quinta-feira, 3 de agosto de 2017

[RESENHA] "Planeta dos Macacos - A Guerra" (2017)


Em uma era em que reboots, remakes, blockbusters genéricos e filmes de super-heróis dominam as produções de Hollywood, temos o caso de Planeta dos Macacos, franquia quase quinquagenária que já se mostrava desgastada, mas que ganhou um novo sopro de vida quando resolveram abordar aquela mitologia por uma ótica, mostrando o início de tudo com Planeta dos Macacos - A Origem em 2011. Três anos depois, o diretor Matt Reeves elevou a saga de César e sua civilização de macacos a um novo patamar em Planeta dos Macacos - O Confronto, abordando temas como discursos de ódio e medo em meio de cenas de ação catárticas, com direito a primatas em cima de cavalos e portando metralhadoras, abrindo portas para um desfecho no mínimo memorável para a trilogia.

Com essa responsabilidade, chegou aos cinemas Planeta dos Macacos - A Guerra, novamente comandado por Reeves, fechando a jornada de César e pavimentando o caminho até o clássico de 1968. Mas, embora tenha A Guerra em seu título, o filme vai muito além do conflito entre macacos e humanos, sendo uma história de vingança, intolerância, sobrevivência, a perda da bondade e o sacrifício por algo maior. Isso tudo, claro, sem deixar de lado símios com armas de fogo, explosões e visuais embasbacantes, em uma execução primorosa que balanceia o artístico com o comercial como pouco visto antes.

O trajeto do personagem principal nesse capítulo final é tortuoso, sofrido e repleto de difíceis escolhas, especialmente quando se deixa consumir por ódio tamanho que o faz ser atormentado em boa parte do tempo pelo fantasma de Koba, macaco que se mostrou ser a personificação do mal no longa anterior. Mesmo acompanhado e aconselhado por seus amigos Maurice, Luca e Rocket, que acabam encontrando o divertido Bad Ape e uma garota humana pelo caminho, suas decisões, motivadas por seus sentimentos e que beiram o egoísmo, acabam colocando o grupo de primatas sob sua proteção em perigo, por mais que, em teoria, tenham sido tomadas para protegê-los. Torna ainda mais dura essa caminhada a trilha sonora de Michael Giacchino, densa, pesada, como cada consequência das atitudes do líder.

A bem construída trama tem seu ápice nos diálogos, por mais inusitado que isso pareça. Mas são nesses momentos que humanos e macacos brilham, mostrando que, apesar das claras diferenças, eles são muito mais parecidos do que podem imaginar. Andy Serkis e Woody Harrelson são um destaque a parte, com ambos sendo a força motriz do filme, transmitindo raiva e loucura a cada vez que entram em tela, especialmente quando contracenam juntos, gerando algumas das mais memoráveis cenas de toda a trilogia. Seus personagens interagem através de uma interessante dinâmica, que mistura ódio e respeito mútuo, fazendo do confronto algo além da mera sobrevivência e tornando-o pessoal, por mais que o Coronel insista em dizer o contrário.

Apesar do foco voltado para os macacos, no fim o longa diz muito sobre nós como espécie, por nossa insistência em conflitos, nossa intolerância e nossa falta de união mesmo nos momentos mais difíceis: se continuarmos assim, vamos (e talvez até mereçamos) ser todos extintos. E é isso, junto a outras questões tão humanas, mesmo se tratando de animais, que faz com que Planeta dos Macacos - A Guerra seja tão especial, um encerramento em alto nível de uma das melhores trilogias que agraciou o cinema nos últimos anos.

TRAILER: