quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Um (breve) conto de Natal

Era noite de 24 de dezembro. Depois de um longo dia ajudando com as preparações, decidiu ficar um pouco só antes da ceia de Natal. Não eram tempos fáceis para ele, mas mesmo assim encontrou ânimo e disposição para colaborar com aqueles deveres anuais. Valera a pena pelas delícias gastronômicas que o aguardavam. Pernil, Peru, Tender... Aquele básico que você geralmente só come uma vez a cada 365 dias. E que tem gosto de infância.

Começou a pensar em quando era mais novo. Uma época que, ao mesmo tempo em que estava distante, lhe parecia ter ocorrido a pouquíssimo tempo. As memórias eram vivas, como se fossem de dias antes. Memórias estas de outras vésperas e dias de Natal. Toda aquela arrumação, aquela correria, aqueles familiares que pouco via durante o ano. Toda a ansiedade por receber presentes que mal sabia o que eram, aqueles presentes maravilhosos que ainda guardava com carinho. Todo aquele calor do momento, aquelas coisas que ele não entendia muito bem o que eram ou porque aconteciam. E sua felicidade de ser parte de tudo aquilo mesmo assim.

Tudo aquilo... Era só lembrança. De um passado distante, mas tão próximo. "Lágrimas na chuva", como dito em um de seus filmes favoritos. Nada mais daquilo era realidade. O tempo passou, tudo mudou. As pessoas mudaram. As pessoas se mudaram. As pessoas partiram. Os presentes, o calor, a ansiedade, a felicidade única, sumiram aos poucos até se ausentarem de vez. Só restara-lhe pouco além das memórias.

Mas pouco não era ruim. Pouco era bom. Minutos depois, ele estava ceando com pouco. Sua pequena e incompleta família era o pouco. Um pouco, porém, que sempre o ajudara, que sempre estivera presente nos momentos mais difíceis de sua vida, que lhe dera amor simples, puro e incondicional, com quem aprendera muito durante todos esses anos. E para quem tentava retribuir isso tudo sempre que necessário, da melhor maneira possível.

No fim, era tudo o que importava: aquele amor simples, puro, incondicional e mútuo. Era o que bastava. Naquele momento, ele não podia pedir por presente de Natal melhor. E seria justamente o que ele guardaria com mais carinho e cuidado, em um lugar único e especial.