A síntese é uma arte que poucos dominam. Resumir conceitos complexos em algo de fácil entendimento não é, de fato, uma tarefa simples. Um de meus exemplos favoritos sobre o assunto é Grant Morrison contando a origem do Superman em Grandes Astros: Superman: com apenas quatro quadros e quatro frases na primeira página da primeira edição, o autor deixa claro quem é o personagem tanto para os fãs de longa data do Homem de Aço quanto para quem nunca tocou em uma história do herói. Simples, efetivo e sem falhas.
O renomado escritor Warren Ellis consegue, a seu modo, repetir essa proeza em The Wild Storm, sua nova HQ que dá início ao projeto de revitalizar o universo do selo Wildstorm na DC. Nas 22 páginas de seu primeiro número, somos apresentados a todo um mundo de espionagem industrial e organizações secretas, divididas em várias facções rivais em conflito umas com as outras e que tem como membros alguns nomes conhecidos dos fãs como Zealot, Void e Jacob Marlowe (da antiga WildC.A.T.S.), Angela Spica, a Engenheira (criação do próprio Ellis em The Authority), Miles Craven e Michael Cray. Já estão confirmadas também as aparições de Jenny Sparks (outra personagem de Ellis para Stormwatch e The Authority) e do Bandoleiro (também de WildC.A.T.S.) em edições futuras.
A trama é conduzida pela apresentação desse universo e desenvolvimento desses personagens, que nos levam a acontecimentos que só devem complicar ainda mais as relações entre os grupos. Poucos detalhes nos são entregues logo de cara, apenas o suficiente para nos intrigar e manter o interesse. Colabora com o fluir da narrativa a arte de Jon Davis-Hunt, que vai na contramão do ultrarrealismo e hipermusculatura consagrados pela Wildstorm de Jim Lee nos anos 1990 e nos entrega um trabalho limpo, sem exageros e detalhado quando precisa ser, funcionando bem tanto em cenas de diálogo quanto durante a ação.
O que mais chama a atenção nessa primeira edição é sua estrutura: a HQ funciona como um episódio-piloto de uma série de TV. Ellis já havia dito anteriormente que foi muito influenciado por Game of Thrones durante o processo criativo e, pensando na estrutura de seu primeiro episódio, há de fato muitas similaridades. Após ler essa história, tente visualizar todas as suas cenas em live-action com uma trilha sonora composta por músicas indie com clima obscuro. Pronto, você está diante do mais novo futuro sucesso da HBO.
Se passando em um universo paralelo, The Wild Storm serve tanto como um excelente ponto de partida quanto como um aceno aos velhos fãs do selo Wildstorm. Warren Ellis consegue prender o leitor a ponto de cativá-lo e deixá-lo curioso para ver o que vem pela frente. Para os fãs de espionagem, teorias da conspiração e ficção científica, não se enganem: esse é o quadrinho para vocês. E se você já zerou o catálogo da Netflix e da HBO Go, vale a pena conferir essa série, por mais que ela não seja feita no formato convencional. Fica o aviso, porém: esse é só o início de uma grande história que durará no mínimo dois anos, e que em breve será acompanhada por outros títulos. Mas, com um começo como esse, é difícil não se animar.
Abaixo, as quatro primeiras páginas de The Wild Storm: