segunda-feira, 27 de agosto de 2018

[RESENHA] "Missão: Impossível - Efeito Fallout" (2018)


Franquias de cinema são curiosas, pois não há um padrão para suas existências. Algumas começam muito bem e vão decaindo a cada novo lançamento (que é o que mais acontece), algumas conseguem manter o fôlego até o final, algumas tem seu ápice no segundo filme, outras começam bem, acabam se perdendo no meio mas conseguem entregar uma conclusão satisfatória. E há o caso de Missão: Impossível, que gastou toda uma trilogia tentando se encontrar, soube se reinventar para uma nova década pelas mãos mais que competentes de Brad Bird e, posteriormente, Christopher McQuarrie, conquistou novo público e vem se firmando como um dos principais nomes quando o assunto é ação nos últimos anos. Cenas cada vez mais insanas (nas quais Tom Cruise não usa dublês) aliadas a boas tramas modernas de espionagem, fotografia inventiva e pouco convencional, e elencos competentes se tornaram marcas registradas dessa nova fase, que parecia haver atingido seu ápice em Nação Secreta (2015).

Mas, para Cruise e McQuarrie, parece sempre haver espaço para mais. Assim como os próprios filmes, a dupla parece cada vez mais empenhada em transformar o impossível em possível. E foi para essa missão que Missão: Impossível - Efeito Fallout foi concebido: superar seu antecessor, apresentando uma trama melhor, direção mais criativa e preocupada com detalhes, um elenco ainda mais competente e, claro, sequências de ação ainda mais frenéticas e espetaculosas do que as vistas anteriormente. E dado o elevado patamar em que os dois últimos longas se estabeleceram, é espantoso pensar no quão fácil o resultado final fez a tarefa parecer.

Conectando-se diretamente com o final do quinto filme, Efeito Fallout traz o agente da IMF Ethan Hunt (Cruise) tendo que lidar com os Apóstolos, organização de anarco-terroristas dissidente do Sindicato, que confrontou em sua missão anterior. O plano do grupo é ter acesso a armas nucleares para espalhar o caos e destruir a ordem vigente, e Hunt está disposto a ir até as consequências finais para impedi-los. Junto a ele, retornam alguns personagens apresentados ao público anteriormente, como o Secretário Alan Hunley (Alec Baldwin), a agente Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), sua ex-esposa Julia (Michelle Monaghan), o vilão Solomon Lane (Sean Harris) e figuras mais do que carimbadas como Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg). Juntam-se ainda a este vasto elenco novidades como o agente Walker (Henry Cavill), a Diretora da CIA Erika Sloane (Angela Bassett) e a misteriosa Viúva Branca (Vanessa Kirby).

O desenvolvimento da trama apresenta alguns interessantes desdobramentos, culminando em viradas de roteiro que, em primeiro momento, podem parecer previsíveis para aqueles que já conhecem a série, mas que são sucedidos tantas outras em sequência que acabam por deixar o espectador desnorteado tamanhas as surpresas (que até chegam a ser excessivas, há de se reconhecer). Ao mesmo tempo, as relações de Hunt com aqueles que o rodeiam são levadas à beira de um colapso devido a suas ações em prol da missão, mas são sustentadas pela fé quase cega que seus parceiros tem no protagonista. O conflito é ainda mais agravado pelos atos de seus colegas no ramo, como é o caso de Walker (personagem em que Cavill escorrega em sua atuação vez ou outra, mas que convence durante as cenas de ação) e Faust, que é quem mais afeta o agente de forma profissional e pessoal (ainda que esta última não se resolva de forma decente). Tudo isso cria uma atmosfera que direciona para a percepção de que a tarefa em questão é, de fato, impossível.


O que mais leva a crer nessa impossibilidade, no entanto, são as cenas de ação. Grande marca pela qual a franquia se fez conhecida nos últimos anos, elas se sobressaem às demais não pelo absurdo de uma ou outra de maior destaque, mas pela quantidade. Esse é o filme de Missão: Impossível com o maior número de sequências de ação em toda a franquia, e todas se mostram insanas, ainda que cada qual a seu modo: seja pelo risco oferecido ou pela quantidade de detalhes a serem observados, fica claro para qualquer um que não foi a toa que Tom Cruise se machucou durante as gravações do longa. Pensar no astro protagonizando cada um daqueles momentos sem o auxílio de qualquer dublê só agrava a sensação de perigo existente, a qual já se encontra potencializada pela direção de McQuarrie, seja em saltos de paraquedas, perseguições de veículos em ruas movimentadas, corridas por telhados parisienses ou assalto a helicópteros em movimento (embora o uso de computação gráfica fique evidente até demais em momentos-chave).

Aliás, a direção não se destaca apenas durante a ação. Mesmo nos momentos de maior respiro, Christopher McQuarrie consegue criar ambientações que evidenciam o perigo das situações através de uma variada combinação de registros fechados com outros que apresentam os cenários de forma mais aberta em diversos ângulos, algo que o permite, em conjunto com o trabalho do diretor de fotografia Rob Hardy, criar composições de cena requintadas, sofisticadas e agradáveis em determinados pontos. Ainda sobre os aspectos técnicos, vale o destaque à trilha sonora composta por Lorne Balfe, uma das grandes forças motrizes do filme através de suas faixas impactantes dentro da medida, bem como aos departamentos de arte responsáveis por desenvolverem as máscaras e demais acessórios que já são mais do que conhecidos.

Missão: Impossível - Efeito Fallout encerra a segunda trilogia da saga com espaço para mais continuações, muito graças ao caráter episódico da série, bem como às recentes adições ao elenco, que podem vir a ganhar mais espaço no futuro. Este sexto longa funciona, ao mesmo tempo, como a conclusão de um arco e uma porta de entrada para novos fãs já que, mesmo com referências a seus antecessores, a reintrodução sucinta de personagens e elementos apresentados anteriormente permite seu funcionamento de forma individual, ainda que não seja o mais recomendado. Seja como for, os níveis aqui estabelecidos se mostram ainda mais difíceis de serem superados pelas mentes criativas envolvidas, por mais capazes que elas já tenham se provado. O trabalho desenvolvido por Christopher McQuarrie e Tom Cruise, ainda que com alguns ínfimos problemas, acabou por culminar não apenas no melhor Missão: Impossível, mas também em um dos melhores filmes de ação da década.

TRAILER: