Darkseid is.
O que dizer dessa que é provavelmente a melhor edição #1 do ano?
Como parte da comemoração do centenário de Jack Kirby, a DC decidiu realizar várias homenagens através de edições únicas ou minisséries, concedendo a diversos escritores e artistas a chance de brincar com algumas das principais criações do Rei. A dupla Tom King e Mitch Gerads, conhecida pela autoral e semibiográfica Xerife da Babilônia e por recorrentes colaborações na mensal do Batman, ficou responsável por Mister Miracle, título dividido em 12 partes e que sacudiu a indústria, a crítica especializada e os fãs com o lançamento de seu primeiro capítulo no último 9 de agosto.
Darkseid is.
O roteirista Tom King, grande estrela da indústria no momento, tornou-se conhecido por sua abordagem de temas humanos e atuais quando se tratando de personagens tão fantásticos. Aqui não é diferente: de maneira visceral e até agressiva, o escritor retrata um dos principais problemas crônicos do mundo moderno: a depressão. É possível sentir toda a angústia, o desconforto, a sensação de incapacidade do protagonista diante de tudo o que ele vive, ao mesmo tempo que aqueles ao seu redor não sabem como lidar com a situação. Também é possível dizer que são mostrados o abandono parental e a rejeição familiar, ainda que em menor escala, mas que torna-se explícito nos momentos em que Orion e o Pai Celestial entram em cena.
King também é conhecido por saber combinar esse enfoque a roteiros intrigantes com narrativas fluidas, e mais uma vez não decepciona. A história pré-estabelecida por essa primeira edição é concisa e já repleta de eventos importantes, trazendo um enredo inteligentemente construído e que planta dúvidas no leitor. Afinal, o que está acontecendo com o Senhor Milagre? O que é verdade no que ele está vivendo? Aliás, está ele vivendo? Estaria ele finalmente preso em uma armadilha à prova de escapes? São esses os grandes alicerces a serem desenvolvidos para os 11 números restantes.
Darkseid is.
A arte de Gerads só colabora com a construção da revista, graças a seu diferente estilo que flerta com o caricato, o experimental e o realista, sabendo portar-se tanto de forma viva e grandiosa quanto fria e intimista sempre que necessário. Sua retratação dos personagens, que chuta para longe exageros anatômicos e dá a eles formas mais humanas, é fundamental para aproximar ainda mais o leitor da naturalidade com que o roteiro trata de seus principais temas. E convenhamos: um tom mais super-heroico simplesmente não se encaixaria com a proposta. Vale ainda o destaque para o capista Nick Derrington, que faz do gibi uma belíssima experiência visual antes mesmo de ele ser aberto.
A melhor (talvez até a principal) das homenagens a Jack Kirby, Mister Miracle consegue com sua edição #1 algo que o grande criador sempre procurou fazer com seus personagens: refletir o estado da humanidade no momento. Esse início, de roteiro inteligente e arte mais do que adequada, estabeleceu a base para uma história de grande potencial, e com um Rei escrevendo outro Rei (sacou? Ha!), é seguro dizer que o futuro dessa minissérie tem tudo para ser brilhante.
Confira abaixo quatro página de Mister Miracle #1: