"Algo está ocorrendo... Em minha memória... A história se altera constantemente". São com essas exatas palavras que se inicia o one-shot Mulher-Maravilha: Renascimento, que serviu como base para todas as histórias da mais recente fase da principal super-heroína dos quadrinhos. Como é possível observar, a Princesa de Themyscira está confusa, um reflexo das inúmeras reformulações que a personagem sofreu nos últimos anos. Diana não sabe mais exatamente quem é, não consegue mais se comunicar com os deuses e também não encontra o caminho para seu lar. Ela, mais do que nunca, precisa de ajuda.
E houve quem estivesse disposto a ajudá-la: o premiado escritor Greg Rucka, auxiliado pelos artistas Liam Sharp, Nicola Scott e Bilquis Evely, com as cores de Laura Martin e Romulo Fajardo Jr., assumiu a missão de resgatar a Amazona, relembrando o mundo de suas raízes e redefinindo a personagem de uma maneira moderna, trazendo de volta seus principais conceitos em uma roupagem adequada e condizente com o mundo em que vivemos. Tudo isso envolvido em uma inteligente e complexa trama, e acompanhado de estonteantes traços. O resultado final, como não poderia deixar de ser, é uma obra-prima de narrativa e arte, consolidando esta como uma das melhores e mais consistentes fases da história da personagem.
Parte da iniciativa Universo DC: Renascimento, Rucka se aproveitou do formato quinzenal do relançamento do título para intercalar seus roteiros, com as edições de numeração ímpar fazendo parte de arcos se passando no presente, enquanto as de número par integram arcos que exploram o passado da heroína, indo desde sua repaginada origem até acontecimentos que antecedem por pouco o que vem ocorrendo na história irmã. Essa diferença também permitiu a variação das equipes artísticas: enquanto Liam Sharp e Laura Martin cuidaram das revistas ímpares, Nicola Scott e posteriormente Bilquis Evely, sempre acompanhadas de Romulo Fajardo Jr., ficaram encarregadas dos desenhos e das cores das pares.
Essa passagem, que se encerrou no último 28/06, ao todo contou com quatro desses arcos: As Mentiras, Ano Um, A Verdade e Godwatch. Pequenos fragmentos de uma trama que, no fim, conectou todos os seus eventos e mostrou-se algo muito maior. Muito de seu êxito se deve pela escrita inteligente do roteirista, que soube fazer uso de suas histórias intercaladas e desenvolveu seus mistérios de forma coerente, aproximando passado do futuro e abusando do conceito de ação e reação, demonstrando que nenhum dos eventos que vinham se desenvolvendo eram a toa. Isso permite com que a narrativa funcione das mais variadas formas possíveis, seja na ordem de lançamento das edições, na numeração dos encadernados ou até mesmo na sequência cronológica estabelecida para os acontecimentos.
Vivendo essas aventuras estão alguns dos mais famosos personagens que compõem a mitologia da Princesa Amazona. Além da personagem-título, retornam Steve Trevor, Etta Candy, Barbara Ann Minerva/Mulher-Leopardo, e também outros antagonistas como Ares, Phobos e Deimos, Doutora Veneno e Doutora Cyber. Rucka também aproveita para resgatar algumas de suas criações para a DC, como Ferdinand, Veronica Cale (que surgiram em sua primeira passagem pela revista, entre 2003 e 2006) e Sasha Bourdeaux (que teve origem em seu tempo escrevendo Detective Comics). Todos eles receberam novas roupagens, mais adequadas para a atualidade e que servem aos propósitos da história. Nenhum deles é mero coadjuvante, porém, de modo que possuem suas próprias personalidades, múltiplas facetas e bem desenvolvidas motivações para seus papéis, sendo tão protagonistas de toda essa história quanto a própria Diana.
Isso não significa, porém, que ela tenha sido jogada para escanteio. Não, a Mulher-Maravilha ainda é a grande estrela de sua própria HQ, em uma de suas representações mais humanas, bondosas e inspiradoras. A personagem retornou às suas origens de uma forma revitalizada e condizente com a modernidade, sendo a embaixadora da paz e do amor no mundo dos homens, mas atualizando alguns de seus principais temas (ela agora é bissexual, por exemplo, e a revista trata sua vida amorosa de forma bem natural). A filha de Hippolyta também recebe diferentes tratamentos conforme o tempo da história: em Ano Um e Godwatch, ela é mostrada de forma muito ingênua e jovial, ainda pouco conhecendo das mazelas de nossa sociedade, enquanto em As Mentiras e A Verdade a vemos vem mais confiante e endurecida pelos anos, mas sem perder seu inerente brilho.
Apesar de grande parte do mérito do quadrinho estar em sua escrita, é injusto deixar de citar a arte como uma das grandes razões de seu sucesso. As equipes artísticas que aqui trabalharam são provavelmente as melhores e mais talentosas de todo o Universo DC: Renascimento, com traços fora de série que criaram algumas das mais belas páginas e capas da história da Princesa Amazona. E cada um dos desenhistas possui suas particularidades: Nicola Scott soube criar desenhos vibrantes e repletos de movimento e vida, justamente o que a origem de Diana precisava; Liam Sharp fez alguns dos painéis mais criativos e detalhados do título, sendo incomparável ao trabalhar com ambientes; e a brasileira Bilquis Evely trouxe uma bem vinda serenidade para a história, com uma pegada suave e bela, ao mesmo tempo que muito distinta, e que caiu como uma luva para a narrativa de Godwatch.
A união de todos esses esforços culminou na edição #25, Perfeito, que amarrou todos os quatro arcos da publicação e concluiu a trama de forma honesta, bonita e que deixou o terreno preparado para quem viesse a seguir. A sutileza de Rucka ao finalizar sua passagem é exemplar, não deixando pontas soltas e dando um desfecho digno para os personagens, especialmente para Diana e Steve Trevor, após tudo o que eles passaram nas 24 edições anteriores. Vale a pena também conferir a edição anual, que conta, entre outras, a história do primeiro encontro entre a Trindade da DC, com alguns momentos impagáveis do Batman (por mais incrível que isso pareça).
Quem cuida atualmente da HQ é Shea Fontana com arte de Mirka Andolfo, e em breve os consagrados James Robinson e Carlo Pagulayan assumirão o título. Mas independente do que vier pela frente, essas 25 edições iniciais são indispensáveis para qualquer um que pretenda ler Mulher-Maravilha, sejam leitores veteranos ou iniciantes que querem conhecer mais sobre a personagem. A passagem de Greg Rucka e seu time artístico rendeu não apenas uma das melhores histórias de todo o Universo DC: Renascimento, mas um verdadeiro clássico moderno, que servirá de referência para todos os futuros envolvidos com o quadrinho, tal qual foi a fase de George Pérez. E dado que sua qualidade e a admiração dos fãs perduram até hoje, maior elogio não pode existir.
Parte da iniciativa Universo DC: Renascimento, Rucka se aproveitou do formato quinzenal do relançamento do título para intercalar seus roteiros, com as edições de numeração ímpar fazendo parte de arcos se passando no presente, enquanto as de número par integram arcos que exploram o passado da heroína, indo desde sua repaginada origem até acontecimentos que antecedem por pouco o que vem ocorrendo na história irmã. Essa diferença também permitiu a variação das equipes artísticas: enquanto Liam Sharp e Laura Martin cuidaram das revistas ímpares, Nicola Scott e posteriormente Bilquis Evely, sempre acompanhadas de Romulo Fajardo Jr., ficaram encarregadas dos desenhos e das cores das pares.
Essa passagem, que se encerrou no último 28/06, ao todo contou com quatro desses arcos: As Mentiras, Ano Um, A Verdade e Godwatch. Pequenos fragmentos de uma trama que, no fim, conectou todos os seus eventos e mostrou-se algo muito maior. Muito de seu êxito se deve pela escrita inteligente do roteirista, que soube fazer uso de suas histórias intercaladas e desenvolveu seus mistérios de forma coerente, aproximando passado do futuro e abusando do conceito de ação e reação, demonstrando que nenhum dos eventos que vinham se desenvolvendo eram a toa. Isso permite com que a narrativa funcione das mais variadas formas possíveis, seja na ordem de lançamento das edições, na numeração dos encadernados ou até mesmo na sequência cronológica estabelecida para os acontecimentos.
A capa de "Mulher-Maravilha" #16, que iniciou "Godwatch", por Bilquis Evely e Romulo Fajardo Jr.
Vivendo essas aventuras estão alguns dos mais famosos personagens que compõem a mitologia da Princesa Amazona. Além da personagem-título, retornam Steve Trevor, Etta Candy, Barbara Ann Minerva/Mulher-Leopardo, e também outros antagonistas como Ares, Phobos e Deimos, Doutora Veneno e Doutora Cyber. Rucka também aproveita para resgatar algumas de suas criações para a DC, como Ferdinand, Veronica Cale (que surgiram em sua primeira passagem pela revista, entre 2003 e 2006) e Sasha Bourdeaux (que teve origem em seu tempo escrevendo Detective Comics). Todos eles receberam novas roupagens, mais adequadas para a atualidade e que servem aos propósitos da história. Nenhum deles é mero coadjuvante, porém, de modo que possuem suas próprias personalidades, múltiplas facetas e bem desenvolvidas motivações para seus papéis, sendo tão protagonistas de toda essa história quanto a própria Diana.
Isso não significa, porém, que ela tenha sido jogada para escanteio. Não, a Mulher-Maravilha ainda é a grande estrela de sua própria HQ, em uma de suas representações mais humanas, bondosas e inspiradoras. A personagem retornou às suas origens de uma forma revitalizada e condizente com a modernidade, sendo a embaixadora da paz e do amor no mundo dos homens, mas atualizando alguns de seus principais temas (ela agora é bissexual, por exemplo, e a revista trata sua vida amorosa de forma bem natural). A filha de Hippolyta também recebe diferentes tratamentos conforme o tempo da história: em Ano Um e Godwatch, ela é mostrada de forma muito ingênua e jovial, ainda pouco conhecendo das mazelas de nossa sociedade, enquanto em As Mentiras e A Verdade a vemos vem mais confiante e endurecida pelos anos, mas sem perder seu inerente brilho.
Apesar de grande parte do mérito do quadrinho estar em sua escrita, é injusto deixar de citar a arte como uma das grandes razões de seu sucesso. As equipes artísticas que aqui trabalharam são provavelmente as melhores e mais talentosas de todo o Universo DC: Renascimento, com traços fora de série que criaram algumas das mais belas páginas e capas da história da Princesa Amazona. E cada um dos desenhistas possui suas particularidades: Nicola Scott soube criar desenhos vibrantes e repletos de movimento e vida, justamente o que a origem de Diana precisava; Liam Sharp fez alguns dos painéis mais criativos e detalhados do título, sendo incomparável ao trabalhar com ambientes; e a brasileira Bilquis Evely trouxe uma bem vinda serenidade para a história, com uma pegada suave e bela, ao mesmo tempo que muito distinta, e que caiu como uma luva para a narrativa de Godwatch.
A união de todos esses esforços culminou na edição #25, Perfeito, que amarrou todos os quatro arcos da publicação e concluiu a trama de forma honesta, bonita e que deixou o terreno preparado para quem viesse a seguir. A sutileza de Rucka ao finalizar sua passagem é exemplar, não deixando pontas soltas e dando um desfecho digno para os personagens, especialmente para Diana e Steve Trevor, após tudo o que eles passaram nas 24 edições anteriores. Vale a pena também conferir a edição anual, que conta, entre outras, a história do primeiro encontro entre a Trindade da DC, com alguns momentos impagáveis do Batman (por mais incrível que isso pareça).
Quem cuida atualmente da HQ é Shea Fontana com arte de Mirka Andolfo, e em breve os consagrados James Robinson e Carlo Pagulayan assumirão o título. Mas independente do que vier pela frente, essas 25 edições iniciais são indispensáveis para qualquer um que pretenda ler Mulher-Maravilha, sejam leitores veteranos ou iniciantes que querem conhecer mais sobre a personagem. A passagem de Greg Rucka e seu time artístico rendeu não apenas uma das melhores histórias de todo o Universo DC: Renascimento, mas um verdadeiro clássico moderno, que servirá de referência para todos os futuros envolvidos com o quadrinho, tal qual foi a fase de George Pérez. E dado que sua qualidade e a admiração dos fãs perduram até hoje, maior elogio não pode existir.
A capa de "Mulher-Maravilha" #1, por Liam Sharp e Laura Martin.