2 de junho de 2017 pode parecer longe, mas esses pouco mais de sete meses passam em um piscar de olhos. Nessa data chegará aos cinemas o filme da Mulher-Maravilha, a primeira grande produção baseada em histórias em quadrinhos estrelada por uma mulher (porque "Elektra" e "Mulher-Gato" definitivamente não contam). O clima que paira o longa, porém, é de incerteza e receio.
Por um lado, tivemos dois excelentes trailers, repletos de cenas com bela fotografia, ótimo contraste de cores, o que aparenta ser um equilíbrio certeiro entre seriedade e humor, e ação frenética, mas com assinatura de quem sabe fazer. Os vídeos realmente empolgam, com sequências de tirar o fôlego e trilha sonora digna dos épicos de Hollywood. O elenco é composto de grandes nomes, como Connie Nielsen, Robin Wright e Chris Pine, mas a presença e imposição de Gal Gadot dominam qualquer cena em que a mesma participa. A diretora Patty Jenkins é conhecida pela qualidade de seus trabalhos, tendo dirigido "Monster", que acabou rendendo um Oscar a Charlize Theron por sua atuação. Colaborando com tudo isso, temos Geoff Johns, o atual chefe da DC Entertainment, alegando que a produção terá um tom mais leve e otimista em comparação com as outras tentativas do estúdio.
Por outro lado, temos a mesma DC/Warner com dois retumbantes fracassos de crítica em 2016. "Batman vs. Superman" ainda conseguiu dividir as reações do público, mas a opinião sobre "Esquadrão Suicida" foi unânime: fraco, retalhado e sem uma tonalidade definida, e eu prefiro nem entrar no mérito (ou na falta de) do Coringa de Jared Leto. Ambos tiveram sucesso na bilheteria, com o primeiro arrecadando mais de 873 milhões de dólares mundialmente, enquanto o último fez 745 milhões de dólares ao todo. Bons resultados, muito embora BvS foi abaixo do 1 bilhão de dólares esperado por ser o filme que uniria os dois heróis mais famosos de todos os tempos, claramente prejudicado pela má recepção.
E é com esse cenário que a Princesa Amazona mais famosa da cultura pop chega às telas. A espera é grande e o material de divulgação, junto com os nomes envolvidos, só colaboram, mas o medo de ser lançado mais um filme aquém do esperado também é enorme, especialmente se lembrarmos que "Batman vs. Superman" e "Esquadrão Suicida" tiveram campanhas de marketing exemplares e o resultado final foi muito pior do que era mostrado em trailers e comerciais. Para piorar, a concorrente Marvel continua emplacando sucesso atrás de sucesso, com sua fórmula cada vez mais consolidada, e pretende lançar nada menos que três filmes em 2017, com "Guardiões da Galáxia Vol. 2" tendo data marcada para 27 de abril, pouco mais de um mês antes do longa da DC.
A pressão pelo sucesso de "Mulher-Maravilha" nesse momento deve ser enorme, especialmente após o CEO do grupo Time Warner admitir em setembro que os filmes baseados em quadrinhos da companhia poderiam ser melhores, posição reafirmada pelo CEO da Warner Bros. Entertainment. Não colabora se lembrarmos também que no fim de agosto surgiu um rumor de que a produção do longa estava uma bagunça. Por mais infundado que ele fosse e com a diretora vindo a público desmenti-lo e defender a adaptação, sua cota de estrago já foi feita.
O filme, porém, aparenta estar em uma boa posição, e já é possível perceber isso pelos próprios trailers: diferente do clima sombrio de "Batman vs. Superman" e do show de montagem e músicas empolgantes de "Esquadrão Suicida", "Mulher-Maravilha" vem se vendendo pela qualidade de sua fotografia, por seu tom épico e por seu humor sutil e bem-colocado. A sensação que ele passa é claramente diferente de seus antecessores, sendo uma releitura da origem da personagem que respeita seus melhores elementos, representados por toda a coragem, inocência e sinceridade que Diana apresenta. O envolvimento direto no roteiro e a supervisão de Geoff Johns também parecem ter surtido um efeito positivo, com ele, que conhece os personagens após trabalhar com os mesmos por quase 20 anos na editora, evitando que certos conceitos fundamentais fossem modificados.
Colabora também pensar o cenário que cerca a personagem no momento: em 2016, a Mulher-Maravilha completou 75 anos de sua criação, foi nomeada Embaixadora da ONU pela Igualdade de Gênero e fez sua estreia no cinema, aparecendo em "Batman vs. Superman" e sendo considerada por muitos a melhor coisa coisa do filme, opinião praticamente unânime em algo que gerou tanta divergência. Nos quadrinhos, a Amazona vem passando por uma de suas melhores fases nas mãos do roteirista Greg Rucka e dos artistas Liam Sharp e Nicola Scott, além de ter ganho algumas releituras em "Wonder Woman: Earth One" de Grant Morrison e Yannick Paquette, "Wonder Woman: The True Amazon" de Jill Thompson, e "The Legend of Wonder Woman" de Renae de Liz. Esse pico de popularidade só tem a favorecer o sucesso do filme, principalmente se o mesmo sair como esperado.
A importância de "Mulher-Maravilha" vai além de resultados de crítica e números de bilheteria, porém. Como citado, essa será a primeira grande produção baseada em quadrinhos estrelada por uma mulher. Embora a representatividade de gênero venha ganhando espaço no cinema, com mulheres protagonizando grandes blockbusters (como Star Wars, por exemplo), Hollywood ainda é muito conservadora quanto a essa questão, apostando no seguro e evitando a criação de personagens femininas fortes, diminuindo grandes atrizes a papéis mais fúteis ou de menor destaque. Os filmes de super-herói são o maior exemplo disso: basta assistir qualquer um da Marvel para ver gente do naipe de Natalie Portman, Rachel McAdams ou Gwyneth Paltrow sendo subutilizadas e muitas vezes reduzidas à função de "donzela em perigo", e embora a Viúva-Negra de Scarlett Johansson já esteja aí há anos, a resistência em fazer uma aventura solo da personagem nas telas permanece, por mais pronta que ela esteja para liderar o que poderia ser um excelente longa de espionagem. A DC também não foge muito a essa regra, não fazendo bom uso de todo o talento de Amy Adams na representação de Lois Lane, que principalmente em BvS parecia deslocada e sem grande função na trama.
A Mulher-Maravilha é um ícone feminista, tendo sido a primeira super-heroína dos quadrinhos e já representando tais ideais desde sua criação. Apesar de muitas vezes mal utilizada, foi graças a ela que muitas garotas e mulheres começaram a ler quadrinhos, se identificando com a personagem. E foi graças a ela também que outras heroínas ganharam seu espaço nos gibis, como é o caso da Batgirl, da Supergirl e da Canário Negro. Nada mais justo, então, que ela faça o mesmo no cinema: o sucesso de seu filme mostraria que o público e a crítica estão mais do que preparados para receberem e abraçarem adaptações de HQs protagonizadas por mulheres, o que só traria benefícios para o mercado, dando segurança para a Marvel lançar seu vindouro longa da Capitã Marvel do jeito que ele deve ser feito, além de abrir portas para outras heroínas como a já citada Batgirl (ou até mesmo sua equipe feminina, as Aves de Rapina) conquistarem seu lugar nas telas.
Novamente, o filme parece bem direcionado quanto a essa questão: os trailers deixam bem claro que o feminismo será abordado, com algumas de suas principais cenas de humor sendo críticas pontuais à cultura machista, que era regra na época da Primeira Guerra Mundial e que infelizmente teima em resistir até os dias atuais. É transparente também a representação da personagem principal que, apesar de ser uma guerreira porradeira sem medo do perigo, apresenta toda uma leveza e feminilidade, não sendo uma mera brucutu de saias. Vale ainda o destaque para o extenso elenco feminino do longa, algo não só necessário como obrigatório, uma vez que Themyscira, a Ilha Paraíso de onde Diana vem, é lar exclusivo das amazonas, ou seja, habitada apenas por mulheres e em total separação do mundo dos homens.
É árdua a missão que a Mulher-Maravilha terá de enfrentar logo em sua primeira aventura solo nos cinemas, precisando ser um sucesso de público e crítica para que a confiança na DC seja recuperada ao mesmo tempo que precisa provar à indústria que filmes de super-heroína valem o investimento. Mas ela, junto com toda a fantástica equipe envolvida no longa, tem o poder para conseguir tudo isso. O receio pode até existir, mas a empolgação é maior, e, pelo mostrado nos trailers, ela parece ter fundamento, com o filme aparentando estar no caminho certo. Só quero sair da sessão no dia 2 de junho e perceber que não estava errado.
Por outro lado, temos a mesma DC/Warner com dois retumbantes fracassos de crítica em 2016. "Batman vs. Superman" ainda conseguiu dividir as reações do público, mas a opinião sobre "Esquadrão Suicida" foi unânime: fraco, retalhado e sem uma tonalidade definida, e eu prefiro nem entrar no mérito (ou na falta de) do Coringa de Jared Leto. Ambos tiveram sucesso na bilheteria, com o primeiro arrecadando mais de 873 milhões de dólares mundialmente, enquanto o último fez 745 milhões de dólares ao todo. Bons resultados, muito embora BvS foi abaixo do 1 bilhão de dólares esperado por ser o filme que uniria os dois heróis mais famosos de todos os tempos, claramente prejudicado pela má recepção.
Mulher-Maravilha em um dos momentos de maior imponência do trailer, logo após desviar uma bala em seu bracelete.
E é com esse cenário que a Princesa Amazona mais famosa da cultura pop chega às telas. A espera é grande e o material de divulgação, junto com os nomes envolvidos, só colaboram, mas o medo de ser lançado mais um filme aquém do esperado também é enorme, especialmente se lembrarmos que "Batman vs. Superman" e "Esquadrão Suicida" tiveram campanhas de marketing exemplares e o resultado final foi muito pior do que era mostrado em trailers e comerciais. Para piorar, a concorrente Marvel continua emplacando sucesso atrás de sucesso, com sua fórmula cada vez mais consolidada, e pretende lançar nada menos que três filmes em 2017, com "Guardiões da Galáxia Vol. 2" tendo data marcada para 27 de abril, pouco mais de um mês antes do longa da DC.
A pressão pelo sucesso de "Mulher-Maravilha" nesse momento deve ser enorme, especialmente após o CEO do grupo Time Warner admitir em setembro que os filmes baseados em quadrinhos da companhia poderiam ser melhores, posição reafirmada pelo CEO da Warner Bros. Entertainment. Não colabora se lembrarmos também que no fim de agosto surgiu um rumor de que a produção do longa estava uma bagunça. Por mais infundado que ele fosse e com a diretora vindo a público desmenti-lo e defender a adaptação, sua cota de estrago já foi feita.
O filme, porém, aparenta estar em uma boa posição, e já é possível perceber isso pelos próprios trailers: diferente do clima sombrio de "Batman vs. Superman" e do show de montagem e músicas empolgantes de "Esquadrão Suicida", "Mulher-Maravilha" vem se vendendo pela qualidade de sua fotografia, por seu tom épico e por seu humor sutil e bem-colocado. A sensação que ele passa é claramente diferente de seus antecessores, sendo uma releitura da origem da personagem que respeita seus melhores elementos, representados por toda a coragem, inocência e sinceridade que Diana apresenta. O envolvimento direto no roteiro e a supervisão de Geoff Johns também parecem ter surtido um efeito positivo, com ele, que conhece os personagens após trabalhar com os mesmos por quase 20 anos na editora, evitando que certos conceitos fundamentais fossem modificados.
Colabora também pensar o cenário que cerca a personagem no momento: em 2016, a Mulher-Maravilha completou 75 anos de sua criação, foi nomeada Embaixadora da ONU pela Igualdade de Gênero e fez sua estreia no cinema, aparecendo em "Batman vs. Superman" e sendo considerada por muitos a melhor coisa coisa do filme, opinião praticamente unânime em algo que gerou tanta divergência. Nos quadrinhos, a Amazona vem passando por uma de suas melhores fases nas mãos do roteirista Greg Rucka e dos artistas Liam Sharp e Nicola Scott, além de ter ganho algumas releituras em "Wonder Woman: Earth One" de Grant Morrison e Yannick Paquette, "Wonder Woman: The True Amazon" de Jill Thompson, e "The Legend of Wonder Woman" de Renae de Liz. Esse pico de popularidade só tem a favorecer o sucesso do filme, principalmente se o mesmo sair como esperado.
Você consegue imaginar um filme que proporciona uma visão dessas dando errado?
A importância de "Mulher-Maravilha" vai além de resultados de crítica e números de bilheteria, porém. Como citado, essa será a primeira grande produção baseada em quadrinhos estrelada por uma mulher. Embora a representatividade de gênero venha ganhando espaço no cinema, com mulheres protagonizando grandes blockbusters (como Star Wars, por exemplo), Hollywood ainda é muito conservadora quanto a essa questão, apostando no seguro e evitando a criação de personagens femininas fortes, diminuindo grandes atrizes a papéis mais fúteis ou de menor destaque. Os filmes de super-herói são o maior exemplo disso: basta assistir qualquer um da Marvel para ver gente do naipe de Natalie Portman, Rachel McAdams ou Gwyneth Paltrow sendo subutilizadas e muitas vezes reduzidas à função de "donzela em perigo", e embora a Viúva-Negra de Scarlett Johansson já esteja aí há anos, a resistência em fazer uma aventura solo da personagem nas telas permanece, por mais pronta que ela esteja para liderar o que poderia ser um excelente longa de espionagem. A DC também não foge muito a essa regra, não fazendo bom uso de todo o talento de Amy Adams na representação de Lois Lane, que principalmente em BvS parecia deslocada e sem grande função na trama.
A Mulher-Maravilha é um ícone feminista, tendo sido a primeira super-heroína dos quadrinhos e já representando tais ideais desde sua criação. Apesar de muitas vezes mal utilizada, foi graças a ela que muitas garotas e mulheres começaram a ler quadrinhos, se identificando com a personagem. E foi graças a ela também que outras heroínas ganharam seu espaço nos gibis, como é o caso da Batgirl, da Supergirl e da Canário Negro. Nada mais justo, então, que ela faça o mesmo no cinema: o sucesso de seu filme mostraria que o público e a crítica estão mais do que preparados para receberem e abraçarem adaptações de HQs protagonizadas por mulheres, o que só traria benefícios para o mercado, dando segurança para a Marvel lançar seu vindouro longa da Capitã Marvel do jeito que ele deve ser feito, além de abrir portas para outras heroínas como a já citada Batgirl (ou até mesmo sua equipe feminina, as Aves de Rapina) conquistarem seu lugar nas telas.
Novamente, o filme parece bem direcionado quanto a essa questão: os trailers deixam bem claro que o feminismo será abordado, com algumas de suas principais cenas de humor sendo críticas pontuais à cultura machista, que era regra na época da Primeira Guerra Mundial e que infelizmente teima em resistir até os dias atuais. É transparente também a representação da personagem principal que, apesar de ser uma guerreira porradeira sem medo do perigo, apresenta toda uma leveza e feminilidade, não sendo uma mera brucutu de saias. Vale ainda o destaque para o extenso elenco feminino do longa, algo não só necessário como obrigatório, uma vez que Themyscira, a Ilha Paraíso de onde Diana vem, é lar exclusivo das amazonas, ou seja, habitada apenas por mulheres e em total separação do mundo dos homens.
É árdua a missão que a Mulher-Maravilha terá de enfrentar logo em sua primeira aventura solo nos cinemas, precisando ser um sucesso de público e crítica para que a confiança na DC seja recuperada ao mesmo tempo que precisa provar à indústria que filmes de super-heroína valem o investimento. Mas ela, junto com toda a fantástica equipe envolvida no longa, tem o poder para conseguir tudo isso. O receio pode até existir, mas a empolgação é maior, e, pelo mostrado nos trailers, ela parece ter fundamento, com o filme aparentando estar no caminho certo. Só quero sair da sessão no dia 2 de junho e perceber que não estava errado.