segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Às vezes eu tenho vontade de desistir dos filmes da DC


Quem me conhece sabe o quão fã da DC eu sou. Os personagens, as histórias, o legado - muito do que a editora fez em seus mais de 80 anos de existência quebrou paradigmas e revolucionou o mercado de quadrinhos ao longo do tempo, ao começar por ter criado o gênero de super-heróis com a publicação de Action Comics nº 1 em 1938. Também foram os primeiros a explorarem outras mídias, com o lançamento dos primeiros grandes filmes de herói, animações, games e séries. Tudo isso fez parte da minha vida de algum modo, em algum momento, e até hoje me influencia das mais variadas maneiras, seja com as séries da como The Flash, games como Injustice e Batman Arkham, desenhos como Justice League Action e Young Justice, e as HQs, quem vivem um ótimo momento após o DC Universe Rebirth.

No cinema, por outro lado, a situação não está boa.

Não é de hoje que os filmes da companhia vem apresentando problemas: O Homem de Aço dividiu opiniões. Batman vs Superman: A Origem da Justiça teve sérios problemas de corte e montagem, foi massacrado por jornalistas especializados e até hoje é alvo de discussão pelos fãs. E Esquadrão Suicida foi ruim, sem identidade e que não acrescentou nada de novo, apesar de ter feito uma boa bilheteria. As críticas apontam uma série de erros, que passam por má caracterização dos personagens, roteiros mal desenvolvidos, tom pessimista e cínico, conflitos de ideias e excessiva interferência de executivos da Warner, na tentativa de recuperar o tempo perdido e alcançar a concorrência da Marvel Studios, especialmente em arrecadação.

2016 foi um ano difícil para os longas da DC, mas a casa parecia estar sendo arrumada: com o renomado escritor de quadrinhos Geoff Johns sendo apontado como supervisor do Universo Cinematográfico, os rumos começavam a se endireitar, visões passavam a se alinhar e uma abordagem mais próxima à clássica dos personagens vinha tomando forma. Johns fez seu nome com as HQs, mas iniciou carreira no cinema, trabalhando como assistente do diretor Richard Donner (de Superman - O Filme) durante alguns longas da franquia Máquina Mortífera, época que fez com que os dois se tornassem grandes amigos. Seu anúncio para a posição pareceu o melhor de dois mundos, o que passou a refletir nas notícias, com ele sendo creditado como um dos roteiristas de Mulher-Maravilha, escrevendo o roteiro do novo Batman com Ben Affleck, estando muito presente na produção de Liga da Justiça (e talvez endireitando a visão completamente distorcida de Zack Snyder), conversando com os envolvidos em Aquaman e com The Rock, o que acabou rendendo o anúncio de um filme solo do Adão Negro.

As últimas semanas, porém, trouxeram novidades preocupantes. Primeiro, foi confirmado o filme da Tropa dos Lanternas Verdes, mas ele terá David S. Goyer, um dos roteiristas mais detestados pelos fãs, escrevendo o argumento. Depois, um novo rumor de que Mulher-Maravilha estaria uma bagunça passou a circular, e embora este já tenha sido desmentido por uma confiável fonte da Forbes, é de se ficar alarmado, especialmente por essa já ser a segunda vez que algo do tipo surge. Por fim, o anúncio de Ben Affleck deixando a direção de The Batman pegou todos de surpresa, e apesar de ter usado a desculpa de que gostaria de se focar mais em escrever e atuar, a mesma fonte citada declarou que o desentendimento entre o ator e a Warner foi tão grande que ele até estaria considerando deixar o papel de Batman. Para piorar, no dia seguinte surgiu a notícia que o roteiro do longa foi inteiramente reescrito por Chris Terrio, responsável por Argo, Batman vs Superman e do vindouro Liga da Justiça.

Pensando em tudo isso, eu me pergunto: será que é tão difícil trabalhar com os executivos da Warner/DC? Será que é tão difícil esses executivos confiarem no trabalho dos outros (que se fossem desconhecidos até entenderia, mas é só gente de renome)? Pior: será que esses caras não entendem que bons filmes de herói dão mais dinheiro que filmes medianos/ruins, e que nome não é tudo? Eu entendo que há muita grana em jogo, a necessidade de correr atrás do prejuízo e dos números da Marvel... Mas, gente, precisa causar tanto problema e entregar resultados medíocres ou até ofensivos como Esquadrão Suicida? Tudo bem que, no caso de The Batman, é melhor que esses problemas ocorram na pré-produção do que durante as gravações ou na pós, mas ainda assim é desanimador ver que esse tipo de coisa persiste em acontecer depois de tudo que vimos no último ano.

Eu quero acreditar que o Universo DC vai dar certo no cinema. Eu quero gostar dos filmes. Até escrevi um texto mostrando toda minha esperança para Mulher-Maravilha. Mas notícias como essas me dão vontade de desistir deles, por todo o desrespeito envolvendo as propriedades intelectuais envolvidas e personagens tão amados do imaginário popular que vem sendo mostrado, e torcer para esses caras continuarem tomando pau da concorrência, que faz seu trabalho de forma competente e entretém o público. Não quero que eles copiem a Marvel, mas que tratem seus heróis da forma que merecem e construam seus longas na mesma linha das fantásticas histórias que estão acostumados a contar, deixando o cinismo e o clima soturno de lado e se focando no otimismo e esperança que seus melhores escritores (inclusive o próprio Geoff Johns) sempre empregaram em suas tramas.

Darei chances para Mulher-Maravilha e Liga da Justiça, irei vê-los com a mente aberta. Mas se os dois fracassarem mais uma vez e saírem abaixo do esperado, acaba aí minha relação com os filmes da DC. E, se esse for o caso, aconselho a todos fazerem o mesmo, para mostrar aos executivos, roteiristas e diretores que esses personagens merecem um tratamento melhor, e que nós, o público, merecemos muito mais do que eles querem nos oferecer.

Aproveitando, essa é a nova imagem do filme da Liga da Justiça. Aquaman, Mulher-Maravilha e Ciborgue em ação. Esperem pelo melhor, mas não se surpreendam com o pior.