quarta-feira, 19 de agosto de 2015

[CRÍTICA] Ghost - "Meliora" (2015)


Há álbuns que te cativam e te conquistam logo na primeira ouvida. Dentre estes, posso destacar todos os lançados pelo Ghost até o momento. "Opus Eponymous", o debut do grupo, me ganhou desde o momento que ouvi apenas a música "Ritual", para ver se o estilo dos caras me agradava, e a experiência completa foi hipnotizante, com aquele som simples, mas bem elaborado, e todo aquele clima sombrio e ocultista, indo contra a maré do "Rock está morto" (coisa que hoje sei muito bem que nunca foi verdade, apenas um discurso de tiozões saudosistas). O registro seguinte, "Infestissumam", me dominou por completo durante uma boa quantia de meses. Com um instrumental ainda simples, porém melhor lapidado, afiadíssimo e flertando abertamente com outros subgêneros como o Surf Rock e o AOR, aliado à performance vocal avassaladora do Papa Emeritus II, aquele para mim era o suprassumo da versatilidade dentro da proposta, e possivelmente o trabalho definitivo da banda. Realmente achei que eles não conseguiriam lançar algo tão bom quanto aquilo.

Felizmente, há no mundo artistas que se desafiam a cada novo lançamento. Esse também é o caso do Ghost. Como é bem nítido, houve uma mudança no estilo do primeiro para o segundo disco. Então, porque não fazer o mesmo para um terceiro? E eles fizeram, e como fizeram. A promessa de um dos Nameless Ghouls, os instrumentistas mascarados cujas identidades ninguém sabe, era de um trabalho mais focado na parte instrumental, em contraponto ao destaque vocal de "Infestissumam", e isso já se mostrava bem claro com as três primeiras músicas divulgadas de "Meliora".

Antes de falar de "Meliora" como um todo, acho importante falar mais sobre as tais três músicas reveladas previamente. "Cirice", "From Pinnacle to the Pit" e "Majesty" não poderiam ser escolhas mais acertadas para a divulgação, pois, além de evidenciarem as diferenças em relação ao seu antecessor, também escancaram ao ouvinte tudo de melhor que o álbum pode oferecer. O destaque aos instrumentos, como prometido, está lá, com arranjos extremamente bem trabalhados, versatilidade e a adição de uma boa dose de peso, especialmente se comparado com o som apresentado anteriormente. O trio de composições também é provavelmente o ponto mais alto do álbum, sendo todas excelentes e facilmente relacionáveis, já que, mesmo com todas as mudanças, a marca registrada do Ghost está sempre presente: o clima macabro e toda a interpretação do vocalista. E não dá para simplesmente destacar uma delas, já que justamente suas peculiaridades são o que as tornam igualmente excelentes.

Sendo assim, é hora de falar das músicas que ainda não eram de conhecimento do público. "Meliora" tem sua abertura decretada com "Spirit", uma música forte, sombria e densa, ou seja, um ótimo cartão de visitas, que ainda tem a vantagem de fazer uma sutil transição para a entrada de "From Pinnacle to the Pit", de modo que as faixas poderiam muito bem ser uma só. "Spöksonat" serve como introdução para a também acústica "He Is", uma das mais sensacionais do CD, pelo modo como ela evolui em seus pouco mais de 4 minutos de duração. "Mummy Dust" provavelmente é a mais pesada do registro, com uma excelente performance de teclado. "Devil's Church" faz jus ao nome, com um órgão e um coral que remetem às missas clássicas, e também introduz "Absolution", que, para mim, é a composição mais contagiante de todo o álbum, com um dos melhores refrões que já ouvi nos últimos tempos, muito graças ao magistral piano que acompanha as palavras de Papa Emeritus. Finalizando com chave de ouro, temos "Deus In Absentia", bem cadenciada e que ainda traz um coro de cantos gregorianos em seus derradeiros segundos.

O que eu mais gostei desse novo disco do Ghost, e acredito que já tenha ficado bem evidente, foi a parte instrumental. Mas é perfeitamente justificável, já que a mudança de algo que já era ótimo nos dois primeiros lançamentos foi na verdade uma evolução. Todos os membros se arriscam mais, a criatividade está além da estratosfera, os arranjos equilibram melodia e peso num nível ideal para a proposta da banda, as guitarras são máquinas de riffs e solos impecáveis, o baixo se destaca e é influente, a bateria faz viradas espetaculares e os teclados são um show a parte, com variações absurdas e a colaboração essencial para a criação do clima soturno. E, apesar de pouco ter falado do Papa Emeritus (agora em sua terceira encarnação, como manda a tradição), sua performance vocal não deve em nada, especialmente tendo "Infestissumam" em mente, alcançando o ápice com "Cirice".

É sempre difícil falar de um álbum tão bom. Sempre fico com a sensação de que faltam palavras o suficiente no mundo para conseguir transmitir minhas impressões. Juro que tentei meu melhor, mas o único jeito de compreender "Meliora" é ouvindo-o na íntegra e repetindo o processo várias e várias vezes, pois, ainda por cima, as músicas crescem a cada audição. Mais uma obra prima desses suecos que ninguém sabe quem são, mas que certamente são alguns dos músicos mais criativos e versáteis dos últimos tempos. Forte candidato a melhor do ano.

Vida longa ao Ghost e toda sua colaboração para a música!

NOTA: 10,0

Ouça agora "Meliora" NA ÍNTEGRA:



Confira também o excelente clipe da música "Cirice":