quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

[RESENHA] "Star Wars: Os Últimos Jedi" (2017)


Quando Star Wars: O Despertar da Força foi lançado em 2015, no meio de toda a calorosa (e lucrativa) recepção dos fãs e da crítica, houve quem o tenha criticado por suas similaridades com o primeiro longa da franquia, Episódio IV - Uma Nova Esperança (ou simplesmente Star Wars), e por não ter se arriscado tanto quanto o esperado. Hoje, passada toda a empolgação, tais críticas soam válidas, mas, dado o contexto do lançamento do filme, há motivos válidos, tanto criativamente quanto comercialmente, para ele ser o que é. No fim, jogar seguro se mostrou uma escolha acertada, o Episódio VII foi um sucesso e cumpriu sua missão de retornar a saga a sua antiga glória.

Star Wars: Os Últimos Jedi, porém, é um filme que não joga seguro.

O final de O Despertar da Força aparentava ter deixado alguns pontos pré-estabelecidos para o enredo de sua sequência, como um treinamento para Rey e Kylo Ren, um novo enfrentamento entre eles ao final, uma grande aventura para Poe Dameron e Finn, um crescimento da Resistência como oposição à Primeira Ordem e um retorno triunfal para Luke Skywalker. Não parecia haver como fugir muito disso. Mas o roteirista e diretor Rian Johnson conseguiu se desvincilhar desses elementos característicos da clássica jornada do herói e levar seu filme para outros caminhos menos previsíveis.

Toda a trama do longa-metragem se desenvolve a partir de um único e claro tema: fracasso. Cada um dos personagens principais possui um arco que o aborda a sua própria maneira, mas todos eles crescem após a experiência. Outros assuntos também são abordados no decorrer da história (como legado, maturidade, confiança, heroísmo, sacrifício próprio, esperança e identidade) e dão mais profundidade a seus protagonistas, sobrando espaço ainda para pontuadas críticas sociais, exploração do espectro cinza da Galáxia Muito Distante e viradas de roteiro o suficiente para nos deixar sem perspectivas sobre o que esperar no vindouro desfecho dessa nova trilogia.

O principal mérito de Johnson é, em meio a isso tudo, ter levado os personagens a jornadas pouco convencionais (sem fugir da principal temática do filme) que mudam nossas percepções sobre eles, sejam os mais recentes Rey, Finn, Poe Dameron e Kylo Ren (até o droide BB-8, por que não?), sejam os veteranos Luke Skywalker e Leia Organa. E mexer com ícones tão queridos da cultura pop sempre é arriscado, mas é justamente onde reside o valor da decisão, tanto pela coragem quanto por seu desenvolvimento. Cada escolha foi calculada, trabalhada e faz jus ao histórico de cada um deles. Os rumos que tomam, por sua vez, subvertem as expectativas, mas também é algo que faz sentido, ainda que alguns elementos tenham que ser sacrificados ou que certos coadjuvantes apareçam (ao menos por enquanto) como meros recursos narrativos.

São poucos os blockbusters que oferecem uma fotografia tão bela quanto a que vemos durante a Batalha de Crait.

É notável também o cuidado do diretor com a parte visual de Os Últimos Jedi. Rian Johnson e sua equipe se preocuparam em criar um filme com uma estética única e marcante, mas que ao mesmo tempo se encaixa dentro da franquia. O resultado disso pode ser conferido em momentos como a batalha espacial do início, todas as cenas em Ahch-To (onde Luke se encontra), as sequências em Canto Bight e na Sala do Trono de Snoke, naquela parte silenciosa e durante o confronto em Crait. Aliás, é importante ressaltar que, tal qual O Despertar da Força, esta sequência se preocupa em equilibrar o uso de efeitos especiais em computação gráfica com os práticos, algo perceptível especialmente para um certo personagem.

Mas muito do que foi apontado até agora não seria possível sem o trabalho desenvolvido pelos atores. Provavelmente o longa mais bem-atuado da saga, o elenco impressiona por sua qualidade, intensidade e dedicação. Para aqueles que criticaram Mark Hamill nos tempos da Trilogia Clássica, aqui ele entrega um Luke Skywalker como nunca visto antes, mostrando todo seu talento e a técnica que adquiriu pós Retorno de Jedi (especialmente em seus papéis como dublador). Carrie Fisher também se mostra melhor do que nunca como Leia, o que só torna seu falecimento há exatamente 1 ano ainda mais dolorido. Os mais novos também surpreendem, com Daisy Ridley apresentando uma gritante evolução em comparação a seu já ótimo desempenho no filme anterior, Adam Driver explorando toda a suavidade e brutalidade de Kylo Ren, John Boyega amadurecendo sua interpretação e Oscar Isaac mostrando por que é um dos destaques de uma nova geração que desponta em Hollywood.

E não dá para falar sobre Star Wars sem comentar, é claro, da trilha sonora. John Williams retorna às composições para este oitavo episódio e mais uma vez mostra que não é considerado um dos grandes gênios da função a toa. Embora ainda ache que faltam mais faixas marcantes para essa atual trilogia (assim como era nas outras duas), é inegável a qualidade das músicas presentes no filme, que fazem uso de temas antigos e novos de forma criativa e conseguem intensificar ainda mais o que se passa na tela, contrastando momentos belíssimos com outros de pura adrenalina e dando um tom mais do que adequado para a aventura.

Há muito mais a ser dito sobre Star Wars: Os Últimos Jedi, seja a respeito de seu humor peculiar (algo que beira S.O.S. - Tem um louco solto no espaço, vulgo Spaceballs, de tão paródico) ou de alguns detalhes essenciais à história, e isso só comprova sua riqueza como realização cinematográfica. O que mais importa, porém, é que Rian Johnson conseguiu fazer do longa uma experiência própria dentro desse tão explorado Universo, seja pelo rumo para o qual levou a trama, por seu cuidado visual ou pela quebra de convenções e expectativas, abrindo espaço para novas e diversas possibilidades em um futuro próximo. Um filme que, tal qual um jogador do cassino em Canto Bight, aposta tudo o que tem de forma arriscada, mas consciente. E, pelo resultado, valeu a pena.

TRAILER: