quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O novo "Quarteto Fantástico" é tão ruim assim?


A internet explodiu na última semana com uma enxurrada de críticas negativas e ofensas para "Quarteto Fantástico", a nova tentativa da 20th Century Fox em iniciar uma franquia para a equipe que deu início ao Universo Marvel dos quadrinhos como conhecemos hoje. O filme, no momento em que realizo esta postagem, está com nota 3.9 na IMDb, 27% de aprovação no Metacritic e apenas 9% no Rotten Tomatoes, um resultado bem próximo de pérolas como "Batman e Robin", "Mulher-Gato" e "Elektra", ao mesmo tempo que se mostra inferior a ambas as adaptações dos heróis realizadas anteriormente.

Todo esse repúdio ao longa me deixou extremamente surpreso, pois eu jamais esperaria uma recepção tão negativa depois de ser surpreendido pelos trailers, com todo seu clima e proposta interessantes. Isso me fez não ir ao cinema logo nos dias após a estreia, como é de meu costume. Mas acabei conferindo-o mesmo assim, mais tomado pela curiosidade de saber o quão corretos estavam os críticos do que com a esperança de ver algo bom, como eu aguardava anteriormente.

O começo foi bacana. Reed Richards se mostrando um gênio para o mundo, mas com poucos que o compreendiam. Ele conhece o Dr. Franklin Storm e sua filha, Sue, que percebem o quão valioso é seu intelecto, e logo vai para o Edifício Baxter trabalhar em uma máquina de viagem interdimensional. Lá ele conhece Victor Von Doom, um rapaz de certa forma arrogante, egocêntrico e um pouco insosso. Johnny Storm aparece logo depois após aceitar a proposta de seu pai, com seu jeito malandro e divertido. Reed e Sue vão se tornando mais próximos, o que desperta ciúmes em Victor. E então eles concluem a invenção, mas os militares para quem eles trabalham não deixam que os cientistas sejam cobaias da própria criação. Só que eles fazem mesmo assim, depois de concluírem que essa seria uma ótima ideia enquanto estavam todos bêbados e falando besteira, e ainda recrutam Ben Grimm, melhor amigo de Richards, para acompanhá-los (uma exigência do próprio amigo). Mas o experimento dá errado, tudo sai de controle na outra dimensão em que eles estão, e então um terrível acidente ocorre quando eles tentam voltar para casa. E assim os personagens ganham seus poderes.

Legal, né? Mas quanto tempo demorou pra isso acontecer, uns 30 minutos? Não. Foram cerca de 45 minutos só de começo, ou primeiro ato, como preferir. Isso não seria exatamente um problema, exceto pelo fato de que o filme tem apenas algo por volta de 1:30h de duração (descontando os créditos). Ou seja, metade do filme foi só introdução. Ou seja (novamente): o resto do desenvolvimento talvez ficasse corrido. Mas tudo bem. Estava gostando do filme até ali, o que poderia dar errado?

A resposta: TODO O RESTO.

Reed Richards foge ao ver o que aconteceu com si mesmo e aos outros, já não sendo o líder que deveria ser, como ocorre nas HQs. Aí há um corte para um ano depois, e os militares vem treinando os membros remanescentes do acidente e os colocando em "black ops". Algum gênio teve a brilhante ideia de que o futuro do exército dos EUA seria desenvolver mais humanos com poderes como aqueles (por que não, afinal?), mas para voltar à outra dimensão eles precisam reconstruir a máquia, e só Richards pode ajudá-los nisso (afinal, ninguém tinha os projetos salvos em lugar algum). Eles encontram Reed, e só Ben, já sendo o Coisa, está p*** da vida com seu antigo amigo por tudo o que aconteceu. A experiência é refeita, dessa vez com militares a bordo, e eles acham Von Doom inexplicavelmente vivo na outra dimensão (sim, ele ficou pra trás), que de alguma forma encontrou um pedaço de pano verde por aquelas terras inóspitas e estava com metal por todo o corpo. Infelizmente, os efeitos usados para tal foram os mais porcos possíveis, e o personagem ficou com um dos visuais mais toscos que eu já vi na vida.

E então, em menos de 10 minutos, Victor decide que quer destruir a Terra porque agora tem poderes (que deveriam ser magia oculta, mas foram adquiridos pelo contato com a "lava" interdimensional), mata Franklin Storm sem motivo aparente, abre um portal dimensional e lança um raio vindo da suposta Zona Negativa contra o planeta. Então os outros quatro se unem para derrotá-lo, acabam com a ameaça e o vilão desaparece. Aí eles ganham um quartel general no meio do nada após negociarem com o governo. E acabou.

No fim, o maior vilão de "Quarteto Fantástico" não foi essa sombra cinematográfica de Doutor Destino, e sim a execução completamente errada e a péssima distribuição de tempo da adaptação. E, aliado a isso, temos atuações mal direcionadas de todo o elenco, que variam entre momentos bem convincentes e outros que até uma mesa de centro se expressaria melhor; efeitos especiais totalmente artificiais e mal feitos; distorções das personalidades dos personagens, em especial na segunda metade do filme, onde só o Coisa foi bem representado; trilha sonora inexpressiva; essa ideia genial de envolver militares na trama e, para finalizar, uma destruição completa da imagem de Victor Von Doom, o melhor antagonista das histórias da Marvel.

Fiquei bem triste com o filme. Não pelo que ele é, mas pelo o que ele poderia ter sido. Uma boa premissa baseada no Universo Ultimate, um elenco que já demonstrou seu talento em outras obras e um promissor jovem diretor que foi responsável por um ótimo longa sobre pessoas superpoderosas acabaram se transformando em uma enorme perda de tempo e dinheiro. E, independente de quem foi o culpado por esse resultado, espero que a Fox tenha finalmente entendido que eles não sabem usar o Quarteto Fantástico. Então, retornem logo os direitos para a Marvel Studios, por favor.

NOTA: 4,5/10