terça-feira, 9 de maio de 2017

Espere algo totalmente diferente de "Blade Runner 2049" (e por que isso é bom)


Há certos filmes e franquias que são tão clássicos que sempre causam receio só de se pensar em mexer com eles: ninguém em sã consciência gostaria de ver um derivado de O Poderoso Chefão, por exemplo, e 11 a cada 10 pessoas acha idiota a ideia de um remake de De Volta Para o Futuro nos dias atuais. Mesmo tentativas de sucesso foram precedidas de muita suspeita, como é o caso de Star Wars, Mad Max e Planeta dos Macacos, que foram alvo de muitas críticas no anúncio de suas novas empreitadas, mas tomaram o rumo certo e conquistaram a confiança dos fãs e da crítica.

Blade Runner era, até poucos anos atrás, um dos principais representantes da primeira categoria. O clássico cult da ficção científica é até hoje idolatrado por uma legião de fãs, e não é para menos: uma das maiores obras-primas da sétima arte, o longa é marcado por brilhantes atuações e alguns dos mais memoráveis momentos da história do cinema, aliados a uma direção artística sem precedentes até então, uma belíssima trilha sonora pautada em um clima futurista distópico, e uma genial e filosófica trama fechada, com um fim autossuficiente que dispensava a existência de qualquer continuação. Rumores a respeito disso sempre existiram, mas eram rechaçados com todas as forças pelos mais aficionados, e o projeto parecia que jamais deixaria o papel.

Tudo mudou quando, em fevereiro de 2015, a sequência foi oficialmente confirmada, com Harrison Ford retornando ao papel de Rick Deckard, o roteirista original Hampton Fancher também de volta ao seu posto, mas um novo nome assumindo o cargo de diretor: Denis Villeneuve. A notícia obteve recepção mista ao redor do mundo, já que a volta de Ford a um de seus mais icônicos personagens (perdendo apenas para Indiana Jones e Han Solo) alegrou muita gente, mas o anúncio do até então pouco conhecido franco-canadense como cabeça do projeto deixou muita gente com o pé atrás.

Hoje, porém, o nome de Villeneuve a frente do longa é motivo de confiança e sinônimo de qualidade. O diretor alcançou um alto nível de popularidade nos últimos dois anos após o lançamento de dois dos filmes mais elogiados de tempos recentes: o thriller policial Sicario: Terra de Ninguém e a obra-prima da ficção científica moderna A Chegada. Neles, pudemos ter um amplo gosto de sua assinatura, uma mistura de cinema autoral com blockbuster que consegue agradar tanto crítica quanto público.

É possível conferir muito disso no trailer de Blade Runner 2049 divulgado na última segunda-feira (08). Embora respeite toda a construção visual do original, o filme parece ser algo próprio, com cenas realizadas em ângulos pouco convencionais e um contraste de cores muito único. A trama também parece seguir um caminho distinto, estando cercada de mistério e suspense, mas conciliando toda essa atmosfera com muito mais ação do que no clássico de 1982. Os novos personagens também respeitam conceitos do primeiro longa, mas são trabalhados em ideias novas (vide o personagem de Jared Leto, um replicante que produz outros em escala industrial).

Tudo isso vai de encontro com uma das primeiras declarações de Denis Villeneuve a respeito do trabalho que vinha desenvolvendo, que seria impossível impossível reviver o Blade Runner de Ridley Scott e que estava fazendo algo dele com aquele universo. Palavras de humildade, mas de igual importância ao denotar que o diretor não quer apenas viver à sombra do clássico filme, e sim arriscar, aplicar suas próprias ideias e fazer a sua experiência cinematográfica memorável. E, para isso, ele traz a esse mundo alguns gêneros que já desenvolveu em outros de seus lançamentos.

Isso não significa, porém, que Blade Runner 2049 se focará no suspense e na ação e deixará o lado filosófico de lado. Villeneuve sabe muito bem como trazer o lado reflexivo dos espectadores a tona (que exemplo melhor que A Chegada?), e acredito que um tema muito especial será trabalhado no longa. Aliado com o que vimos nas prévias divulgadas até agora, tudo indica que essa sequência dará continuidade ao legado de qualidade que o nome Blade Runner carrega, ainda que de um jeito diferente do original.

E, assim, talvez a franquia deixe de ser um dos principais representantes da primeira categoria, citada no início do texto, e passe a ser um dos pilares da segunda.

Confira o novo trailer de Blade Runner 2049: