terça-feira, 5 de setembro de 2017

A beleza da violência em "Atômica"


Todos sabemos que a violência, embora infelizmente seja parte de nosso cotidiano, é repugnante na vida real. O cinema, entretanto, consegue transformá-la em entretenimento e até mesmo em arte. A lista de filmes que conseguem essa proeza é considerável, tendo sido comandados por alguns mestres como Quentin Tarantino, Martin Scorsese, Brian De Palma, Francis Ford Coppola, James Cameron, Sergio Leone, entre outros. Uma das mais recentes adições a esse rol é Atômica (Atomic Blonde no original), dirigido por David Leitch, que também co-dirigiu o primeiro John Wick, sendo ainda produtor dessa franquia que já é figura carimbada do gênero de ação.

No longa estrelado pela sempre excelente Charlize Theron, Lorraine Broughton, uma agente do MI6, é enviada a Berlim em pleno 1989, nos dias que antecederam a queda do Muro que dividia a cidade em suas partes oriental e ocidental, para investigar a morte de um espião conhecido e recuperar das mãos de um renegado da KGB uma lista contendo o nome e as operações de todos os agentes secretos em atividade, encontrando pelo caminho os personagens de James McAvoy, Sofia Boutella e John Goodman.

A sinopse, por si só, já dá espaço para a porradaria rolar solta. E ela de fato acontece, mas o filme consegue ir além e utilizar de seus principais elementos para criar uma experiência ímpar. A fotografia acinzentada (bem condizente com a época e a cidade em que se passa), que dá destaque à luz e aos neons em momentos-chave, somada a trilha sonora recheada de hits dos anos 1980 faz com que as cenas de ação beirem o pop, em um show de movimentos e imparável frenesi que não deixa tempo para respiro.

Lutas corpo a corpo são recorrentes em Atômica, e a meticulosa coreografia faz com que elas sejam fluídas e naturais, seja através de precisos cortes da montagem ou no plano-sequência de um dos melhores momentos do longa, com direito até a uma visível fadiga dos combatentes em tela que beira a aflição. Tiroteios também se sobressaem pelo dinamismo que são retratados, não poupando sangue a cada disparo certeiro dado e manchando chão, paredes e até mesmo a câmera em determinada hora.

O roteiro pode não ser o ponto mais forte do filme (apesar das reviravoltas dignas das boas tramas de espionagem), mas ele se garante pelo carisma de seus protagonistas, sua ação estilizada e o uso da violência de forma artística, dando permissão para que Lorraine aja da forma que lhe melhor convém para garantir sua sobrevivência, fazendo uso das armas básicas ou dos objetos menos convencionais encontrados no cenário. O uso combinado do filtro, das cores e da música durante os confrontos fazem de Atômica uma experiência especial, dando ao longa uma personalidade tão forte quanto a de sua personagem principal, o suficiente para diferenciá-lo do resto do gênero.

Confira uma cena de Atômica e entenda do que estou falando: