segunda-feira, 11 de junho de 2018

[RESENHA] "Han Solo: Uma História Star Wars" (2018)


Filmes de bastidores turbulentos dificilmente vêm a resultar em trabalhos decentes. Conflitos entre produtores e realizadores acabam por gerarem interferências em todo o processo criativo, minando ideias que poderiam mudar o rumo do produto final e fazê-lo se destacar ante os demais lançamentos do momento, ou de longas pertencentes ao mesmo gênero. Basta olhar para Liga da Justiça, Esquadrão Suicida, Batman vs. Superman: A Origem da Justiça e Quarteto Fantástico, todos produções de grande potencial que acabaram por ser algo entre o medíocre e o execrável devido a intrigas e interferências de figurões de Hollywood.

Han Solo: Uma História Star Wars também passou por complicações. Após um celebrado anúncio de que Phil Lord e Chris Miller dirigiriam o filme em meados de 2016, a dupla foi demitida do cargo cerca de um ano depois, após já haver investido quatro meses em sua gravação e estar próxima de finalizá-lo. Ainda não há um consenso acerca dos motivos de Kathleen Kennedy, CEO da Lucasfilm, para a tomada de tal decisão, mas o fato é que, dois dias depois, Ron Howard já estava anunciado como novo comandante do longa, que passou por extensas refilmagens (cerca de 70%, pelo que se tem conhecimento), o que atrasou o início de sua divulgação, mas não de sua chegada aos cinemas, que ficou mantida para 24 de maio deste ano no Brasil (25 de maio no resto do mundo, mesma data do lançamento de Uma Nova Esperança e O Retorno de Jedi).

Embora o departamento de marketing tenha se esforçado ao máximo, com dois bons trailers e diversos belos pôsteres, Han Solo não consegue disfarçar o que é: um filme problemático como os citados acima, que também tiveram problemas de bastidores, o que fica claro já em seus primeiros minutos. Apoiando-se em clichês e respostas para perguntas que jamais foram feitas enquanto tenta distrair o espectador com cenas de ação que raramente conseguem cumprir seu papel, o mais novo spin-off de Star Wars deixa clara a desnecessidade de sua existência ao se cercar de coincidências que pouco acrescentam (quando não destroem) à mitologia de um dos mais queridos heróis clássicos da saga.

Não que o filme seja um desastre completo. Han Solo: Uma História Star Wars tem sim pontos positivos, a começar, por exemplo, com a interpretação de Donald Glover como uma versão mais jovem de Lando Calrissian, de modo que o ator transmite com fidelidade os trejeitos, o estilo e a elegância do histórico personagem encarnado por Billy Dee Williams na trilogia original, chegando até a impostar sua voz para fazê-la se assemelhar com a do antigo intérprete. Todo o elenco, na verdade, realiza um bom trabalho dentro do que lhes foi entregue, inclusive Alden Ehrenreich, dono do papel principal e um dos principais temores devido ao que vinha sido dito acerca dos bastidores, mas que convence como Han Solo, ainda que esteja longe do calibre de atuação de Harrison Ford. Os efeitos especiais também se destacam, mantendo o já conhecido padrão de qualidade Industrial Light & Magic, e a trilha sonora composta por John Powell (com o tema principal sendo de autoria de John Williams) é bem executada e muitas vezes eleva o que é visto em tela.

O que desbalanceia o filme quanto a todos estes aspectos técnicos é seu roteiro. Apesar de seguir uma sequência linear lógica e respeitar a estrutura básica de narrativa, a forma com que retrata a história de Han Solo é através de uma origem que se sente compelida a explicar cada aspecto icônico do personagem, e todos dentro de uma única aventura. Desse modo, o público é exposto a algumas irrelevantes respostas acerca do protagonista, como a origem de seu nome, de seu icônico blaster, de sua fama de soltar cargas contrabandeadas ou o motivo para haver atirado primeiro em Greedo nos eventos do primeiro Star Wars. Ao mesmo tempo, momentos como o famoso "Percurso de Kessel em 12 Parsecs" ou a forma com que Han ganha a Millenium Falcon de Lando são retratados de forma branda e acabam por desmistificar estas informações dadas durante os três filmes clássicos, que por muitos anos habitaram o imaginário dos fãs e pareciam melhores ali.

Também fraqueja o script quando precisa desenvolver seus personagens ou a relação entre eles. É fácil se identificar com conhecidos como Solo, Lando e Chewbacca, mas novas adições como Tobias Beckett, Dryden Vos ou Val não conseguem estabelecer qualquer ligação com o público, sendo tão descartáveis quanto aparentam ser. Nem mesmo Qi'ra (Emilia Clarke), uma das protagonistas da trama, consegue se firmar e mostrar ao que veio, sendo parte de um arco dispensável que pouco faria diferença no resultado final. Suas interações ainda soam forçadas, pouco naturais, ao passo que o relacionamento entre Han e Chewie, que deveria ser um dos principais pontos do enredo, se dá de forma apressada e mal-desenvolvida, enquanto Lando protagoniza com a androide L3-37 (Phoebe Waller-Bridge) um dos momentos mais desconexos e talvez até vexatórios de todo o filme.

Soma-se a todos estes problemas apontados o filtro de fotografia usado pelo diretor Ron Howard, que não apenas escurece toda a película, dificultando assistir algumas cenas realizadas em ambientes de pouca luminosidade (especialmente em 3D), mas também neutraliza todas as suas cores, deixando Han Solo sem vida ou carisma, um erro básico quando se trata de um longa que tenta se pautar pelo humor, o qual poucas vezes se sobressai. Na falta de tantos elementos, tudo o que sobra é um filme insonso, desnecessário e até mesmo esquecível que, embora consiga ser divertido em momentos de maior fan-service, acaba não cativando o espectador pela ausência de um foco narrativo definido e melhor desenvolvido.

Dizer que não existem ideias ruins, especialmente dentro da indústria do entretenimento, seria uma mentira, porque elas existem. Mas mesmo ideias ruins podem render bons produtos se executadas da forma correta e estiverem nas mãos das pessoas certas. Jamais saberemos se este era o caso de Han Solo: Uma História Star Wars ou se a versão filmada por Phil Lord e Chris Miller seria melhor que a vista nos cinemas, mas certamente ela seria algo muito distinto do mostrado. De qualquer modo, o filme comandado por Ron Howard e lançado pela Lucasfilm acabou por seguir outro caminho e ficar no lugar comum, sendo, ainda que bem atuada e realizada, uma aventura medíocre e de pouco charme, algo que jamais poderia faltar a um personagem como Han Solo.

TRAILER:

segunda-feira, 4 de junho de 2018

BALANÇO MUSICAL - Maio de 2018


Olá! Seja bem-vindo ao meu projeto Balanço Musical, uma coluna mensal na qual falo sobre música, o que escutei no mês que se passou, o porquê das escolhas, o que me influenciou nesses dias, e publico uma playlist com uma faixa referente a cada dia do período. O objetivo não é nada além de escrever um pouco mais sobre música no blog, apresentar algumas coisas diferentes e dar às pessoas a oportunidade de conhecer novos artistas e canções. As postagens são publicadas sempre no primeiro dia útil de cada mês, o que pode ou não coincidir com o dia 1º.

Maio... Um mês que tinha tudo para dar certo, ser importante, marcante, dar continuidade aos bons dias de abril, mas que passou cada vez mais a descarrilhar e terminou da pior e mais trágica forma possível. Acabou por marcar não apenas alguns dos momentos mais baixos de 2018, mas possivelmente de toda minha vida. Um período para ser esquecido, sem dúvidas (ou talvez lembrado para que não venha a se repetir no futuro). Os momentos que se salvaram foram os poucos vislumbres de diversão que tive e a estreia de Deadpool 2.

Ao mesmo tempo, foi o segundo mês seguido em que bato meu recorde de músicas ouvidas, segundo meu last.fm. Se abril terminou com 1.305 scrobbles, maio se encerrou com 1.377 reproduções, 72 a mais que anteriormente, o que inclui 426 artistas, 679 álbuns e 1.074 faixas diferentes. Um número alto e difícil de ser superado, sem dúvidas, que talvez seja um reflexo da minha necessidade de distração ou de todo o trabalho escrevendo (o qual não foi dedicado ao blog, e inclusive acabou tirando meu tempo de realizar mais postagens, infelizmente) que tive nos últimos 30 dias. Seja o que for, acabou por dar continuidade a um momento prolífico no aspecto musical.

Quanto às escolhas de maio, é fácil perceber o reflexo do meu estado de espírito através da playlist, que começa com músicas mais leves e alegres e vai se tornando cada vez mais pesada e sombria. Portanto, vale ressaltar algumas nos Destaques do Mês, que mais uma vez retornam e podem ser conferidos a seguir.

ARTISTAS DO MÊS:

- Michael Jackson: o Rei do Pop acabou mais uma vez agraciando meus ouvidos durante o início de maio e se tornou o artista mais ouvido do mês.

- Arctic Monkeys: o lançamento de Tranquility Base Hotel + Casino colocou o quarteto na segunda posição de maio, sendo 98% das reproduções só de faixas do novo álbum (e eu ainda não terminei de absorvê-lo).

- No Doubt: o grupo de rock alternativo noventista liderado por Gwen Stefani nunca havia me chamado muito a atenção, mas acabou sendo uma das descobertas e gratas surpresas do último mês.

- Iron Maiden/Bruce Dickinson: os britânicos acabam sempre por fazer parte de algum momento de meus meses e dessa vez não foi diferente, com tanto o atual sexteto quanto a carreira solo do vocalista Bruce Dickinson marcando presença nos momentos finais de maio.

ÁLBUNS DO MÊS:

- Arctic Monkeys - Tranquility Base Hotel + Casino: o mais recente registro do grupo de Sheffield acabou por ser o disco de maior destaque para mim no último mês, muito devido a todas as mudanças que a sonoridade do grupo passou e a dificuldade em absorver por completo seu conteúdo, algo que, como dito antes, ainda não aconteceu. Um CD fascinante e que deve vir a conquistar muitos de seus detratores iniciais com o decorrer do tempo.

- Michael Jackson - Bad: meu álbum favorito de Michael Jackson foi uma das minhas mais recorrentes audições durante maio, especialmente em sua primeira metade. As faixas da versão simples do disco já são um espetáculo por si só, mas as músicas exclusivas da versão expandida enriquecem ainda mais a experiência.

- Peter Gabriel - So: esta obra-prima do vocalista britânico, um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos, chegou aos serviços de streaming no último mês, e injustiça seria se eu não o tivesse incluído aqui.

FAIXAS DO MÊS:

- The Spinners - The Rubberband Man: a música que introduziu os Guardiões da Galáxia em Vingadores: Guerra Infinita acabou ficando de fora da playlist de abril por falta de espaço, mas acabou marcando presença aqui.

- Neil Young - Harvest Moon: outra que deveria ter aparecido em abril por ser parte da trilha sonora de Um Lugar Silencioso (a única música além da trilha orquestral que aparece no longa). Felizmente corrigi esta injustiça.

- Talk Talk - It's My Life: este clássico dos anos 1980 grudou em minha cabeça no início de maio e merece destaque por isso (e por ser tão bom).

- Childish Gambino - This Is America: o clipe é avassalador, mas a música também merece destaque por seu ritmo e experimentalismo. Gambino mais uma vez crava seu nome como um dos mais importantes artistas da atualidade.

- Arctic Monkeys - Four Out of Five: apesar de Tranquility Base Hotel + Casino ter dividido os fãs, o consenso é que esta é a melhor música do álbum. A mais acessível, certamente.

- Gerry & The Pacemakers - You'll Never Walk Alone: porque, seja na vitória ou na derrota, nós somos Liverpool.

- Black Sabbath - Lonely is the Word: uma triste música para o triste final de um triste mês.

Confira abaixo a playlist de maio de 2018: