sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

[RESENHA] "Bright" (2017)


Em 2016, tanto o diretor David Ayer quanto o astro Will Smith sofreram um baque com a recepção crítica de Esquadrão Suicida, uma adaptação que parecia promissora, mas no fim mostrou-se uma gritante bagunça e acabou sendo massacrada pelos veículos especializados. Posteriormente, vieram a tona todos os problemas e interferências da Warner no filme, algo que fez com que Ayer demonstrasse reiteradas vezes sua insatisfação e deixasse sua relação com o estúdio estremecida. Para recuperar-se da situação, ele precisava encontrar uma nova casa e desenvolver um novo projeto.

É desse cenário que surgiu Bright, lançamento da Netflix que estreia nessa sexta-feira (22) e que teve uma exibição antecipada exclusiva na Comic-Con Experience de 2017. Marcando a segunda colaboração entre Smith e Ayer, co-estrelando Joel Edgerton e com roteiros de Max Landis (de Poder Sem Limites), o longa se propõe a misturar fantasia e a realidade das ruas em uma trama de dupla policial, formada por um humano e um Orc, espécie esta marginalizada pela sociedade.

Um impressionante trabalho de maquiagem e efeitos especiais decentes marcam a qualidade técnica do filme, que também possui uma fotografia característica de outras obras voltadas ao drama policial, assim como uma trilha sonora adequada para seu clima urbano-periférico. A parceria entre Will Smith e Edgerton também funciona, com a dupla mostrando um entrosamento natural e carisma que basicamente guiam a produção por suas quase duas horas de duração.

Mas os destaques param por aí. Bright não tem nada de novo a oferecer para nenhum dos gêneros que aborda. O filme sofre de um claro problema de identidade ao tentar combinar elementos do fantástico com críticas sociais e a trama policial, não se decidindo qual deles abordar, ou até mesmo qual mensagem pretende passar, e acaba por falhar miseravelmente nos três (tendo um pouco mais de sucesso no terceiro). O preconceito dos humanos direcionado aos Orcs é pouco sentido e abordado apenas de forma superficial, enquanto o universo mágico retratado passa longe de atingir seu potencial, apresentando poucas espécies ou elementos que poderiam caracterizá-lo.

Tais falhas acabam por serem refletidas no restante do desenvolvimento do enredo. A má definição de sua fantasia faz com que o longa apresente incoerências referentes a seus seres, às magias que são mostradas e até mesmo a profecias, que surgem repentinamente quando lhes é conveniente. Os personagens, tirando a dupla de protagonistas, também não são nada convincentes, sejam os coadjuvantes e suas motivações infundadas, sejam os vilões e a inexpressividade do grupo, que nunca faz-se sentir uma ameaça e também não possui uma explicação satisfatória para sua presença na história.

Novas ideias e mistura de gêneros para criar algo diferente sempre são bem-vindas, e é o que Bright tentou. Mas passou longe de ter sucesso, seja devido a sua esquizofrenia ao não definir seu foco, pelo mau desenvolvimento de seus elementos-chave e pela falta de personagens marcantes. Mesmo tendo sucesso em sua parte técnica e estabelecendo uma boa conexão entre seus protagonistas, a sensação que o filme deixa é de uma oportunidade perdida, algo que poderia ser evitado por um maior cuidado com o roteiro e a abordagem de seus principais pontos. O fato é que ainda vai demorar um pouco para que a parceria entre Will Smith e David Ayer renda um bom resultado.

TRAILER: