terça-feira, 15 de agosto de 2017

"Game of Thrones" - Ganhe com o espetáculo ou morra com as falhas


Seja você fã ou não, é impossível não reconhecer a importância de Game of Thrones para a cultura pop atual: um fenômeno mundial, a série se tornou um grande evento que mobiliza milhões de pessoas ao redor do mundo e as coloca na frente da televisão às 22h (ou seja lá qual o horário de transmissão nos demais países do mundo). Cada episódio virou um espetáculo, oferecendo os melhores efeitos especiais que o mundo televisivo já viu, equilibrando uma complicada trama política com criativos elementos fantásticos, e sendo sedutora para um amplo público, seja aquele seu primo adolescente chato, seu amigo nerd hardcore ou a sua mãe (ou até mesmo a sua avó).

Mas há algo de errado com ela.

Desde o início, o programa se destacava por seu primoroso roteiro, a riqueza nos detalhes e a construção de seus personagens. Muito de seu sucesso se deve a isso: sem a brilhante trama, os diálogos arrebatadores e todas as reviravoltas que só este complicado jogo dos tronos foi capaz de nos oferecer, jamais teria sido possível angariar tamanha audiência, por melhor que fosse a computação gráfica ou por mais carismáticos que fossem os personagens. A adaptação dos livros para a TV funcionou muito bem e, mesmo após ultrapassar o ponto em que George R. R. Martin parou sua escrita, o show continuou seguindo o caminho do sucesso, tendo elevado seu próprio nível com a excelente 6ª temporada. Alguns leves deslizes aconteceram, como o treinamento de Arya Stark com os Homens Sem Rosto ou alguns episódios do início da 5ª temporada, especialmente no que diz respeito a Dorne e as Serpentes de Areia. Nada, porém, que comprometesse a qualidade geral.

A atual temporada, 7ª, vem vivendo de uma constante bipolaridade, porém. Ela nos ofereceu até agora alguns momentos memoráveis, é verdade, mas também vem mostrando algumas inconsistências, uma falta de substância e até mesmo diálogos abaixo da média. Para cada monólogo de Olenna Tyrell, há uma incoerente conversa entre Daenerys e Jon Snow sobre os Outros serem um mito ou não (sendo que ela sobrevive ao fogo e tem três dragões, que até pouco tempo eram considerados extintos). Para cada ataque à tropas Lannister como em The Spoils of War, há um Euron Greyjoy saindo ileso após ser ferido por uma das Serpentes de Areia, conhecidas por usarem veneno na lâminas de suas armas. E para cada vez que personagens se teleportam para os pontos mais extremos do mapa de Westeros, há uma Arya demorando cerca de três episódios para percorrer um caminho entre lugares bem mais próximos entre si.

Erros de principiante vem sendo cometidos com as amarras cronológicas ou espaciais. Nem mesmo os grandes momentos escapam ilesos: Como Cersei pediu apenas 15 dias para arrumar a casa para o banqueiro de Westeros? Só de tempo de viagem até os locais já se passaria boa parte disso. Por que Daenerys queimou todos os suprimentos do exército Lannister, sendo que Jon Snow disse pouco tempo antes que todo o estoque de comida seria necessário durante a guerra contra os Outros (e, nesse caso, seria muito mais inteligente da parte dela tomá-los para si)? E Olenna disse que os soldados Tyrell nunca foram grandes lutadores, mas não foram eles quem salvaram a pele de Tyrion e Joffrey nos eventos de Blackwater? Fora a insistência de Daenerys em solicitar que Jon Snow se ajoelhasse a ela, algo irritante e que até mesmo vai contra ao crescimento que a personagem teve nas temporadas anteriores.

Não me entenda mal: eu adoro a série, assisto-a desde a primeira temporada e vi um dos melhores programas da história da televisão sendo construído. Mas é por isso mesmo que acho a crítica válida: não dá para ignorar os pontos mais fortes de tudo o que foi feito durante mais de 6 anos e deixar a qualidade cair justo na reta final. Talvez seja a falta dos livros de George R. R. Martin como base (muito embora ele seja consultor dos roteiristas) ou a necessidade de encerrar o show até o episódio 6 da 8ª temporada (decisão tomada pela própria HBO e que vem se mostrando cada vez menos acertada), mas o fato é que as coisas estão tornando-se mais aceleradas, menos desenvolvidas e se alinhando para um fim pela pura necessidade de ele acontecer. Temos que ser honestos e encarar o que está diante de nossos olhos: Game of Thrones não é mais a mesma.

O espetáculo continua lá, porém, e nisso a série continua incomparável: efeitos especiais cada vez melhores e mais realistas, batalhas de proporções épicas, situações de urgência envolvendo os personagens favoritos do público, a aguardada confirmação de teorias dos fãs e todo seu retrospecto ainda fazem de Game of Thrones um dos melhores e mais divertidos entretenimentos de toda a TV na atualidade. Mas será que só isso é o suficiente? Essa é uma questão que apenas o espectador pode achar a resposta para si.