além de resultados de crítica e números de bilheteria, porém. Como citado, essa será a primeira grande produção baseada em quadrinhos estrelada por uma mulher. Embora a representatividade de gênero venha ganhando espaço no cinema, com mulheres protagonizando grandes blockbusters (como Star Wars, por exemplo), Hollywood ainda é muito conservadora quanto a essa questão, apostando no seguro e evitando a criação de personagens femininas fortes, diminuindo grandes atrizes a papéis mais fúteis ou de menor destaque. Os filmes de super-herói são o maior exemplo disso: basta assistir qualquer um da Marvel para ver gente do naipe de Natalie Portman, Rachel McAdams ou Gwyneth Paltrow sendo subutilizadas e muitas vezes reduzidas à função de "donzela em perigo", e embora a Viúva-Negra de Scarlett Johansson já esteja aí há anos, a resistência em fazer uma aventura solo da personagem nas telas permanece, por mais pronta que ela esteja para liderar o que poderia ser um excelente longa de espionagem. A DC também não foge muito a essa regra, não fazendo bom uso de todo o talento de Amy Adams na representação de Lois Lane, que principalmente em BvS parecia deslocada e sem grande função na trama.

A Mulher-Maravilha é um ícone feminista, tendo sido a primeira super-heroína dos quadrinhos e já representando tais ideais desde sua criação. Apesar de muitas vezes mal utilizada, foi graças a ela que muitas garotas e mulheres começaram a ler quadrinhos, se identificando com a personagem. E foi graças a ela também que outras heroínas ganharam seu espaço nos gibis, como é o caso da Batgirl, da Supergirl e da Canário Negro. Nada mais justo, então, que ela faça o mesmo no cinema: o sucesso de seu filme mostraria que o público e a crítica estão mais do que preparados para receberem e abraçarem adaptações de HQs protagonizadas por mulheres, o que só traria benefícios para o mercado, dando segurança para a Marvel lançar seu vindouro longa da Capitã Marvel do jeito que ele deve ser feito, além de abrir portas para outras heroínas como a já citada Batgirl (ou até mesmo sua equipe feminina, as Aves de Rapina) conquistarem seu lugar nas telas.

Novamente, o filme parece bem direcionado quanto a essa questão: os trailers deixam bem claro que o feminismo será abordado, com algumas de suas principais cenas de humor sendo críticas pontuais à cultura machista, que era regra na época da Primeira Guerra Mundial e que infelizmente teima em resistir até os dias atuais. É transparente também a representação da personagem principal que, apesar de ser uma guerreira porradeira sem medo do perigo, apresenta toda uma leveza e feminilidade, não sendo uma mera brucutu de saias. Vale ainda o destaque para o extenso elenco feminino do longa, algo não só necessário como obrigatório, uma vez que Themyscira, a Ilha Paraíso de onde Diana vem, é lar exclusivo das amazonas, ou seja, habitada apenas por mulheres e em total separação do mundo dos homens.

É árdua a missão que a Mulher-Maravilha terá de enfrentar logo em sua primeira aventura solo nos cinemas, precisando ser um sucesso de público e crítica para que a confiança na DC seja recuperada ao mesmo tempo que precisa provar à indústria que filmes de super-heroína valem o investimento. Mas ela, junto com toda a fantástica equipe envolvida no longa, tem o poder para conseguir tudo isso. O receio pode até existir, mas a empolgação é maior, e, pelo mostrado nos trailers, ela parece ter fundamento, com o filme aparentando estar no caminho certo. Só quero sair da sessão no dia 2 de junho e perceber que não estava errado.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Crítica de UM parágrafo sobre "A CHEGADA"!


Uma ficção científica que faz uso do fantástico para tratar dos temas mais humanos possíveis. Um filme atual, que explora assuntos como o medo do desconhecido e o preconceito. Uma trama que é ao mesmo tempo densa, complexa e íntima, pessoal. Com um início lento, mas desenvolvimento em um ritmo impressionante, "A Chegada" é belo e cativante, com um teor filosófico de fazer qualquer um refletir por horas, dias, semanas. A produção é coroada com a excelente atuação de Amy Adams, que te faz sentir na pele toda a carga emocional que sua personagem apresenta. Facilmente o melhor longa que assisti nesse ano até agora.

NOTA: 10

TRAILER:

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A magia voltou às telas, e eu me sinto em casa novamente


Eu tinha 6 anos no dia em que minha mãe me levou ao cinema, mais ou menos nessa mesma época, há 15 anos. Naquele mesmo 2001 minha irmã havia nascido, e a divisão do tempo entre o trabalho e os cuidados com a bebê só fez os momentos entre mãe e filho, que já não eram muitos (mas sempre especiais), diminuírem drasticamente. Por isso, ela reservou a data apenas para nós dois, e assim fomos ao Cinemark do Shopping D, como bem me recordo. O filme que assistimos? O mesmo que era capa da última edição da Revista Recreio, "Harry Potter e a Pedra Filosofal".

Ao término daquela sessão, minha vida nunca mais foi a mesma. Eu estava completamente conquistado por todo aquele incrível universo mágico de varinhas, vassouras, feitiços, poções, cães de três cabeças, Quadribol, Chapéu Seletor, escadas que mudam de lugar e imagens que se movem. Já me sentia amigo íntimo de personagens tão carismáticos quanto Rony Weasley, Hermione Granger, Rúbeo Hagrid e Alvo Dumbledore. E, claro, eu queria muito ser o Harry Potter (quem me conheceu até os 14 anos sabe muito bem disso, até óculos redondos eu usava). O impacto foi imediato, e ali nasceu um enorme fã da série, que leu todos os livros, viu todos os filmes, jogou vários dos games, comprou inúmeros colecionáveis, acompanhava todas as notícias possíveis e se empolgava a cada novidade.

Minha mãe também se tornou fã depois daquele dia. Leu os livros, viu os filmes, se empolgava comigo a cada trailer, imagem ou trecho divulgado. Fazíamos competição para ver quem acabava cada livro antes. Discutíamos as adaptações, no que acertaram, o que faltou, quais as coisas mais legais. Pensando agora, em certos momentos ela até parecia mais fã que eu, e talvez fosse (ou ainda seja) mesmo. E minha irmã, que tinha cerca de 9 meses no lançamento de "A Pedra Filosofal", cresceu com Harry Potter, virou fã dos longas e, quando mais velha, resolveu aventurar-se pelos livros também.

É inegável que a saga teve um grande papel em minha vida. Acompanhando as histórias, seja na versão cinematográfica ou na versão escrita, fui entretido por cada segundo daquelas aventuras, aprendendo importantes lições sobre amizade, lealdade, coragem e sacrifícios que me fizeram crescer como pessoa, ao mesmo tempo que vi seus protagonistas crescendo comigo. E também foi importante pois cada lançamento de um novo filme da franquia era um dia feliz, um momento de união com a minha família, sempre empolgada para ver o resultado da adaptação que chegava aos cinemas.

O trio que marcou toda uma geração.

Quando "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" foi lançado, quase exatos 10 anos após o primeiro longa, eu já não era mais exatamente um fanático pela franquia. Ainda era fã, gostava muito, mas já não tinha o mesmo engajamento de outrora. Os livros já haviam sido todos publicados, e eu já sabia como aquela história iria terminar. Além disso, no auge dos meus 16 anos eu estava em contato com outras coisas, supostamente mais maduras, tentando parecer o "adultão" (coisa que até hoje não sou). Mesmo assim, foi inevitável derramar algumas lágrimas ao fim do filme, com aquela sensação de dever cumprido, por menos sentido que ela fizesse. Era o fim de uma era, o encerramento de um ciclo. E o ponto final em todos aqueles momentos agradáveis em família que ocorreram na última década.

Com o fim de Harry Potter, ficou um vácuo no quesito lançamentos de cinema. Ele logo foi preenchido pelos filmes de herói, que naquela época vinham aumentando exponencialmente de quantidade. Mas o sentimento é diferente: por mais que eu adore adaptações de HQs e fique empolgado por cada uma delas, nenhuma chegou a me proporcionar o mesmo encanto e empolgação que os filmes da saga (os que chegaram mais perto talvez tenham sido "Os Vingadores", "Guardiões da Galáxia" e a Trilogia Batman de Christopher Nolan). Além disso, esses longas são algo mais de meu gosto pessoal, pois foram poucas as vezes que fui vê-los acompanhado de alguém da minha família. Só consegui me reunir com minha mãe e minha irmã em uma mesma sala de cinema para assistir "Star Wars: O Despertar da Força", mais de cinco anos depois.

Por isso, quando "Animais Fantásticos e Onde Habitam" foi anunciado, minha primeira reação foi de desconfiança. Como todo bom purista, não via necessidade em voltar ao universo de uma franquia que já estava fechada e deveria se manter intocada, sendo essa uma tentativa de lucrar em cima da marca. Mas eu pensei melhor e percebi que não há problema nenhum em fazer isso, pois os filmes originais continuariam ali intocados, e ainda teríamos a oportunidade, caso tudo fosse feito corretamente, de ver mais uma boa história ganhar vida. A escalação do ótimo Eddie Redmayne como protagonista, o retorno de David Yates à direção e a escolha da própria J. K. Rowling, criadora de todo esse universo, como roteirista amenizou ainda mais minhas preocupações, e resolvi então dar uma chance ao longa.

Cena de bastidores com os quatro protagonistas de "Animais Fantásticos e Onde Habitam".

E valeu a pena ter feito isso. "Animais Fantásticos" não me decepcionou. Inclusive, me surpreendeu muito. É ótimo ver personagens tão carismáticos quanto o quarteto Newt Scamander, Jacob Kowalski e as irmãs Tina e Queenie Goldstein sendo apresentados e desenvolvidos de forma tão simples e concisa que você já sente uma certa intimidade com eles até o fim do filme. É ótimo assistir a uma trama bem desenvolvida ao suficiente que sabe dosar inocência com temas mais sérios e adultos, ao mesmo tempo que desenvolve histórias que se conectam e fazem sentido no fim. É ótimo voltar àquele universo de magia, varinhas, feitiços, poções, imagens que se movem e seres extraordinários.

E é ótimo ir novamente aos cinemas com a família para conferir algo relacionado à franquia Harry Potter. Ao fim da sessão, o sentimento era unânime: o filme era ótimo, e mal podemos esperar para ver qual será o próximo passo a ser dado nessa nova saga. Um dos fatores que mais favoreceu "Animais Fantásticos e Onde Habitam" foi o fato de ser uma história inteiramente nova, sem paralelo nos livros, e cada cena foi uma surpresa para todos nós. Fomos todos conquistados pelos novos personagens e pelas criaturas mágicas, voltamos a ler teorias e notícias, e é questão de tempo até colocarmos as mãos em novos itens colecionáveis.

A empolgação voltou. A magia voltou. E eu só posso agradecer por isso. Senti falta de Harry Potter em minha vida. Senti falta de toda a repercussão da saga, seja na mídia, entre os fãs ou o público comum. Senti falta desses simples bons momentos com a família. E é bom que "Animais Fantásticos e Onde Habitam" exista para me proporcionar tudo isso mais uma vez. É um filme diferente, que soube evoluir em temática, acompanhando seu público cativo. Mas também sabe fazer uso da nostalgia, trazendo você de volta ao conforto daquele mundo tão familiar. E, hoje, eu me sinto aquele garoto de 6 anos novamente.

A criadora e suas criações em forma viva.