quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A magia voltou às telas, e eu me sinto em casa novamente


Eu tinha 6 anos no dia em que minha mãe me levou ao cinema, mais ou menos nessa mesma época, há 15 anos. Naquele mesmo 2001 minha irmã havia nascido, e a divisão do tempo entre o trabalho e os cuidados com a bebê só fez os momentos entre mãe e filho, que já não eram muitos (mas sempre especiais), diminuírem drasticamente. Por isso, ela reservou a data apenas para nós dois, e assim fomos ao Cinemark do Shopping D, como bem me recordo. O filme que assistimos? O mesmo que era capa da última edição da Revista Recreio, "Harry Potter e a Pedra Filosofal".

Ao término daquela sessão, minha vida nunca mais foi a mesma. Eu estava completamente conquistado por todo aquele incrível universo mágico de varinhas, vassouras, feitiços, poções, cães de três cabeças, Quadribol, Chapéu Seletor, escadas que mudam de lugar e imagens que se movem. Já me sentia amigo íntimo de personagens tão carismáticos quanto Rony Weasley, Hermione Granger, Rúbeo Hagrid e Alvo Dumbledore. E, claro, eu queria muito ser o Harry Potter (quem me conheceu até os 14 anos sabe muito bem disso, até óculos redondos eu usava). O impacto foi imediato, e ali nasceu um enorme fã da série, que leu todos os livros, viu todos os filmes, jogou vários dos games, comprou inúmeros colecionáveis, acompanhava todas as notícias possíveis e se empolgava a cada novidade.

Minha mãe também se tornou fã depois daquele dia. Leu os livros, viu os filmes, se empolgava comigo a cada trailer, imagem ou trecho divulgado. Fazíamos competição para ver quem acabava cada livro antes. Discutíamos as adaptações, no que acertaram, o que faltou, quais as coisas mais legais. Pensando agora, em certos momentos ela até parecia mais fã que eu, e talvez fosse (ou ainda seja) mesmo. E minha irmã, que tinha cerca de 9 meses no lançamento de "A Pedra Filosofal", cresceu com Harry Potter, virou fã dos longas e, quando mais velha, resolveu aventurar-se pelos livros também.

É inegável que a saga teve um grande papel em minha vida. Acompanhando as histórias, seja na versão cinematográfica ou na versão escrita, fui entretido por cada segundo daquelas aventuras, aprendendo importantes lições sobre amizade, lealdade, coragem e sacrifícios que me fizeram crescer como pessoa, ao mesmo tempo que vi seus protagonistas crescendo comigo. E também foi importante pois cada lançamento de um novo filme da franquia era um dia feliz, um momento de união com a minha família, sempre empolgada para ver o resultado da adaptação que chegava aos cinemas.

O trio que marcou toda uma geração.

Quando "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" foi lançado, quase exatos 10 anos após o primeiro longa, eu já não era mais exatamente um fanático pela franquia. Ainda era fã, gostava muito, mas já não tinha o mesmo engajamento de outrora. Os livros já haviam sido todos publicados, e eu já sabia como aquela história iria terminar. Além disso, no auge dos meus 16 anos eu estava em contato com outras coisas, supostamente mais maduras, tentando parecer o "adultão" (coisa que até hoje não sou). Mesmo assim, foi inevitável derramar algumas lágrimas ao fim do filme, com aquela sensação de dever cumprido, por menos sentido que ela fizesse. Era o fim de uma era, o encerramento de um ciclo. E o ponto final em todos aqueles momentos agradáveis em família que ocorreram na última década.

Com o fim de Harry Potter, ficou um vácuo no quesito lançamentos de cinema. Ele logo foi preenchido pelos filmes de herói, que naquela época vinham aumentando exponencialmente de quantidade. Mas o sentimento é diferente: por mais que eu adore adaptações de HQs e fique empolgado por cada uma delas, nenhuma chegou a me proporcionar o mesmo encanto e empolgação que os filmes da saga (os que chegaram mais perto talvez tenham sido "Os Vingadores", "Guardiões da Galáxia" e a Trilogia Batman de Christopher Nolan). Além disso, esses longas são algo mais de meu gosto pessoal, pois foram poucas as vezes que fui vê-los acompanhado de alguém da minha família. Só consegui me reunir com minha mãe e minha irmã em uma mesma sala de cinema para assistir "Star Wars: O Despertar da Força", mais de cinco anos depois.

Por isso, quando "Animais Fantásticos e Onde Habitam" foi anunciado, minha primeira reação foi de desconfiança. Como todo bom purista, não via necessidade em voltar ao universo de uma franquia que já estava fechada e deveria se manter intocada, sendo essa uma tentativa de lucrar em cima da marca. Mas eu pensei melhor e percebi que não há problema nenhum em fazer isso, pois os filmes originais continuariam ali intocados, e ainda teríamos a oportunidade, caso tudo fosse feito corretamente, de ver mais uma boa história ganhar vida. A escalação do ótimo Eddie Redmayne como protagonista, o retorno de David Yates à direção e a escolha da própria J. K. Rowling, criadora de todo esse universo, como roteirista amenizou ainda mais minhas preocupações, e resolvi então dar uma chance ao longa.

Cena de bastidores com os quatro protagonistas de "Animais Fantásticos e Onde Habitam".

E valeu a pena ter feito isso. "Animais Fantásticos" não me decepcionou. Inclusive, me surpreendeu muito. É ótimo ver personagens tão carismáticos quanto o quarteto Newt Scamander, Jacob Kowalski e as irmãs Tina e Queenie Goldstein sendo apresentados e desenvolvidos de forma tão simples e concisa que você já sente uma certa intimidade com eles até o fim do filme. É ótimo assistir a uma trama bem desenvolvida ao suficiente que sabe dosar inocência com temas mais sérios e adultos, ao mesmo tempo que desenvolve histórias que se conectam e fazem sentido no fim. É ótimo voltar àquele universo de magia, varinhas, feitiços, poções, imagens que se movem e seres extraordinários.

E é ótimo ir novamente aos cinemas com a família para conferir algo relacionado à franquia Harry Potter. Ao fim da sessão, o sentimento era unânime: o filme era ótimo, e mal podemos esperar para ver qual será o próximo passo a ser dado nessa nova saga. Um dos fatores que mais favoreceu "Animais Fantásticos e Onde Habitam" foi o fato de ser uma história inteiramente nova, sem paralelo nos livros, e cada cena foi uma surpresa para todos nós. Fomos todos conquistados pelos novos personagens e pelas criaturas mágicas, voltamos a ler teorias e notícias, e é questão de tempo até colocarmos as mãos em novos itens colecionáveis.

A empolgação voltou. A magia voltou. E eu só posso agradecer por isso. Senti falta de Harry Potter em minha vida. Senti falta de toda a repercussão da saga, seja na mídia, entre os fãs ou o público comum. Senti falta desses simples bons momentos com a família. E é bom que "Animais Fantásticos e Onde Habitam" exista para me proporcionar tudo isso mais uma vez. É um filme diferente, que soube evoluir em temática, acompanhando seu público cativo. Mas também sabe fazer uso da nostalgia, trazendo você de volta ao conforto daquele mundo tão familiar. E, hoje, eu me sinto aquele garoto de 6 anos novamente.

A criadora e suas criações em forma viva.