quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Top 15 Álbuns de 2015 (& Extras) + Top 10 Músicas do Ano!

Chegou aquela época do ano. Não só a das festas, mas também a de pegar tudo o que você ouviu de novo ao decorrer de 12 meses, avaliar, ver o que foi melhor e o que foi pior. E, no meu caso, listar. Sim, a já tradicional lista do Ground Zero está de volta mais uma vez, e dessa vez ainda maior do que anteriormente! Confesso que gostaria de ter ouvido mais dos lançamentos de 2015, sinto que perdi algumas agradáveis surpresas, mas ainda assim devo dizer que o ano foi, assim como 2014, muito bom para a música. Tive a oportunidade de conferir alguns álbuns incríveis, e muitos deles chegaram até mesmo a superar minhas expectativas. Então, nada mais justo do que juntar tudo em uma lista e postar aqui.

Assim como fiz no ano passado, quis sair um pouco do formato tradicional e decidi que a publicação teria algo além das minhas escolhas para o Top 15. Dessa vez, entram também alguns lançamentos que merecem uma menção honrosa, seja porque não seguem o formato tradicional, seja porque valha uma homenagem, ou simplesmente porque eu quis ( ¯\_(ツ)_/¯ ). Além disso, resolvi incluir também as 10 músicas lançadas em 2015 que eu mais gostei, expandindo um pouco o propósito da postagem, mas mantendo-o 100% focado no mundo musical.

E, como gosto de ressaltar sempre, essa é MINHA lista de melhores do ano, baseada no MEU gosto musical. Sinto muito se você não encontrou seu disco preferido por aqui, mas é como dizem, melhor sorte na próxima vez (novamente: ¯\_(ツ)_/¯ ).

Mas chega desse papinho chato. Vamos ao que interessa!

TOP 15:

#15: MUMFORD & SONS - "WILDER MIND"


Devo confessar que nunca gostei muito do som do Mumford & Sons, aquele folk acústico nunca foi lá muito atrativo para mim, me dava um pouco de sono, simplesmente não agradava. Mas o grupo resolveu mudar sua abordagem, plugou as guitarras no amplificador e aproximou-se do Indie Rock. O resultado é "Wilder Mind", um bom e divertido CD que por ter dividido os fãs, mas é um prato cheio para os fãs do gênero.

#14: LAMB OF GOD - "VII: STURM UND DRANG"


Depois de toda a confusão envolvendo o vocalista Randy Blythe nos últimos anos, desde sua prisão ao seu julgamento e a campanha #FreeRandyBlythe, a banda finalmente pode gravar um novo disco em estúdio. E o resultado é o esperado de qualquer lançamento do Lamb of God: peso, visceralidade e vocais guturais, em mais um sólido registro do quinteto estadunidense. O grande destaque vai para a faixa "Overlord", na qual Blythe usa predominantemente vocais limpos e que tem uma pegada muito próxima do Grunge.

#13: DISTURBED - "IMMORTALIZED"


Foram 5 anos de hiato desde o ótimo "Asylum", de 2010. Mas o Disturbed felizmente está de volta, e em boa forma. E aparentemente essa longa pausa fez bem para os integrantes, que voltaram dispostos, energéticos e criativos, com tudo isso refletindo nas composições de "Immortalized", que sabem se arriscar e buscar alguns novos caminhos, mas sem deixar o peso característico para trás. E ainda surpreenderam com o ótimo cover de "Sound of Silence", clássico folk de Simon & Garfunkel.

#12: THE WINERY DOGS - "HOT STREAK"


Talvez não seja tão bom quanto o avassalador debut, que possivelmente criou parâmetros para as pessoas e foi o que as fez ficarem um pouco decepcionadas aqui. Mas é inegável a qualidade que "Hot Streak" nos apresenta, com o trio explorando outros caminhos além do virtuosismo que os levou à fama e flertando com vários outros gêneros, em uma combinação muito boa de se ouvir. Os músicos podem ter apostado em algo mais simples e direto, mas toda a competência pertinente aos mesmos se mostra bem presente. No aguardo para ver para qual direção Kotzen, Sheehan e Portnoy trilharão a seguir.

#11: DAVID GILMOUR - "RATTLE THAT LOCK"


Acredite ou não, mas esse foi o primeiro álbum de David Gilmour que ouvi além de sua carreira com o Pink Floyd. E devo dizer que foi uma experiência curiosa, pois, ao mesmo tempo que o guitarrista soa mais solto e confortável, toda a genialidade e competência do mesmo continua lá. "Rattle That Lock" é um disco leve, gostoso e divertido de se ouvir, destacando toda a qualidade de Gilmour como guitarrista e compositor. Recomendado, especialmente para os fãs de "A Momentary Lapse of Reason" e "The Division Bell", álbuns nos quais o artista tomou a dianteira em sua antiga e lendária banda.

#10: FAITH NO MORE - "SOL INVICTUS"


Uma das melhores bandas dos anos 1990, o Faith No More já havia voltado aos palcos faz alguns anos (e alguns inclusive devem se lembrar do ótimo show dos caras no Brasil durante o saudoso SWU, em 2011). A ideia de um novo registro já vinha sendo discutida há algum tempo, e felizmente 2015 foi o momento de ela sair do papel. "Sol Invictus" é um disco louco, cheio de experimentações com gêneros distintos, criatividade correndo solta e ritmos pouco convencionais. Ou seja, tudo o que o quinteto vinha fazendo desde o celebrado "Angel Dust", de 1991. Excelente retorno.

#9: TRIVIUM - "SILENCE IN THE SNOW"


O mundo está cheio de novas ótimas bandas de Metal, e o Trivium pode se orgulhar de ser uma das melhores atualmente. Depois de mudarem um pouco de ares no ótimo "Vengeance Falls", eis que eles resolvem modificar a sonoridade novamente. "Silence in the Snow" é um álbum maduro, conciso, que demonstra uma evolução constante no estilo dos caras, ao mesmo tempo que não deixa de ser pesado e agressivo. Diferente de tudo o que eles fizeram anteriormente, porém, suas músicas soam mais próximas do Metal clássico, com vocal limpo e guitarras mais contidas. O resultado é ótimo e eu mal posso esperar para conferir como será a próxima gravação.

#8: MUSE - "DRONES"


Depois de uma série de experimentações nos ótimos "The Resistance" e "The 2nd Law", o Muse prometeu fazer um trabalho mais simples em seu novo álbum. E é exatamente isso que "Drones" entrega: um som mais direto, pesado, agitado, mas não menos megalomaníaco do que o resto da discografia dos ingleses, ainda sobrando espaço para experimentar mais um pouco e até mesmo para soar épico em "The Globalist", a música mais longa do trio até hoje. Com uma abordagem política em suas composições, esse é um CD sólido e mais acessível do que os anteriores.

#7: BARONESS - "PURPLE"


Segundo James Hetfield, o frontman do Metallica, "Purple" foi a quinta melhor coisa que lhe aconteceu em 2015. É uma responsabilidade e tanto, mas o álbum certamente tem qualidade para tal. A coisa que mais me agrada no Baroness é que eles evoluem a cada lançamento, e aqui não foi diferente. O som do grupo está se tornando cada vez mais distinto, de um jeito que eles fazem Metal de um jeito belo, artístico e único. Fico feliz que as mudanças na formação tenham dado tão certo. Embora eu ainda esteja digerindo o trabalho, algo que, assim como os anteriores, não é uma tarefa tão simples, ele já me conquistou o suficiente para figurar na lista.

#6: HALESTORM - "INTO THE WILD LIFE"


Energético. Eclético. Variado. Divertido. Essas são apenas algumas palavras que eu poderia usar para descrever "Into the Wild Life", o mais recente lançamento do Halestorm. Gravado em apenas uma sessão, em uma tacada só, esse álbum apresenta um Hard Rock como há muito não se ouvia, com músicas músicas mais pesadas, músicas menos pesadas, belas baladas e uma pegada única. A melhor performance do quarteto, especialmente de Lzzy Hale, que simplesmente destrói nos vocais em cada uma das 13 (ou 15, na versão estendida) faixas. Uma maravilha de se ouvir, vinda de uma das bandas mais legais de hoje em dia.

#5: NOEL GALLAGHER'S HIGH FLYING BIRDS - "CHASING YESTERDAY"


Sou um grande fã do debut solo de Noel Gallagher, mas há de se concordar que ele não é exatamente a coisa mais rock n' roll já lançada, o que desagradou algumas pessoas. Em "Chasing Yesterday", entretanto, não é possível se dizer o mesmo: a sonoridade mais rocker do artista está de volta, ao mesmo tempo que ele não descarta totalmente sua sonoridade anterior. O resultado é ótimo, com 10 faixas bem feitas que vão do mais agitado ao praticamente introspectivo. Confesso que fiquei com um pé atrás ouvindo as primeiras músicas divulgadas, que não me agradaram logo de cara. Mas fui positivamente surpreendido, no fim tudo se encaixou como deveria e este é mais um trabalho incrível para o já longo currículo de Noel.

#4: VINTAGE TROUBLE - "1 HOPEFUL RD."


Conheci o Vintage Trouble nesse ano, e foi justamente com esse CD, que é apenas o segundo deles. Ainda não tive a oportunidade de ouvir o primeiro. Mas, nossa, como eu gostei de "1 Hopeful Rd.". Um som simples, que remete ao Rock Clássico e ao Blues Rock, mas com uma identidade própria, muito graças à fantástica voz do cantor Ty Taylor, um pouco melancólica e com forte influência da Soul Music. E os músicos podem não ser os melhores ou mais técnicos, mas tem qualidade o suficiente e sabem entreter o ouvinte. O mais divertido que ouvi em 2015, facilmente.

#3: BLIND GUARDIAN - "BEYOND THE RED MIRROR"


Provavelmente o álbum que mais ouvi nesse ano, eis mais um fantástico trabalho para a discografia do Blind Guardian, que, ao meu ver, é uma das bandas mais subestimadas do Metal. O estilo e a criatividade dos alemães continua forte em "Beyond the Red Mirror", mas, ao mesmo, tempo eles vem incorporando novos elementos a sua sonoridade, com fortes influências do Progressivo. Isso gerou várias faixas épicas, como a abertura "The Ninth Wave" e o encerramento (ou não, dependendo de qual versão você está ouvindo) "The Grand Parade", mas o grupo soube variar bem dentro das 10, ou 11, ou até mesmo 12 faixas que compõem disco (novamente, depende da versão). Recomendadíssimo.

#2: IRON MAIDEN - "THE BOOK OF SOULS"


Faz tempo que o Iron Maiden vem tornando seu som em algo cada vez mais próximo do Progressivo. Isso começou lá no mediano "The X Factor", e veio ganhando um pouco mais de força a cada novo lançamento, culminando no também mediano "A Matter of Life and Death", repleto de sons longos, e foi refinado no ótimo "The Final Frontier", que foi mais equilibrado, mas também com muitas músicas que facilmente passam dos 7 minutos. Mas foi com "The Book of Souls" que a banda atingiu sua melhor performance dentro da proposta, com empolgantes e belas composições de maior duração, ao mesmo tempo que possui praticamente o mesmo número de canções mais curtas, energéticas e diretas, de modo que elas estão intercaladas, o que não torna a audição tão cansativa. Ótima performance de todos os membros, principalmente Bruce Dickinson que, mesmo aos 57 anos de idade, continua cantando como poucos. Meu trabalho preferido dos britânicos desde "Dance of Death", até poderia ocupar a primeira posição em outras circunstâncias.

#1: GHOST - "MELIORA"


O grande diferencial de "Meliora" para todos os outros lançamentos desse ano é que ele foi muito bom em todos os aspectos possíveis. Já falei sobre ele aqui, e inclusive indiquei que o mesmo era um forte candidato ao melhor de 2015. Dito e feito, nada foi capaz de superá-lo. A tracklist é impecável, o som do grupo está melhor do que nunca, evoluiu em relação ao "Infestissumam", investiu no peso e os vocais do Papa Emeritus mantiveram a qualidade já conhecida.  Um festival de riffs e solos, uma bateria que melhorou muito se comparada aos anteriores, e faixas que já te conquistam logo na primeira audição. Novamente digo: esse é o trabalho mais forte do Ghost, e merece ser considerado como o melhor lançamento dos últimos 12 meses.

MENÇÕES HONROSAS:

FOO FIGHTERS - "SAINT CECILIA EP"


Não poderia incluir esse trabalho na lista de melhores álbuns, pois ele é apenas um EP. Ainda assim, o que foi feito aqui é tão bom que simplesmente não poderia passar em branco. O Foo Fighters entrega aqui 5 faixas incríveis, divertidas e completamente rock n' roll, deixando de lado o estilo conceitual de seu último disco e voltando um pouco ao som alcançado no excelente "Wasting Light". Realmente espero que o próximo trabalho completo da banda siga por essa abordagem, aprovada com louvor.

MOTÖRHEAD - "BAD MAGIC"


Devido à terrível ocorrência do falecimento de Lemmy Kilmister (RIP), acho válido dizer algumas palavras sobre "Bad Magic", o derradeiro disco da extensa carreira do Motörhead. Um trabalho divertido, até ousado em certo ponto, que apresenta o som característico da banda, mas sem a força de clássicos como "Ace of Spades", "Overkill" ou "Bomber". Ainda assim, um bom jeito de encerrar a discografia, sem desonrar o bom nome do grupo ou decepcionar os fãs. E que Lemmy seja sempre lembrado por sua boa música.

"MAD MAX: FURY ROAD - ORIGINAL MOTION PICTURE SOUNDTRACK"


Elogiei o uso da trilha sonora como parte fundamental do filme em minha curta crítica, mas devo dizer que ela funciona muito bem como um produto separado. As composições são incríveis e te transmitem toda a angústia e a adrenalina vistas em tela, mesmo sem a utilização de qualquer recurso visual. Aparentemente, "Estrada da Fúria" é um trabalho de gênio em todos os aspectos.

"STAR WARS: THE FORCE AWAKENS (ORIGINAL MOTION PICTURE SOUNDTRACK)"


Também já falei dessa aqui em minha análise completa (com spoilers) sobre o mais novo Star Wars, mas ela pode ser facilmente resumida como: mais uma trilha fantástica do genial John Williams. Composições fantásticas que funcionam muito bem por si só, mas que ficam ainda mais incríveis se acompanhadas do filme. E ainda apresenta novos temas marcantes, como "Rey's Theme" e "March of The Resistance", que tem tudo para tornarem-se referência nos anos que estão por vir.

TOP 10 MÚSICAS:

Como falei anteriormente, escolhi 10 das minhas músicas favoritas lançadas nesse ano e as rankeei nessa playlist. A ordem, assim como a do Top 15 Álbuns, é inversa: a primeira música é minha escolha #10, a segunda é minha escolha #9, a terceira é a minha escolha #8, e assim por diante. Não foi fácil me conter em apenas 10 faixas, pois, mais uma vez, 2015 teve muita música boa. Mesmo assim, espero que gostem da lista. Boa audição!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

ANALISANDO - "STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA" (2015)


Ah, Star Wars... A franquia que mais marcou minha vida está de volta. Foram 3 anos de espera desde o anúncio da compra da Lucasfilm pela Disney e a divulgação, no mesmo dia, que uma nova trilogia de Star Wars seria desenvolvida. Desde então, fui acompanhando cada nova notícia divulgada, cada imagem mostrada, cada vídeo lançado, sempre criando mais e mais expectativa pelo que estava vendo, aguardando todo dia mais ansiosamente para que "Star Wars: O Despertar da Força" fosse lançado. Pois bem, esse dia finalmente chegou, mais de uma semana atrás. Até o momento, já vi o filme duas vezes no cinema. E, cumprindo meu papel como fã e apreciador da sétima arte, acho justo vir até aqui compartilhar minhas opiniões sobre o longa, este que foi provavelmente o mais aguardado de todos os tempos.

Antes de mais nada, acho válido parabenizar o marketing da Disney e da Lucasfilm por toda a sutileza no trabalho de divulgação. Tão pouco foi divulgado nas imagens, nos trailers e nos comentários do elenco e da equipe que foi o suficiente pra deixar todo mundo animado ao mesmo tempo que não estragou a experiência para ninguém. Sei que chegou um momento, após a divulgação do último trailer, que vários vídeos começaram a ser lançados, mas eles não mostravam quase mais nada além do que já havia sido visto. Então, parabéns, obrigado, e espero que continuem com essa abordagem para a campanha dos dois próximos filmes (gostaria que se aplicasse a filmes em geral, mas sei que isso não vai acontecer).

E devo ressaltar também que este texto conterá SPOILERS. Sim, repito, SPOILERS. Então, se você ainda não assistiu "Star Wars: O Despertar da Força", pare de ler o texto aqui e agora. Acredite, VOCÊ NÃO QUER RECEBER SPOILERS DA TRAMA.

Enfim. Como foi, então, ver um novo Star Wars na tela do cinema, mais de 10 anos depois do lançamento de "A Vingança dos Sith"?

O RETORNO A UMA GALÁXIA MUITO, MUITO DISTANTE


"Star Wars: O Despertar da Força" tinha um grande desafio: trazer novamente a magia da franquia para as telas, após a má recepção da trilogia prelúdio, feita inteiramente por George Lucas. Mais do que isso, precisavam apresentar a saga para uma nova geração, ao mesmo tempo em que deveriam satisfazer as expectativas dos fãs de longa data. Com isso em mente, a equipe de produção decidiu levar em consideração tudo o que havia feito sucesso. Games, livros, quadrinhos, a animação "Clone Wars" e, é claro, a trilogia original, composta por "Uma Nova Esperança", "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi".

Através disso, moldaram os personagens do filme, a trama, referências, cenários... Repaginaram o Império e a Aliança Rebelde como a Primeira Ordem e a Resistência e os trouxeram para um novo contexto político, em que a Nova República governa a Galáxia. Descartaram o uso predominante de fundos verdes e computação gráfica, e voltaram ao básico, usando efeitos práticos, localizações existentes e cenários reais, assim como nos filmes originais. E, obviamente, as grandes marcas registradas de Star Wars, como o letreiro e a música tema, foram resgatadas.

E o êxito foi obtido, devo dizer, com toda a glória e louvor. O longa fez eu me sentir em casa, com todos os seus elementos familiares, mas que ao mesmo tempo não são meras cópias. A utilização dos efeitos práticos foi a melhor decisão que poderia ter sido tomada para esse filme, pois tudo em tela parece extremamente vivo, real, tátil e convincente, algo que dificilmente seria alcançado com o uso exacerbado de CGI. Na verdade, o uso de criaturas, fantasias e droides funcionais fez com que as poucas vezes que a computação foi usada em tela ficassem um pouco deslocadas, vide Maz Kanata e Líder Supremo Snoke, que, apesar do excelente trabalho feito em suas criações e captura de movimentos, não ficaram tão convincentes quanto o resto.

A maior prova desse sucesso pela equipe de efeitos se dá pela criação de BB-8. O pequeno robozinho esférico foi desenvolvido para funcionar plenamente. Sim, ele realmente existe e sai rolando por aí sem maiores problemas. O trabalho realizado com o droide foi simplesmente fantástico e o tornou ainda mais real, sendo facilmente uma das melhores coisas do filme. O mesmo pode ser dito sobre R2-D2, que, apesar de ter pouco tempo de tela, também é completamente automatizado (o que deve ser um alívio para o ator Kenny Baker, por não ter mais que passar horas e horas de gravação enlatado).

E eu nem citei os demais elementos que fizeram de Star Wars um sucesso. A Força, sabres de luz, naves, batalhas espaciais bem feitas... Tudo está lá, devidamente atualizado e ainda extremamente comovente. Quando Han Solo diz "Chewie, estamos em casa", acredito que essa fala traduza o sentimento de todos os espectadores.

APRESENTANDO O NOVO E HONRANDO O ANTIGO


Então, que ótimo que esse resgate dos velhos efeitos e elementos deu certo. Mas um filme não pode viver apenas disso e da nostalgia dos fãs ao verem algumas de suas coisas favoritas na tela. Ele precisa de novidades.

E elas existem, sendo apresentadas da melhor maneira imaginável. Isso se aplica, principalmente, aos personagens. Novas faces foram introduzidas à franquia, e desde o primeiro momento elas já se mostram facilmente relacionáveis. Para começo de conversa, nada melhor do que falar da Rey, a sucateira que na verdade é a grande protagonista de "O Despertar da Força". Forte, destemida, ágil, talvez um pouco teimosa, mas carismática o suficiente para liderar a história e a franquia pelos próximos anos. Junto a ela temos Finn, o desajeitado Stormtrooper desertor que possui um bom coração e tem um fantástico tempo de comédia, ao mesmo tempo que vê sua coragem crescer com o decorrer do longa. Há também de se falar de Poe Dameron, o melhor piloto da Resistência que aparentemente também é o cara mais legal daquela galáxia. E, claro, BB-8, o droide de Poe, que nos fornece algumas das melhores cenas do filme e ainda consegue se expressar e demonstrar emoções. Novamente digo: uma das melhores coisas do novo Star Wars.

Do lado dos caras maus, também temos novas peças. O antagonista principal e de maior destaque é Kylo Ren, um fantástico personagem e vilão em construção que tem potencial para se tornar um dos grandes. Instável, descontrolado, impaciente e cheio de si, ele tem a ambição de ser tão poderoso quanto Darth Vader, mas é exatamente o oposto de seu avô. Sim, ele ainda por cima é um Skywalker, filho de Leia com Han Solo, dando continuidade ao legado amaldiçoado da família. Ao seu lado, encontra-se General Hux, um militar que parece ter sido moldado diretamente pela juventude nazista, com seus grandiosos e vagos discursos e tendo fascínio pelo belicismo. E, liderando toda a Primeira Ordem ao mesmo que disciplina Ren nos caminhos do Lado Sombrio da Força, há o Líder Supremo Snoke, uma figura enigmática, de face toda distorcida e repleta de cicatrizes, da qual pouco se sabe sobre, exceto de que ele já existe há centenas de anos e é sábio. Entretanto, é alguém cuja presença impõe respeito imediato.

Merecem destaque também alguns personagens secundários, como Unkar Plutt e Maz Kanata que, embora com pouco tempo de tela, tem papéis fundamentais para o desenvolver da trama. As novidades, porém, não se resumem a isso. Foram criados novos planetas, como Jakku, Takodana e todo o Sistema Hosnian. É em Takodana, inclusive, que temos uma das mais belas cenas do filme, com a Millenium Falcon sobrevoando o lago do local. Há novas naves, raças alienígenas, droides secundários. Até uma nova arma de destruição em massa foi criada: a Base Starkiller, um híbrido de planeta com a Estrela da Morte que usa a energia de estrelas para realizar seus disparos e destruir tudo o que há pela frente. Ela serve como lar da Primeira Ordem e é uma ameaça ainda maior do que as que já foram vistas antes.

Todos esses novos elementos, porém, não significam que tudo feito anteriormente foi esquecido, descartado e substituído. Muito pelo contrário. Aliás, esse é um dos maiores trunfos de "O Despertar da Força": todo o seu respeito e celebração ao material original, com a inclusão de diversas referências e fan-services nada gratuitos, cria o elo entre os fãs e tudo que foi apresentado pelo novo filme. E o melhor de tudo é que eles resgataram os personagens que pelo menos 3 ou 4 gerações cresceram amando. Han Solo, Chewbacca, Leia, Luke, C-3PO, R2-D2, estão todos lá, interagindo de forma fantástica com os novatos e tendo tempo de tela o suficiente para alegrar a todos. E não acaba por aí: o retorno da Millenium Falcon (e as incontáveis referências dentro da própria), X-Wings e Super Star Destroyers caídos no deserto de Jakku, a repaginada no visual dos Stormtroopers, diversas falas... Até mesmo a Base Starkiller é uma homenagem óbvia às duas Estrelas da Morte, ao mesmo tempo que é uma evolução lógica do pensamento dos remanescentes do Império Galáctico nos 30 anos que separam o longa de "O Retorno de Jedi".

O melhor exemplo dessa conciliação entre o novo e o antigo se dá, ao meu ver, durante a cena em que Finn tenta usar o canhão da Millenium Falcon. Ele havia acabado de sair de uma das novas TIE Fighters, com seus controles todos modernos e de fácil manuseio, e então se depara tendo que usar aquele trambolho, todo duro, difícil de acertar a mão e que ainda conta só com aquela telinha que usa um 3D bem básico, que era o melhor que se podia obter com os efeitos digitais em 1977, quando "Uma Nova Esperança" foi lançado. Um momento bem divertido de se assistir, mas com um significado muito maior por trás (e que ainda serve como um indicativo de como a tecnologia evoluiu na Galáxia durante todos esses anos).

"O LADO SOMBRIO... E A LUZ"


"Star Wars: O Despertar da Força" não tem esse título a toa.

Um dos maiores destaques do filme se dá pela maneira como ele apresenta a Força para a audiência. Durante a saga, sempre se ouviu sobre sua magnitude, que o poder de destruir um planeta nada era comparado a ela, que a mesma envolvia todas as formas de vida e fluía sobre elas. Entretanto, pouco foi de fato mostrado além da levitação de alguns objetos (o mais impressionante sendo a X-Wing levitada por Yoda em "O Império Contra-Ataca"), enforcamento sem o uso das mãos, truques mentais e raios. O clamor dos fãs por mais sempre foi grande desde o fim da trilogia original, e acabou não sendo correspondido nos episódios I, II e III, agravando ainda mais a decepção com os mesmos.

Felizmente, o novo longa cumpre esse papel de modo esplendoroso. Nunca a Força esteve tão visceral em tela. Novas habilidades foram demonstradas, como conseguir parar um tiro de laser no ar, congelar uma pessoa por completo, vasculhar a mente de alguém, torturar e até mesmo resistir à tortura (e ainda conseguir revertê-la). As aparições de Kylo Ren são puro deleite para qualquer fã por conta disso, especialmente sua entrada, na qual ele deixa o disparo parado ao mesmo tempo em que congela Poe Dameron, assassina Lor San Tekka, dá mais alguns comandos, sai de cena e só então deixa o projétil prosseguir seu caminho. É um tipo de domínio jamais visto, nem mesmo Darth Vader chegou a demonstrar tamanho poder antes (muito devido às limitações da época, mas enfim).

Outra coisa relacionada à Força que a película soube fazer foi diferenciar as duas facetas da mesma. O Lado Sombrio tem como seu principal representante o próprio Kylo Ren, que é alguém descontrolado, dominado por sua raiva e suas demais emoções, com um constante conflito dentro de si, tendo que, curiosamente, resistir ao chamado da bondade. Oposto a ele está Rey, a figura fluente na Luz, que é alguém forte e centrada, além de moldada pelas dificuldades da vida no deserto de Jakku. Essa divisão se mostra bastante clara em dois momentos: o primeiro deles é através da fantástica fotografia da cena da (triste e inacreditável) morte de Han Solo, na qual o mesmo fica cara a cara com seu filho, que tem sua face parte coberta pela luz e parte sombra, até que a luminosidade, proveniente da estrela que estava recarregando a Base Starkiller, some, o rosto de Ren fica dominado pela escuridão e ele então assassina seu pai. O segundo momento se dá na batalha final entre Kylo e Rey na floresta, a qual está completamente escura, tendo iluminação apenas pelas lâminas dos sabres de luz, além, é claro, do antagonista usando da dor de seu ferimento para conseguir força para o confronto, enquanto a garota mantem-se focada e deixa a Força fluir para enfrentá-lo.

Aliás, é importante falar sobre a Rey. Como citado anteriormente, ela é a protagonista do filme e, não a toa, é nela que ocorre "o despertar da Força". E ela é muito poderosa com a Força. Poderosa até demais. De alguém que achava que a Força era apenas um mito para alguém que conseguiu resistir à tortura de Kylo Ren, usou truque mental em um Stormtrooper para ser libertada, puxou o sabre de luz da neve e deixou que a própria Força guiasse seus movimentos durante o confronto final, ela com certeza aprende rápido. Ou a Força sempre esteve com ela, mas a jovem nunca soube disso. Ou então já teve treinamento Jedi prévio quando muito nova, antes de ser deixada em Jakku. O fato é que seu passado ainda é um mistério, pouco se sabe sobre quem é sua família ou sobre o que aconteceu em seu passado, mas uma coisa é certa: todo esse domínio e facilidade não foram a toa, e também não serão ignorados nos episódios VIII e IX. Então, preparem-se para uma boa explicação sobre as origens da sucateira, que já é uma das favoritas de muitos (eu incluso).

"MÚSICA POR JOHN WILLIAMS"


Quando a Disney anunciou a produção de "Star Wars: Episódio VII", uma das minhas maiores preocupações foi "quem iria compor a trilha sonora?", pois toda a saga teve sua música composta pelo genial John Williams. Isso se agravou um pouco quando J.J. Abrams foi confirmado como diretor, pois ele costuma trabalhar com Michael Giacchino nas trilhas de seus filmes e, embora este seja fantástico, John Williams é incomparável, e isso também acabaria com a tradição da franquia.

Felizmente, alguns meses depois, Williams foi confirmado não apenas para este longa, mas como compositor de toda a nova trilogia. E, assim, eu pude respirar aliviado, pois o homem por trás dos temas não apenas de Star Wars, mas também de Indiana Jones, Superman, ET - O Extraterreste, Jurassic Park, Harry Potter, entre muitos e muitos outros filmes com músicas memoráveis, estava de volta. Pelo menos musicalmente o filme já estava garantido (porque, convenhamos, mesmo muita gente não gostando da trilogia prelúdio, é inegável o quão fantástica a trilha daqueles filmes é).

E devo confessar uma coisa: da primeira vez que assisti ao filme, quase não reparei nas músicas, talvez por estar embasbacado com o espetáculo visual e as novidades que me foram apresentadas, e provavelmente porque toda minha ansiedade para finalmente ver o novo Star Wars tenha me tirado o foco. Duas das novas me chamaram a atenção: a que toca quando vemos as primeiras cenas da Rey em Jakku e quando a própria está subindo as escadas e montanhas da ilha no planeta em que Luke Skywalker está. Mas fora isso, nada mais me prendeu tanto a atenção.

Então, fui ouvir a trilha sonora quando cheguei em casa. E fui surpreendido, porque aquilo tudo era muito bom e eu não lembrava de quase nada daquelas faixas tocando nas 2:16h que fiquei sentado no cinema. Quando fui ver pela segunda vez, consegui reparar, entre várias outras coisas, no quão boas as músicas eram e como elas combinavam com o ritmo do filme, praticamente ditando-o. Mais um trabalho de gênio para a conta de John Williams.

O tema de destaque da vez é justamente a música "Rey's Theme", que é belíssimo, evolui tal qual a personagem para quem é destinado durante o filme e possui um leve toque de Harry Potter em sua composição. Além disso, é a que mais se faz presente na trilha sonora, tendo seus trechos principais reproduzidos em 6 ou 7 outras faixas. Merecem destaque também "Kylo Ren Arrives at the Battle", que marca uma ameaçadora passagem que sempre toca durante as aparições do antagonista, "March of The Resistance", o tema da Resistência que parece uma fanfarra de guerra no melhor estilo dos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, e "The Jedi Steps and Finale", que é reproduzida durante o encontro entre Rey e Luke nos minutos finais de "O Despertar da Força" e já é emendada com o ótimo medley dos créditos.

A única reclamação que eu posso fazer sobre a trilha sonora é que, fora "Rey's Theme" e "March of The Resistance", não há nenhuma outra grandiosa e contínua música, a exemplo das clássicas "Imperial March" e "The Asteroid Field". Mas isso é quase irrelevante, pois a trilha de "Uma Nova Esperança" também não conta com os grandes e favoritos temas, que só vieram em "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi". Então, acredito que faixas mais completas para a Primeira Ordem e também para Kylo Ren venham no Episódio VIII.

E, hey, John Williams já está com 83 anos. É incrível que ele tenha entregue algo de tão alto nível com uma idade tão avançada. Genialidade é algo que não se perde, e eu mal posso esperar para ouvir as composições das duas vindouras sequências.

A FORÇA É PODEROSA NESSE FILME,  MAS NEM SEMPRE


Embora eu só tenha elogiado "Star Wars: O Despertar da Força" até agora, é necessário reconhecer que o filme tem sim seus problemas. Esse foi, inclusive, um dos motes das conversas que tive com amigos sobre ele: que é ótimo, mas não é isento de falhas. Nada muito grande que o transforme em um novo "A Ameaça Fantasma" ou "O Ataque dos Clones", mas o suficiente para incomodar um pouco e digno de nota em qualquer análise feita.

Em primeiro lugar, Capitã Phasma. Que propaganda enganosa. Divulgada como poderosa, intimidadora e cruel, ela, que é uma Stormtrooper cromada e que ainda usa capa, não mostrou ao que veio em Episódio VII, sendo completamente inútil e, ainda por cima, alvo da piada sobre o compactador de lixo, referência à icônica cena de "Uma Nova Esperança". Eu sinceramente espero que ela retorne para o próximo filme e tenha uma participação que faça jus a sua tão imponente imagem, especialmente depois de ser caçoada por Finn, anteriormente seu subordinado.

Outra coisa que incomodou a mim e quase todos com quem falei foi a falta de maiores explicações sobre a situação política da Galáxia naquele momento. É dito o suficiente para você poder aproveitar o longa sem problemas, mas é uma explicação bem vaga e que levanta diversas perguntas posteriores, como "qual a abrangência dos domínios da Nova República?", "qual é o tamanho e a relevância da Primeira Ordem?" ou "por que deve haver uma Resistência?". Não que eu queira ver um monte de cenas de blábláblá no Senado Galáctico como na trilogia prelúdio, mas poderiam ter incluído pelo menos mais uma cena explicativa, como aquela em que o Grand Moff Tarkin diz que o Senado foi dissolvido em "Uma Nova Esperança", para deixar tudo mais claro. Felizmente, o material lançado junto com o filme nos EUA trouxe algumas respostas, e você pode conferi-lo AQUI. Fica claro, então, que existia uma espécie de Guerra Fria até aquele momento.

Por fim, não acho que a Base Starkiller deveria ter sido destruída já no começo dessa nova trilogia. Talvez fosse melhor ela nem estar em funcionamento ainda, deixando-a como ameaça para as sequências. Mas, se é para ela estar operante, gostaria mais que apenas a deixassem inutilizada, e e não que ela fosse obliterada por completo. E nem culpo tanto o engenheiro da mesma por sua destruição, pois dessa vez ainda tentaram proteger seu ponto fraco. Para se ter ideia, Han, Finn, Chewie e Rey tiveram que destruir a proteção por dentro para a X-Wing de Dameron poder invadir o ponto fraco e detonar a base, ou seja, houve um esforço muito maior. De qualquer modo, concordo com quem diz que tal ponto fraco poderia ser ainda mais protegido e próximo do núcleo da Starkiller. Aparentemente, engenharia não é uma profissão muito valorizada na Galáxia Muito Muito Distante, ou talvez eles também tenham problemas de superfaturamento por lá.

Há quem reclame que o roteiro de "O Despertar da Força" seja muito semelhante ao de "Uma Nova Esperança", e, embora eu concorde que eles tenham vários elementos em comum (o que achei bom e até necessário), a história contada pelo novo filme é outra, os acontecimentos semelhantes ocorrem em ordem diferente, e, a partir do momento da captura da Rey, as tramas divergem totalmente. Tem até quem desgoste da própria Rey e sua facilidade em controlar a Força, mas, como dito anteriormente, isso não foi a toa e certamente veremos uma explicação para tal no Episódio VIII.

DAISY RIDLEY E JOHN BOYEGA


Poderia parabenizar todos os atores por suas performances em Episódio VII. Desde o veterano Harrison Ford a aos mais novos Oscar Isaac e Adam Driver, todos entregaram atuações sólidas, convincentes, carregadas de emoção e qualidade, de modo que esse é facilmente o melhor Star Wars de todos no quesito. Até a Carrie Fisher, tresloucada e um "pouquinho" sequelada dos anos de abuso das drogas, mandou bem quando em cena.

O maior destaque, por outro lado, fica para os novatos Daisy Ridley e John Boyega. Os dois atores ingleses eram totalmente desconhecidos do público, nunca tendo feito nada relevante, e foram as melhores surpresas que os fãs poderiam ter. O desempenho de ambos é fantástico, não poderiam ter escolhidos pessoas melhores para liderarem este novo capítulo da franquia. Daisy domina todas as cenas em que está presente, sabendo se expressar, se posicionar, entonar sua voz... E nada soa ou parece artificial em momento algum. John, por sua vez, tem como sua maior qualidade a expressão corporal e o fantástico tempo e senso de humor, dando o tom cômico necessário e suficiente para o filme, do mesmo modo que ocorria nos originais.

Fico verdadeiramente feliz que o futuro da saga esteja em tão boas mãos, e que eles ainda serão vistos no mínimo pelos próximos dois longas. E o melhor de tudo é que os dois são muito jovens, ambos com 23 anos, e tem o potencial para crescerem, evoluírem e nos surpreenderem ainda mais. Suas carreiras serão acompanhadas com grande interesse.

O VEREDITO


Pelo texto, acho que ficou clara minha posição em relação ao filme. EU AMEI. Cada segundo dentro da sala do cinema foi mágico e único. E, por incrível que pareça, conseguiu ficar ainda melhor na segunda vez que assisti. Toda a minha espera de meses foi recompensada e minhas expectativas, que já estavam no teto, conseguiram ser superadas, graças ao cuidado, respeito e paixão envolvidos nessa que, sem dúvidas, pode e merece ser chamada de obra cinematográfica.

Apesar da longa análise, eu ainda não consegui abordar alguns dos meus aspectos favoritos, como o jeito que o duelo de sabres de luz foi apresentado, de forma mais realista e bruta, ao invés de algo repleto de firulas sem necessidade como na trilogia prelúdio. Ou o quão fantástica é toda a fotografia do longa em seu total, ou o ótimo ritmo que o filme possui. Ou até mesmo como os Stormtroopers finalmente parecem ameaçadores e finalmente tem precisão em seus tiros, ao mesmo tempo que ainda servem como bons alívios cômicos nos mais variados momentos. Isso só deixa ainda mais explícito o quão rico e cheio de detalhes o Episódio VII é.

De qualquer forma, acredito que tenha conseguido expressar no decorrer do texto o que "Star Wars: O Despertar da Força" tem de melhor. Visual fantástico, som de qualidade, atuações incríveis, personagens cativantes, boa e convincente trama, humor, aventura, drama, referências, homenagens, Millenium Falcon, sabres de luz, Força, batalhas espaciais, e uma conexão perfeita entre o antigo e o novo. Acima de tudo, uma experiência fantástica e única, pois jamais haverá novamente o sentimento de ver um novo Star Wars nos cinemas, depois de tanto tempo. Facilmente um dos melhores do ano, atrás apenas de "Mad Max: Estrada da Fúria".

...

Ah, quem eu estou querendo enganar? Dane-se Mad Max, ninguém ligava pra essa franquia até o lançamento do novo filme! "O Despertar da Força" é meu filme favorito de 2015. É Star Wars, voltando ao que jamais deveria ter deixado de ser, trazendo todos os personagens mais amados de volta e sendo liderado por uma das melhores protagonistas femininas já vistas. Nem mesmo os pequenos problemas reduzem a magnitude do que essa produção representa.

E que venha o Episódio VIII! Falta muito para maio de 2017 ainda?

NOTA: 9,0

FICHA TÉCNICA

"STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA" ("STAR WARS: THE FORCE AWAKENS"), EUA/Inglaterra, 2015
Uma parceria LUCASFILM LTD e BAD ROBOT PRODUCTIONS
DIRETOR: J. J. Abrams
PRODUZIDO POR: J. J. Abrams, Kathleen Kennedy, Lawrence Kasdan, Bryan Burk, e outros
ROTEIRO POR: J. J. Abrams, Lawrence Kasdan e Michael Ardnt
MÚSICA POR: John Williams
ESTRELADO POR: Harrison Ford, Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Lupita Nyong'o, Andy Serkis, Domhall Gleeson, Anthony Daniels, Peter Mayhew e Max Von Sydow

TRAILER



TRILHA SONORA

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

ESPECIAL METAL GEAR SOLID - "They played us like a damn fiddle!"


Olá! Sou fã de Metal Gear Solid há muito tempo e, devido ao lançamento de "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain" no próximo dia 01/09, resolvi fazer uma série de postagens especiais para celebrar tanto o novo game quanto o encerramento da épica criação de Hideo Kojima. Mas não contarei a trama da saga ou farei reviews de cada título, e sim falarei um pouco das minhas experiências com os jogos na ordem em que eu os descobri, coisa que, acredito eu, muitos irão se identificar.

Confira as postagens anteriores abaixo:
PARTE 1 - PARTE 2 - PARTE 3 - PARTE 4

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2012, mais uma vez.

Enquanto eu jogava "Peace Walker" tranquilamente no conforto da minha casa, já tendo terminado-o, algo aconteceu durante a Tokyo Game Show. Já tinha um tempo que rumores vinham circulando pela web, e eles foram confirmados com o anúncio de que um novo Metal Gear Solid estava a caminho. Anunciado como "Metal Gear Solid: Ground Zeroes", ele seria uma sequência direta de "PW" e traria Big Boss novamente ao protagonismo. E um trailer de 13 minutos foi lançado.

Aquilo era a coisa mais bela que eu já havia visto relacionada a video-games até então.

Um gráfico realista ao extremo, com todos os detalhes de feição humana e cenário possíveis de se imaginar. Efeitos de luz e água perfeitamente criados num mundo digital, graças ao poder da fantástica "FOX Engine". Um clima mais tenso do que tudo visto antes. Um novo, misterioso e desfigurado vilão, que aparentava ser o chefe de uma também nova e misteriosa organização. O retorno de personagens conhecidos como Chico e Paz. E aquilo sairia para Xbox 360. Cara, eu realmente precisava colocar minhas mãos naquele jogo o mais rápido que pudesse.

Em dezembro daquele mesmo ano, um game chamado "The Phantom Pain", desenvolvido por uma empresa desconhecida chamada "Moby Dick Studios" e com a direção de um tal de "Joakim Mogren" foi anunciado durante a Video Game Awards, e ele tinha gráficos extremamente semelhantes aos apresentados pela FOX Engine em "Ground Zeroes". Rumores e teorias se espalharam de que aquele se tratava na verdade do "Metal Gear Solid 5", fortalecidos por uma vasta gama de fatos (como Joakim = Kojima, esse Moby Dick Studios havia sido criado a pouquíssimo tempo e o personagem do vídeo era muito semelhante ao Big Boss). Tudo isso se confirmou em 2013 durante a Game Developer Conference, com Kojima revelando ser mesmo o tal Mogren e confirmando pela primeira vez "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain". O jogo apareceu mais uma vez durante a E3 em junho, aproveitando o anúncio do PS4 e do Xbox One e sendo oficializado para tais consoles e também para X360, PS3 e PC.

OK, muito bacana, meu hype foi a mil com tudo isso. Mas e o tal do "Ground Zeroes"?

Hideo Kojima esclareceu a situação depois. No fim, ambos os games seriam lançados, mas eles seriam parte de algo maior, chamado por ele de "MGSV Experience". Assim, teríamos "Metal Gear Solid V: Ground Zeroes", servindo como um prólogo, e "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain", que seria o jogo principal. Beleza, dois jogos, não tinha por que reclamar. Pouco depois, em 2013 mesmo, foi anunciado de que GZ seria lançado em 18 de março do ano seguinte para PS3, PS4, Xbox 360 e Xbox One. E lá fui eu direto embarcar no trem das expectativas...

Quando o jogo veio a público, porém, não foi exatamente o que se esperava.

A maior parte das críticas que "Ground Zeroes" recebeu foi por causa de sua duração. O jogo tem apenas uma missão principal, que pode ser concluída em cerca de 2 horas na primeira vez que é jogada e em apenas 5 minutos (ou até menos) caso um jogador habilidoso resolva fazer uma speed-run. Fora isso, ainda há mais 5 (ou 6, caso você jogue a versão de PC) missões extras, sem relação alguma com a trama. E isso é muito pouco quando se trata de um game que leva "Metal Gear Solid" em seu título. Mesmo com reconhecimento dos gráficos espetaculares e uma boa diversidade de extras, bem como o trabalho necessário para se conseguir 100%, muita gente disse esse não passava de uma "demo técnica".

Kojima se retratou após o lançamento e as críticas sofridas pelo título. Seu argumento foi o de que apenas lançou "MGSV:GZ" devido ao tempo necessário para o desenvolvimento completo do jogo principal, algo que ainda estava longe de ocorrer na época. Assim, o jogador poderia ter uma chance de conferir todas as novidades prometidas, além de ter um tempo para se acostumar a várias das novas mecânicas que estariam presentes em "TPP". E foi prometido conteúdos extras através da transferência de saves entre os dois capítulos.

Eu só tive a oportunidade de jogar "Metal Gear Solid V: Ground Zeroes" nesse ano, em junho, quando comprei a versão para PC (que só saiu em dezembro do ano passado). E, mesmo assim, joguei bem pouco, apenas completei a missão principal, pois estava sem tempo na época. Mas já foi o suficiente para me impressionar, seja com toda a beleza gráfica e os detalhes, o novo gameplay (atualizado e com comandos semelhantes aos dos FPSs atuais, pelo menos quando se usa um controle), a liberdade e as várias opções de como executar o objetivo. Mesmo assim, fico feliz de ter pego um bom desconto durante a Steam Summer Sale, pois o jogo realmente não vale o preço que ele foi vendido por aqui em sua versão para os consoles (muito embora ele seja bem mais barato para PC, corrigindo essa injustiça de certa forma).

Eu pretendia jogá-lo mais antes do lançamento de "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain", mas nesse momento estamos às portas de seu lançamento... Bom, talvez ainda dê para aproveitá-lo, pois não sei quando conseguirei por as mãos no novo jogo. Eu só espero que seja logo (já estou movendo meus pauzinhos para isso faz um tempo).

E é isso.

"Tá, mas e o MGS4?"

Eu nunca joguei "Metal Gear Solid 4: Guns of The Patriots". Não tenho PS3, apenas X360. Mas já assisti todas as (8:30h) de cutscenes do game no Youtube, e devo dizer que fiquei extremamente satisfeito em como a história de Solid Snake foi concluída. A experiência de jogá-lo deve ser ainda melhor (como sempre é), e ainda espero um dia conseguir comprar um PlayStation 3, nem que seja apenas para esse propósito.

De qualquer forma, foi um prazer poder compartilhar minhas memórias e impressões sobre games que gosto tanto, e sem dúvidas são os meus preferidos, com uma boa distância para qualquer outro existente. Para finalizar, deixo aqui o trailer final de "The Phantom Pain", mostrando a evolução da franquia.



V HAS COME TO. Bom "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain" para todos!

domingo, 30 de agosto de 2015

ESPECIAL METAL GEAR SOLID - "From now on... Call me Big Boss!"


Olá! Sou fã de Metal Gear Solid há muito tempo e, devido ao lançamento de "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain" no próximo dia 01/09, resolvi fazer uma série de postagens especiais para celebrar tanto o novo game quanto o encerramento da épica criação de Hideo Kojima. Mas não contarei a trama da saga ou farei reviews de cada título, e sim falarei um pouco das minhas experiências com os jogos na ordem em que eu os descobri, coisa que, acredito eu, muitos irão se identificar.

Confira as postagens anteriores abaixo:

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"And, now, for something completely different..."

A essa altura, já tendo jogado 3 títulos por completo, eu achei que já conhecia Metal Gear Solid bem o suficiente e que nada mais poderia me surpreender. Felizmente, esse tal de Hideo Kojima discordava completamente disso.

"Metal Gear Solid: Peace Walker" saiu, originalmente, para PSP em 2010. E eu até cheguei a ter contato com o game uma vez através de um amigo, mas a falta de um segundo analógico no portátil não o tornava da experiência a mais agradável, e demoraria um pouco até eu me acostumar com os comandos adaptados. Sendo assim, acabei deixando-o de lado, até por achar que esse era um spin-off como "Metal Gear Solid: Portable Ops" e que contaria apenas partes pouco essenciais para o entendimento da história.

Vocês podem imaginar, então, qual foi minha reação ao me deparar com tal jogo remasterizado em HD incluso na coletânea para X360. Ainda por cima, sem seu antecessor junto. Dei uma pesquisada na internet, e só aí descobri que "Portable Ops" não havia sido dirigido por Kojima e por isso foi deixado de fora, sendo então considerado "parcialmente canon". "Peace Walker", por outro lado, era um jogo feito pelo criador da saga e, mais do que isso, o início de um novo e derradeiro capítulo no enredo de MGS, completando o que foi iniciado em 1987 com "Metal Gear" para computadores MSX.

Assim, dando procedência à minha maratona de jogatina em 2012, chegou a vez de jogar MGS:PW. Como dá pra imaginar, eu estava bem animado, pois era um jogo completamente inédito para mim.

Eis que o inesperado entra em ação.

"Novidade". Se tem alguma palavra para descrever "Metal Gear Solid: Peace Walker", é essa. Porque eu me deparei com algo que não era o que eu estava acostumado. Praticamente tudo foi mudado: menus, interface, apresentação, opções, modos. Até o "pré-título", algo que pouca gente dava atenção (quando notavam sua existência), mudou: o tradicional "Tactical Espionage Action" tornou-se "Tactical Espionage Operations". E essa modificação, por mais insignificante que pareça, representou uma virada radical no estilo do game.

Todos os jogos da franquia eram lineares, seguiam seu caminho e aconteciam de forma contida em si. Mas não "Peace Walker": o velho sistema de jogo foi substituído por missões. 33 principais e mais 128 extras, totalizando em 161. E agora você tinha que gerenciar a "Mother Base", o centro de operações da "Militaires Sans Frontieries" (uma alusão aos mundialmente famosos "Médicos Sem Fronteiras"), a nova organização militar de Snake e Kaz Miller (que já havia "aparecido" em MGS1), que começava como uma pequena plataforma marítima no meio do nada. E para manter o local, era necessário recrutar soldados, que podiam ser encontrados nas missões e extraídos através do "Fulton Recovery System" (um sistema que de fato foi usado pelo Exército Estadunidense). Quanto mais soldados e mais alta a classificação deles (dependendo também da especialização de cada um), mais a Mother Base evoluía. Não só isso: novos equipamentos e armas eram desenvolvidos e melhorados, os suprimentos iam sendo reabastecidos, integrantes feridos eram curados mais rápido. E sim, os outros membros da MSF podiam ficar feridos, pois era possível enviá-los em missões paralelas próprias, as "Outer Ops", nas quais não dava, porém, para controlá-los, apenas montar o melhor time possível e colocá-los em ação.

Claro que uma organização militar não estaria completa sem algumas máquinas de guerra. Era possível consegui-las também em missões, bastava não destruí-las em combate. Sim, havia meios para tal, bastava atingir apenas o piloto, e assim era possível pegar tanques, veículos blindados e helicópteros dos mais variados tipos. A parte mais legal, porém, era a oportunidade de construir seu próprio Metal Gear, o ZEKE, ao coletar partes "deixadas" pelos chefes ("Pupa", "Chrysalis", "Cocoon" e "Peace Walker", todos máquinas) e também roubar chips que formam suas inteligências artificiais. Quando pronto, você podia mudar suas cores e até mesmo adicionar algumas partes extras, também obtidas pelos chefões. Ah, e todo esse maquinário da destruição podia acompanhar os soldados durante as "Outer Ops".

Devido ao novo sistema de missões, o modo de se apresentar a história também foi modificado. As cenas em computação gráfica foram substituídas por uma espécie de história em quadrinhos animada na maior parte do tempo (devido às limitações do PSP), sendo algumas dessas interativas, parecendo minigames. Há também algumas gravações de áudio com informações complementares. E foi adicionada uma divisão por capítulos, que se referem mais ou menos a umas 5 ou 6 missões consecutivas. Tudo isso, ao meu ver, não interferiu em nada. Pelo contrário: só facilitou a compreensão da trama, que, aliás, é maravilhosa. Foi a primeira vez desde MGS3 que eu não sabia absolutamente nada sobre ela, então tive uma experiência quase única e aproveitei cada segundo daquele enredo que, surpreendentemente, se distanciava um pouco da completa (e fantástica) loucura da franquia e era algo mais leve e introspectivo, repleto de personagens interessantes como Amanda, Chico, Paz, Huey e Dr Strangelove. E Kaz se mostra um excelente parceiro, tem função essencial e só cresce no decorrer do jogo.

A coisa mais marcante, porém, é o tema oficial do jogo. "Heavens Divide", imortalizada pela voz de Donna Burke, é bela e tocante, estando facilmente entre as melhores músicas de toda a série. Fora, claro, que o momento que ela começa a tocar enquanto você enfrenta o Peace Walker é inesquecível.



Eu acho que fiquei jogando Peace Walker durante um mês de forma ininterrupta, ou até mais. É um jogo extenso e difícil, cheio de truques e elementos a serem coletados, soldados a serem obtidos, melhorias a serem realizadas e missões a serem desbloqueadas. Algumas delas, inclusive, só se você rejogar uma missão principal ou jogar uma (ou até algumas) missões alternativas. Então você ainda fica tentando se superar, obter algumas coisas extras nas fases, bater seu próprio tempo e rank, explorando todos os segredos... E aí realmente vai tempo. Um tempo de total diversão e cheio de surpresas.

Todas essas novidades, no fim, se tornaram essenciais para a série. "Ground Zeroes" usou de um esquema semelhante e "The Phantom Pain" trará as missões e a Mother Base de volta. Nada mais justo, pois o sistema é extremamente divertido e um dos pontos mais altos de "Metal Gear Solid: Peace Walker", hoje considerado importantíssimo para o cânone da saga pela ligação direta com seu quinto título. E só não o considero o melhor MGS já feito porque ele apresenta algumas pequenas limitações na jogabilidade e não tem nenhum chefe humano. Não fosse por isso, ele teria força o suficiente para se igualar a MGS1 e MGS3, quem sabe até mesmo superá-los. Mesmo assim, ele também tem um lugar muito especial no meu coração.

Ah, e a versão remasterizada em HD tem suporte para o segundo analógico dos controles de PS3 e X360. Ainda bem.

A seguir: seja tocado como um maldito violino.

PS: esqueci de dizer, mas PW tem dois finais: um parcial e um definitivo. Então, se você ainda pretende jogá-lo, está dada a dica. De nada.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

ESPECIAL METAL GEAR SOLID - "I'm like you, I have no name."


Olá! Sou fã de Metal Gear Solid há muito tempo e, devido ao lançamento de "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain" no próximo dia 01/09, resolvi fazer uma série de postagens especiais para celebrar tanto o novo game quanto o encerramento da épica criação de Hideo Kojima. Mas não contarei a trama da saga ou farei reviews de cada título, e sim falarei um pouco das minhas experiências com os jogos na ordem em que eu os descobri, coisa que, acredito eu, muitos irão se identificar.

Confira as postagens anteriores abaixo:
PARTE 1 - PARTE 2

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É, eu joguei Metal Gear Solid na ordem reversa: primeiro o 3, depois o 2 e, por fim, o 1. E acabou sendo uma experiência muito interessante.

Já havia um tempo que eu vinha tentando jogar "Metal Gear Solid", um dos maiores clássicos do PlayStation 1. Eu tinha os dois CDs em mãos e tinha um emulador que rodava o jogo muito bem. Mas, nas minhas primeiras tentativas, eu nem chegava até o elevador e via o título, ou seja, basicamente eu não jogava. E não sei por quê. Talvez o fato de já saber a história e, especialmente, ter lido a ótima HQ que conta a trama do jogo me afastava de prosseguir. O enredo de MGS sempre foi uma coisa importante para mim, mas uma vez que eu já sabia toda essa parte por completo, não via grandes motivos para me aventurar pela ilha de Shadow Moses.

Até que chegou 2012. Nesse fatídico ano, já citado por mim nos dois posts anteriores, passei por alguns momentos complicados na minha vida, fiquei bem pra baixo e procurei por coisas que pudessem me distrair. Aliado a isso, eu consegui a "Metal Gear Solid HD Collection" para Xbox 360 e, como eu não tinha nada muito mais importante para fazer (exceto a parte de estudar para o vestibular... Não repitam isso, crianças, foi muito irresponsável da minha parte), pensei "Quer saber? Vou jogar todos os jogos em sequência". Incluindo o MGS1.

E olha, se arrependimento matasse... Eu certamente não estaria escrevendo esse texto por conta desse jogo. Como eu pude deixá-lo passar por tanto tempo? Pensando agora, talvez eu não tenha aprendido direito a lição de que ler a história e vivenciar a experiência completa são coisas completamente distintas. E, se eu havia a aprendido, ela certamente foi reforçada, e nunca mais cometi esse terrível erro novamente. Nem mesmo com "Quarteto Fantástico".

O primeiro "Metal Gear Solid" fez milagres com o hardware que o PS1 tinha. Belos gráficos, especialmente por ter sido lançado em 1998, uma atmosfera extremamente envolvente, cenários bem criados, inteligência artificial de primeira, ambientes que passam a sensação da vida presente neles, uma fantástica e marcante trilha sonora (com um "Alert Theme" que até hoje me aterroriza), ação stealth minuciosamente criada e controles impecáveis, práticos e perfeitamente responsivos. Junto a tudo isso, temos a visão cinematográfica de Hideo Kojima que só enriquece a experiência e a faz tudo parecer um grande filme interativo.

Agora, onde eu já li tudo isso? Ah sim, eu mesmo falei essas coisas quando escrevi sobre MGS2 e MGS3! Essa foi a parte mais interessante de ter jogado esse clássico: ver que os melhores elementos da franquia estiveram presentes desde o começo, e Kojima só foi evoluindo-os e aperfeiçoando-os com o passar do tempo e as inovações da tecnologia. Mesmo os jogos que deram início a tudo, "Metal Gear" e "Metal Gear 2: Solid Snake", já possuíam um pouco disso, mas, quando o "Solid" passou a fazer do título, essas coisas foram elevadas a um novo patamar e se tornaram a marca registrada da saga.

E a trama é muito melhor sendo jogada do que lida numa HQ (óbvio, afinal ela foi pensada para funcionar em um formato e não para o outro). Além de ser fantástica, claro. Tantos momentos emocionantes, reviravoltas e diálogos marcantes, protagonizados por personagens que, para mim, são os mais empáticos de toda a série. Mesmo os vilões tem seu carisma, e são figuras-chave de algumas das melhores cutscenes de "Metal Gear Solid". Sério, como não sentir-se tocado ouvindo, principalmente, as histórias de vida de Psycho Mantis e Sniper Wolf, dois dos favoritos dos fãs? E ainda temos Liquid Snake, o antagonista principal e líder do grupo FoxHound, que é quem revela um dos maiores plot twists do game. Mas é em MGS1 que conhecemos Revolver Ocelot, personagem essencial para quase todos os eventos que envolvem este e os jogos que vieram em seguida. E desde sua primeira aparição podemos ver o quão diferenciado o lendário pistoleiro é.

O que eu mais gostei, porém, foram as boss battles. São as melhores e mais criativas de toda a franquia. Todas excelentes e desafiadoras, e cada uma com sua peculiaridade, o que as torna ainda mais incríveis. Quem não sofreu para derrotar o Hind D ou o Metal Gear REX? Quem não travou um duelo épico de snipers contra Sniper Wolf? Quem não se sentiu acuado ao enfrentar o brutal Vulcan Raven? E, principalmente, quem não socou o Liquid com gosto durante o confronto final? E isso que nem mencionei as batalhas emocionantes contra Ocelot e Cyborg Ninja. A minha preferida, porém, é contra Psycho Mantis. Porque, além de não ser lá uma tarefa simples, ela quebra a quarta parede dos mais fantásticos modos possíveis: o oponente lê "sua mente" (no caso, seu Memory Card) e pode realizar comentários caso ache algum save de títulos da Konami, te obriga a trocar o controle para a porta 2 (caso contrário ele detectará todos os seus movimentos) e pode fazer objetos se moverem na vida real, pedindo para você colocar seu controle sobre uma superfície plana e movendo-o para o lado (caso ele tenha a função Rumble, que o faz tremer). Um verdadeiro toque de gênio, que só poderia ter saído da da brilhante mente de Hideo Kojima. Caso esteja afim, relembre um pouco deste épico confronto:



Como eu já disse, me arrependo muito por não ter jogado "Metal Gear Solid" antes. Eu amei o jogo em todos os seus aspectos, mesmo só tendo terminado-o 14 anos após seu lançamento. Por incrível que pareça, esse game também envelheceu muito bem pois, mesmo com seus gráficos claramente ultrapassados (ainda que sejam da melhor qualidade possível para o PS1), o gameplay e a apresentação parecem mais atuais que nunca, o som ainda é ótimo e a história lida com temas atemporais. Ou seja, ele estava muito a frente de seu tempo. E até hoje tenho dúvidas se meu favorito da saga é o MGS1 ou o MGS3, mesmo eu amando este último de uma forma especial. Mas a única conclusão que posso chegar é que ambos tem o direito a ocupar tal posto, cada qual por suas qualidades e a marca que deixou em minhas memórias.

E sim, também tenho um carinho único por MGS1, porque ele foi essencial para eu sair daquele estado de tristeza em que me encontrava. Especialmente pela cena final, e toda a reflexão feita nela por Solid Snake e Meryl. Jamais me esquecerei daquelas palavras.

Ah é, dá pra obter dois finais, um bom/definitivo e um ruim/alternativo! Cara, esse jogo é mesmo demais!

OK. Trilogia encerrada. E agora?

Próxima parada: NICARÁGUA.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

ESPECIAL METAL GEAR SOLID - "Raiden, turn off the game console right now!"


Olá! Sou fã de Metal Gear Solid há muito tempo e, devido ao lançamento de "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain" no próximo dia 01/09, resolvi fazer uma série de postagens especiais para celebrar tanto o novo game quanto o encerramento da épica criação de Hideo Kojima. Mas não contarei a trama da saga ou farei reviews de cada título, e sim falarei um pouco das minhas experiências com os jogos na ordem em que eu os descobri, coisa que, acredito eu, muitos irão se identificar.

Confira a postagem anterior abaixo:

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Eu joguei a série Metal Gear Solid numa ordem completamente errada. E agora essa frase fará sentido.

Depois de jogar "Metal Gear Solid 3", eu fiquei fascinado pela franquia. Queria saber tudo, jogar tudo. Mas, infelizmente, não achava os demais games em lugar nenhum (afinal, se o mais recente já foi complicado de conseguir, o quão impossível seria encontrar os outros), não tinha dinheiro para comprar um PSP e jogar "Metal Gear Solid: Portable Ops" (que teoricamente deveria ser uma sequência para os eventos de "Snake Eater", mas não foi dirigido por Kojima, e hoje é considerado "parcialmente canon") e um PS3  aqui no Brasil ainda era absurdamente caro, logo não tinha nem chances de comprá-lo e esperar por "Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots". O que eu fiz, então? Li tudo em fóruns e afins (inclusive, abraço para a galera da comunidade "Metal Gear Solid BRASIL" do finado Orkut, que disponibilizou muito conteúdo em português). Foi basicamente um mestrado em MGS.

E ficou assim por bom tempo. 4 anos se passaram e, embora eu nunca tenha me esquecido da franquia, acabei jogando muitos outros títulos, me tornei um viciado em Guitar Hero/Rock Band, consegui um PC melhor e aprendi a baixar e gravar jogos (heh). Houve uma época que eu tinha conta no Black Cats, um dos sites de torrents privado mais famosos e cobiçados da internet, e, como o PS2 já estava quase sem lançamentos, tive uma ideia brilhante: baixar "Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty", que nunca estava ativo em outros sites de torrent, para me divertir e passar o tempo. Afinal, eu já conhecia a história toda (inclusive tinha lido a HQ baseada no primeiro MGS, estando teoricamente bem situado), então não seria exatamente surpreendido.

Mas, cara, como eu estava enganado. Eu fui surpreendido. BEM surpreendido. Não pela trama-base em si, e sim pelos pequenos detalhes. Mas antes, vamos mais uma vez falar de aberturas:



Essa introdução é genial. Diversas cenas, todas focadas em Solid Snake, se passando durante a primeira parte do jogo, dando a entender que ele quem seria o protagonista, e só nos últimos segundos que aparece o Raiden. O vídeo remete a todo o material de divulgação do game, que fez a mesma coisa e escondeu o loirinho que é o verdadeiro protagonista do jogo. Eu já sabia quando joguei, e hoje isso é senso comum, mas foi uma verdadeira polêmica na época de lançamento (e até hoje há quem torça o nariz). Uma coisa é certa: Kojima "trollou" o mundo, antes mesmo de "trollar" ter algum significado. Ponto para ele.

Falando do jogo em si, eu de fato fiquei surpreso, feliz e me diverti demais com ele. Basicamente toda a mecânica que eu havia encontrado em MGS3 estava ali, com exceção, obviamente, dos elementos inovadores de sobrevivência. Os cenários também estavam longe do esplendor e da área colossal das florestas soviéticas, mas Big Shell era extremamente bem feito, com vários níveis e poderia facilmente confundir o jogador, sendo quase um labirinto. E também tinha animais pelo local (quem nunca pisou no cocô de gaivota e escorregou, não é mesmo?), embora você não pudesse, e nem precisasse, se alimentar deles. Não dá pra dizer que jogar MGS2 depois de seu sucessor foi exatamente um downgrade, mesmo tendo gráficos obviamente inferiores, mas ainda assim muito bons, ainda mais se considerarmos a época que foi feito (o game saiu em novembro de 2001, pouco mais de um ano e meio depois do lançamento do PlayStation 2 no mercado). Ele continuava muito atual, e mal dava para perceber tanto os 4 anos que os separavam.

E, mesmo já "conhecendo", a história conseguiu me pegar de assalto. Porque eu só conhecia o que havia lido, e obviamente deixaram muita coisa de lado. Todo o desenvolvimento de Raiden e a evolução da trama, além dos vários momentos emocionantes e personagens que se destacam, são pontos extremamente interessantes, e que apenas o game pode te proporcionar. Foi com "Metal Gear Solid 2" que eu aprendi uma valiosa lição: "ler é uma coisa, jogar é outra completamente diferente". Porque há coisas que só a experiência completa pode te fornecer, como foi exatamente o caso aqui. Especialmente na parte final do game, quando você acha que sua cópia veio com problema, Coronel Campbell fica completamente louco (o que você pode conferir aqui, por sua conta e risco), você fica todo confuso e então é revelado o grande plot twist. Aliás, Kojima pode falar que o tema desse jogo é MEME, mas o enredo todo trata de MANIPULAÇÃO. Os protagonistas foram manipulados de um jeito que nem mesmo o mais visionário dos fãs poderia ter previsto na época. Assim como esses mesmos fãs foram manipulados em toda a divulgação. Filho da mãe. Mais um ponto para ele.

As férias de inverno de 2009 (que também é quando a maior parte do jogo se passa, curiosamente) foram muito melhores graças a "Sons of Liberty", e acabei zerando-o duas vezes. Revisitei o jogo novamente em 2012, também remasterizado em HD, mas que usava como base a versão "Substance", com diversas "VR Missions", melhorias, a dificuldade "European Extreme" e uma coleção expandida de dog tags a serem coletadas. Também tive a oportunidade de reparar em detalhes que haviam passado despercebidos, inclusive uma das falas finais de Snake, que também se tornou favorita para mim, graças a seu teor puramente filosófico:

"Life isn't just about passing on your genes. We can leave behind much more than just DNA. Through speech, music, literature and movies...what we've seen, heard, felt...anger, joy and sorrow...these are the things I will pass on. That's what I live for. We need to pass the torch, and let our children read our messy and sad history by its light. We have all the magic of the digital age to do that with. The human race will probably come to an end some time, and new species may rule over this planet. Earth may not be forever, but we still have the responsibility to leave what traces of life we can. Building the future and keeping the past alive are one and the same thing."

Tem muitos fãs por aí que dizem não gostar de "Metal Gear Solid 2", seja por conta da mudança de protagonista ou por não terem sentido o mesmo impacto que os demais títulos da franquia tiveram. E, de fato, é um game "estranho". Mas no bom sentido da palavra. Talvez sua complexidade espante muita gente, além de todas as loucuras de Hideo Kojima (que estava inspiradíssimo durante todo o processo criativo). Particularmente, acho-o genial e extremamente subestimado, justamente por causa desses elementos, e por ter uma das melhores quebras de quarta parede que já vi. Não é meu favorito, mas chega muito próximo, e certamente possui um espaço especial em meu coração.

Ah! Lembra que falei da revista "Dicas e Truques para PlayStation" no post anterior? Acontece que eu também tinha a edição com o review de MGS2, que comprei por causa do guia de "Harry Potter and the Socerer's Stone" para PS1 quanto tinha uns 6 anos de idade. Esse foi meu real primeiro contato com a franquia, mesmo sem ter entendido muita coisa e me interessado bem pouco. Mas acho que, no fim das contas, era mesmo pra ser, certo? Fora que foi muito bacana ler o texto depois de todo aquele tempo e ver o jogo ser tão ovacionado.

E, quando achei que a franquia já havia me oferecido tudo de melhor, depois de dois ótimos jogos, eis que mordi minha língua novamente. "The Best is Yet to Come", já dizia o título dá música...

terça-feira, 25 de agosto de 2015

ESPECIAL METAL GEAR SOLID - "I'm still in a dream, Snake Eater!"


Olá! Sou fã de Metal Gear Solid há muito tempo e, devido ao lançamento de "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain" no próximo dia 01/09, resolvi fazer uma série de postagens especiais para celebrar tanto o novo game quanto o encerramento da épica criação de Hideo Kojima. Mas não contarei a trama da saga ou farei reviews de cada título, e sim falarei um pouco das minhas experiências com os jogos na ordem em que eu os descobri, coisa que, acredito eu, muitos irão se identificar.

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Eu joguei a série Metal Gear Solid numa ordem completamente errada.

Antes de tudo, acho que vale situar as coisas: eu tinha por volta de 10 anos e costumava comprar a famigerada "Dicas e Truques para PlayStation". Sim, os tempos eram outros, a internet banda larga ainda dava seus primeiros passos no Brasil e o melhor jeito de ficar por dentro das novidades dos games, arranjar dicas e ver críticas ainda era através de revistas. Em suas edições, um jogo que vinha recebendo destaque era um tal de "Metal Gear Solid 3: Snake Eater", sendo sempre elogiado por todas as suas inovações, atmosfera envolvente e apresentação única, e consagrando-se, assim, o "melhor jogo de PlayStation 2" até aquele momento, segundo os redatores.

E eu, obviamente, fiquei curioso. Afinal, se esse game era tão bom e inovador, então certamente eu, uma criança que gostava muito de ficar horas jogando video-game, deveria tê-lo. E fui atrás. Mas eu nunca encontrava nas lojas da minha cidade (interior de São Paulo, as coisas realmente demoravam mais para chegar por lá, mas esse aparentemente não existia naquelas terras). Para a minha sorte, alguns amigos meus conseguiram suas cópias (comprando em outras cidades, importando, sei lá). Então, tudo o que tive que fazer foi pegar emprestado por uns dias, para testar e afins.

Vocês devem estar se perguntando: "que tipo de pessoa começa a jogar uma franquia pelo seu terceiro título? Quer dizer, tem outros dois antes, que você tá simplesmente ignorando, não deveria jogá-los primeiro?" Afinal, ninguém começa a ver Star Wars por "O Retorno de Jedi" ou "A Vingança dos Sith". Ninguém lê Harry Potter começando pelo "Prisioneiro de Azkaban". Ninguém assiste "De Volta Para o Futuro III" antes dos outros dois. Senhor dos Anéis não deve ser iniciado por "O Retorno do Rei". E, especialmente, você não deve ver "Exterminador do Futuro: A Rebelião das Máquinas", "Homem de Ferro 3" ou Homem-Aranha 3" antes dos demais. Aliás, você nem deve ver esses filmes, mas isso fica pra outra discussão.

Mas e se for Indiana Jones? Bom, você pode tranquilamente começar por "A Última Cruzada", pois cada longa clássico tem sua história fechada e redonda, sem grandes ligações diretas com a trama dos demais. E, felizmente, esse é o caso de "Metal Gear Solid 3" em relação ao seus antecessores. Mais do que isso, ele é o primeiro na ordem cronológica dos acontecimentos da saga, antes mesmo dos velhos jogos que deram início a tudo, "Metal Gear" e Metal Gear 2: Solid Snake", para MSX (que não devem ser confundidos, em hipótese alguma, com "Metal Gear Solid" e "Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty"). Então, não foi exatamente um erro ou um grande problema.

Ainda que fosse um problema, não seria um que eu me arrependeria de ter cometido. Porque o game mudou minha vida desde a primeira vez que o joguei. A começar por sua abertura:



Quanta perfeição. Eu já a vi dezenas, centenas de vezes, e nunca me cansei. Essa bela homenagem aos temas dos 007 clássicos entoada por Cynthia Harrell é uma música que sempre me encantou, e sempre me encantará. E todo o clima de anos 1960, Guerra Fria e espionagem só colaboram para melhorar tudo isso, dando o tom certeiro sobre o que o jogador pode esperar  daí para frente. Para melhorar, essa introdução é interativa. Você pode mexer com a ondulação das letras, mudá-las para caracteres em japonês, transformadas em esqueletos de cobra, mudar as cores de fundo, mudar imagenzinhas, direcioná-las de forma diferente... Basicamente, você brinca com tudo aquilo ao seu bel-prazer, algo que se repete na tela de "Press Start". Simplesmente fantástico.

Quando entrei no game de fato, minha cabeça explodiu. Nunca tinha visto nada como aquilo, seja nos quesitos de gráficos, gameplay, sons ou ambientação. Eu realmente me sentia na pele de um espião estadunidense infiltrado nas selvas soviéticas em uma missão ultra-secreta. Tudo colaborava para isso: a (então) perfeição visual, os controles perfeitamente responsivos, os barulhos da natureza selvagem e a vida daquele local, com a fauna e a flora em perfeita sincronia. Aliado a esses detalhes, ainda havia a ação em stealth meticulosamente criada, uma ótima inteligência artificial dos inimigos, áreas diferentes a serem exploradas, um vasto arsenal a ser encontrado conforme se progredia, "boss battles" emocionantes (The End e The Boss, em especial), segredos e easter eggs. Recursos inovadores como a possibilidade de escolher um traje e pintura facial diferentes para se camuflar melhor em cada local do jogo, a necessidade de caçar animais ou encontrar alimentos para manter sua barra de stamina em bons níveis e a opção de realizar curativos ou usar medicamentos no caso de algum ferimento ou envenenamento só colaboravam ainda mais para transformar a experiência na melhor que já tive com video-games até hoje.

Mesmo tendo pego MGS3 emprestado, apenas para "testes", eu fiquei com o jogo por um bom tempo. Zerei várias e várias vezes, tentando conseguir todas as armas, camuflagens, pinturas e tudo mais que pudesse estar escondido, ao mesmo tempo que ia batendo meus recordes de tempo de término do jogo (acho que meu melhor tempo foi 2:53h na época), e usando apenas a arma de tranquilizantes para tudo. Quando devolvia, pegava emprestado com algum outro amigo que o tinha. E fiquei um belo tempo nesse esquema, até que finalmente pude comprar a minha própria cópia.

Só que o "Metal Gear Solid 3" que eu comprei era diferente daquele que meus amigos tinham. Enquanto a versão deles era a "Snake Eater", a minha era a "Subsistence", lançada um ano depois. E qual a diferença? Bom, meu jogo tinha algumas novidades. Novas camuflagens e pinturas foram inseridas, além de mais um nível de dificuldade, o "European Extreme" (que também esteve presente na versão "Substance" de MGS2). Fora isso, esse lançamento tinha um disco extra, que continha várias cutscenes engraçadalhas que parodiavam momentos do próprio game, o modo "Snake vs Monkey" (já presente na versão comum, mas agora com novas fases), os clássicos "Metal Gear" e "Metal Gear 2: Solid Snake", em toda sua glória, e o modo online, que eu infelizmente nunca pude jogar, pois internet no PS2 era luxo demais em uma época que eu tinha 512 kbps de banda larga. A grande e mais essencial inovação, porém, ficou por conta da inserção da câmera livre em todos os modos, ao contrário da câmera em ponto fixo vista até então. Isso melhorou a experiência em todos os aspectos, e acabou se tornando tendência para os títulos da saga que viriam a seguir (o próprio Kojima disse que testou o recurso nessa versão já pensando em MGS4).

A única coisa ruim de "Metal Gear Solid 3: Subsistence" é que ele não compartilhava o save com "Snake Eater". Ou seja, todo meu progresso e esforço feito com os jogos dos meus amigos foi por água abaixo. Mas tudo bem, pois tive a "sorte" de fazer tudo de novo. E foi ainda melhor dessa vez.

Mas e a história? Ah, a história... É engraçado ter tanto amor por uma trama que eu só fui entender por completo anos depois, quando rejoguei toda a franquia (agora na versão remasterizada em HD) por volta de 2012, justamente para conseguir compreender tudo (antes só havia lido em fóruns e afins, pois meu inglês ainda era bem básico). E valeu muito a pena, pois pude reviver momentos marcantes e aproveitar muito melhor outros que passaram completamente despercebidos. Um enredo complexo, abordando diversas questões políticas (num tempo tão delicado para o mundo), militares e de lealdade, apresentado majestosamente pela visão cinematográfica de Hideo Kojima e que, aliado ao visual de cair o queixo e uma gama de personagens carismáticos e memoráveis, se tornou algo único. Jamais esquecerei certos momentos, especialmente aqueles no final do game. MGS3 ainda possui uma das minhas citações favoritas, proferida por The Boss antes de seu confronto final com Snake:

"In 1960 I saw a vision of the ideal future from space. Three years earlier the Soviet Union had succeeded in launching Sputnik, the first manmade satellite in history, into orbit. This came as a huge shock to the United States. In response, America threw everything it had into its own manned space flight project, the Mercury project. Even as the Soviets seemed poised to send their first man into space America was still experimenting with chimpanzees in rockets. The government wanted human data. So they secretly decided to send a human being into space. I was the one they chose. At the time they didn't have the technology to block out cosmic rays and whoever they sent up would inevitably be exposed to heavy radiation. That's why they chose me. After all, I had already been irradiated once. Of course, you won't find any of this in the history books. I could see the planet as it appeared form space. That's when it finally hit me. Space exploration is nothing but another game in the power struggle between the US and USSR. Politics, economics, the arms race - they're all just arenas for meaningless competition. I'm sure you can see that. But the Earth itself has no boundaries. No East, No West, No Cold War. And the irony of it is, the United States and the Soviet Union are spending billions on their space programs and the missile race only to arrive at the same conclusion. In the 21st century everyone will be able to see that we are all just inhabitants of a little celestial body called Earth. A world without communism and capitalism... that is the world I wanted to see. But reality continued to betray me.

É, "Metal Gear Solid 3" foi um game que marcou bastante minha vida. Uma experiência inesquecível e única, que mudou minha maneira de encarar video-games para sempre. E eu sei que isso também aconteceu com muitos outros, pois vejo direto pessoas dizerem que este é seu título favorito da franquia e também foi seu primeiro. Saibam que sofremos juntos para enfrentar The End, criamos o "Time Paradox" ao atirar em Ocelot quando ele está nocauteado, caçamos os sapos Kerotan em cada novo cenário que explorávamos e nos emocionamos juntos com as cenas que fecham a história. Fico feliz em ter crescido jogando a saga, enquanto pude vê-la evoluir conforme crescia. E, do mesmo jeito que eu envelheci, MGS3 também envelheceu, e envelheceu muitíssimo bem. Mesmo mais de 10 anos depois, esse ainda é meu jogo favorito entre todos que já joguei, algo que talvez só venha a ser desbancado por "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain".

"Mas espera, se tantos outros fizeram como você e começaram pelo terceiro jogo, porque você disse que jogou numa ordem completamente errada?"

Calma, esse é só o começo...