Certos heróis tem mais sorte que outros. Superman, Batman, Homem-Aranha, Capitão América, X-Men, todos tiveram (e tem) seus problemas, mas ao mesmo tempo conseguem tocar suas vidas normalmente, sendo fisicamente íntegros (ao menos na maior parte de suas décadas de história). E, quando se trata do mundo real, todos são personagens do mais alto escalão, suas revistas sempre estiveram entre as mais vendidas e os filmes baseados neles foram, em sua maior parte, um grande sucesso. Esses caras não tem muito do que reclamar, no fim.
Esse não é o caso do Demolidor, porém. Matt Murdock nunca teve uma vida fácil, tendo ficado cego logo quando criança, após resíduos radioativos caírem em seus olhos, e perdendo seu pai pelas mãos da máfia ainda jovem. O acidente que tirou sua visão acabou "superaguçando" seus demais sentidos, e assim ele resolveu se tornar um vigilante, tendo antes se formado em Direito. Mas tudo continuou indo ladeira abaixo: Elektra, seu par romântico, foi assassinada; Karen Page, a secretária de seu escritório e seu outro par romântico, virou uma atriz pornô, ficou viciada em heroína, descobriu ter HIV, e também foi morta; Foggy Nelson, seu melhor amigo e sócio, teve câncer; a identidade de Murdock já veio a público... Tudo em sua vida sempre foi um verdadeiro Inferno, e não a toa ele resolveu tornar-se seu próprio Diabo. Para piorar, o personagem sempre foi um herói secundário, mesmo tendo brilhantes histórias vindas de escritores renomados como Frank Miller e Brian Michael Bendis, e a imagem que a maioria das pessoas tem dele é a daquela atrocidade que foi a adaptação de 2003 estrelada por Ben Affleck.
Bom, isso tudo até agora. Com suas histórias ganhando um novo rumo desde 2011, pelas mãos do fantástico Mark Waid, chegou a hora daquele filme horrível ser apagado da memória da população. No dia 10/04 foi lançada, na íntegra, a primeira temporada da série do Demolidor, feita pela Marvel Studios em parceria com a Netflix. A promessa dessa vez era a de fazer tudo do jeito certo, e, pelo que pode ser visto em trailers e comentado por quem já havia assistido alguns episódios, realmente seguiriam isso à risca, bebendo direto das fases mais consagradas dos já citados Miller e Bendis (o que foi possível perceber pelo uniforme e o tom sombrio mostrado). Até a classificação etária é para maiores de 18 anos aqui no Brasil (quem diria, dona Marvel...). Ou seja, motivos o suficiente para deixar milhares de pessoas animadas para assistir.
Já se passaram três dias desde seu lançamento, e a pergunta que não quer se calar é: afinal, a série correspondeu a todas essas expectativas e é boa mesmo? Eu, como fã tanto do personagem quanto de séries televisivas, fui atrás da resposta para tal, e acabei assistindo os episódios de uma forma praticamente frenética. Foram 10 logo na sexta, ficando os 3 remanescentes para o sábado. Uma longa maratona de praticamente 13 horas, mas que certamente valeu cada segundo de sua duração.
Já se passaram três dias desde seu lançamento, e a pergunta que não quer se calar é: afinal, a série correspondeu a todas essas expectativas e é boa mesmo? Eu, como fã tanto do personagem quanto de séries televisivas, fui atrás da resposta para tal, e acabei assistindo os episódios de uma forma praticamente frenética. Foram 10 logo na sexta, ficando os 3 remanescentes para o sábado. Uma longa maratona de praticamente 13 horas, mas que certamente valeu cada segundo de sua duração.
O primeiro uniforme do Demolidor na série, tirado diretamente da minissérie "Demolidor - O Homem Sem Medo", por Frank Miller e John Romita Jr.
O que eu mais gostei de ver em "Demolidor" foi que a série não teve medo de se afastar dos demais produto baseados em quadrinhos, sejam filmes ou programas de TV, e fazer o que deve ser feito do modo que deve ser feito. É claro que aparecem algumas sutis referências ao Universo Cinematográfico Marvel, bem como a até mesmo algumas das outras vindouras produções da parceria Netflix-Marvel, para deixar clara a ligação com as outras criações do estúdio, mas acaba aí. Nada de piadas recorrentes, nada de tom amigável, nada de grandes cenas românticas. Hell's Kitchen é praticamente um mundo a parte, pobre, frio, sofrido, corrupto, violento. Um clima sombrio, pouco agradável, que até chega a incomodar. Problemas por toda parte, criminalidade recorrente, pessoas de poder que poucos conhecem. E um homem, disposto a aceitar o fardo, com o objetivo de fazer deste um lugar melhor. Exatamente como deve ser.
Os personagens são um show a parte. Todos eles tem seu carisma, valor e necessidade. Em momento algum você olha para a tela e diz "putz, esse cara de novo, não aguento mais ele". Eles sempre tem algo importante ou interessante a adicionar. As mulheres tem papel essencial, especialmente Karen Page, grande responsável pelo desenrolar de boa parte da trama. O grande destaque, porém, vai para o Wilson Fisk de Vincent D'Onofrio, que atua brilhantemente e é provavelmente a representação mais acertada de um vilão das HQs nas telas. O paralelo feito pela série entre ele e o próprio Demolidor deixa bem claro que eles são os dois lados de uma mesma moeda, diferindo apenas nos métodos que usam para atingir seus objetivos e em quem eles preferiram ajudar. Além disso, ambos são mostrados como seres humanos durante todo o tempo, com suas motivações e fantasmas do passado que definem quem são.
Uma das maiores discussões entre fãs anteriormente foi sobre como seria a ação da série, pois a Marvel sempre nos presenteou com ótimas cenas, mas nada muito explícito ou além do permitido para menores de 12 anos. Felizmente, isso não foi um problema para "Demolidor". A classificação para maiores de 18 anos (16, nos EUA) permitiu que a ação fosse violenta, gráfica e pudesse abusar disso sempre que necessário. As sequências são realistas, extremamente bem coreografadas, agressivas e destemidas. E é muito legal ver Matt Murdock distribuindo socos e chutes, mas ao mesmo tempo apanhando e se machucando MUITO, como um lembrete de que, apesar de ter sentidos aguçados e treinamento, ele nada mais é do que um homem como todos os outros. O ápice disso tudo está no fantástico plano-sequência do final do segundo episódio e no confrontos entre o Demolidor e Fisk, todos memoráveis.
E claro que não dá para não citar o respeito que a adaptação tem por seu material fonte. A relação entre os personagens foi transcrita entre as mídias de forma perfeita: o Homem Sem Medo é um acrobata porradeiro que faz excelente uso de suas habilidades, ao mesmo tempo que sua identidade civil é um católico fervoroso e um brilhante advogado; Fisk é maquiavélico, bruto e instável; Foggy Nelson é mais descontraído e serve como uma espécie de alívio "cômico", e Karen Page é a figura mais misteriosa até o momento. É importante ressaltar também que o passado do Demolidor foi mantido, e podemos ver "Battlin'" Jack Murdock e o treinador de artes marciais para cegos Stick interagindo com o pequeno Matt através de flashbacks, que são muito bem encaixados, não repetitivos e que só aparecem quando necessário. Ao mesmo tempo, a série não é uma mera cópia dos quadrinhos, sabendo se postar como uma produção televisiva e criando algo novo e único, com uma ótima trama de ação-investigativa que tem um começo, um meio e um fim, de modo que não assusta um espectador que nunca pegou uma HQ do herói na mão, mas que sabe recompensar os fãs de longa data com pequenos detalhes espalhados ao longo dos 13 episódios dessa primeira temporada.
A única coisa que me deixou incomodado foi a falta do sentido de radar do personagem principal. Uma das principais e mais legais habilidades do personagem, criei grandes expectativas para ver como o retratariam, pois poderia ficar sensacional caso seguissem o caminho certo. Mas ele nem apareceu. Tá certo que Matt usa seus sentidos aguçados o tempo todo, e até aparece como ele "enxerga" o mundo, mas não foi a mesma coisa. Talvez ele apareça em uma eventual segunda temporada, até porque é uma habilidade que precisou ser aprendida nas histórias. E nem vou falar sobre a bengala-cassetete, porque não faz sentido ele já ter esse equipamento logo em seus primeiros dias.
Respondendo à pergunta que não quer se calar: sim, a série é boa. MUITO boa. A melhor série de herói já feita até o momento. "Demolidor" soube respeitar o material original, representar os personagens e suas interações de forma perfeita, apresentar um outro lado do universo da Marvel, fornecer excelentes cenas de ação e amarrar tudo isso em uma trama digna das melhores histórias do Diabo da Guarda, sendo um prato cheio para os fãs e também sendo uma ótima pedida para quem não é, por ser facilmente entendível e bem explicada. É possível vê-la de uma vez só, como se fosse o filme mais longo já feito, ou aos poucos, alguns episódios por vez, ficando a critério de quem estiver assistindo, mas funcionando bem de ambos os modos e não tornando-se cansativa. A Marvel Studios começou sua parceria com a Netflix com o pé direito, e que venham "AKA Jessica Jones", "Luke Cage", "Punho de Ferro" e "Os Defensores". Mas, acima de tudo, que venha logo uma segunda temporada, por favor!
Os personagens são um show a parte. Todos eles tem seu carisma, valor e necessidade. Em momento algum você olha para a tela e diz "putz, esse cara de novo, não aguento mais ele". Eles sempre tem algo importante ou interessante a adicionar. As mulheres tem papel essencial, especialmente Karen Page, grande responsável pelo desenrolar de boa parte da trama. O grande destaque, porém, vai para o Wilson Fisk de Vincent D'Onofrio, que atua brilhantemente e é provavelmente a representação mais acertada de um vilão das HQs nas telas. O paralelo feito pela série entre ele e o próprio Demolidor deixa bem claro que eles são os dois lados de uma mesma moeda, diferindo apenas nos métodos que usam para atingir seus objetivos e em quem eles preferiram ajudar. Além disso, ambos são mostrados como seres humanos durante todo o tempo, com suas motivações e fantasmas do passado que definem quem são.
Uma das maiores discussões entre fãs anteriormente foi sobre como seria a ação da série, pois a Marvel sempre nos presenteou com ótimas cenas, mas nada muito explícito ou além do permitido para menores de 12 anos. Felizmente, isso não foi um problema para "Demolidor". A classificação para maiores de 18 anos (16, nos EUA) permitiu que a ação fosse violenta, gráfica e pudesse abusar disso sempre que necessário. As sequências são realistas, extremamente bem coreografadas, agressivas e destemidas. E é muito legal ver Matt Murdock distribuindo socos e chutes, mas ao mesmo tempo apanhando e se machucando MUITO, como um lembrete de que, apesar de ter sentidos aguçados e treinamento, ele nada mais é do que um homem como todos os outros. O ápice disso tudo está no fantástico plano-sequência do final do segundo episódio e no confrontos entre o Demolidor e Fisk, todos memoráveis.
E claro que não dá para não citar o respeito que a adaptação tem por seu material fonte. A relação entre os personagens foi transcrita entre as mídias de forma perfeita: o Homem Sem Medo é um acrobata porradeiro que faz excelente uso de suas habilidades, ao mesmo tempo que sua identidade civil é um católico fervoroso e um brilhante advogado; Fisk é maquiavélico, bruto e instável; Foggy Nelson é mais descontraído e serve como uma espécie de alívio "cômico", e Karen Page é a figura mais misteriosa até o momento. É importante ressaltar também que o passado do Demolidor foi mantido, e podemos ver "Battlin'" Jack Murdock e o treinador de artes marciais para cegos Stick interagindo com o pequeno Matt através de flashbacks, que são muito bem encaixados, não repetitivos e que só aparecem quando necessário. Ao mesmo tempo, a série não é uma mera cópia dos quadrinhos, sabendo se postar como uma produção televisiva e criando algo novo e único, com uma ótima trama de ação-investigativa que tem um começo, um meio e um fim, de modo que não assusta um espectador que nunca pegou uma HQ do herói na mão, mas que sabe recompensar os fãs de longa data com pequenos detalhes espalhados ao longo dos 13 episódios dessa primeira temporada.
A única coisa que me deixou incomodado foi a falta do sentido de radar do personagem principal. Uma das principais e mais legais habilidades do personagem, criei grandes expectativas para ver como o retratariam, pois poderia ficar sensacional caso seguissem o caminho certo. Mas ele nem apareceu. Tá certo que Matt usa seus sentidos aguçados o tempo todo, e até aparece como ele "enxerga" o mundo, mas não foi a mesma coisa. Talvez ele apareça em uma eventual segunda temporada, até porque é uma habilidade que precisou ser aprendida nas histórias. E nem vou falar sobre a bengala-cassetete, porque não faz sentido ele já ter esse equipamento logo em seus primeiros dias.
Respondendo à pergunta que não quer se calar: sim, a série é boa. MUITO boa. A melhor série de herói já feita até o momento. "Demolidor" soube respeitar o material original, representar os personagens e suas interações de forma perfeita, apresentar um outro lado do universo da Marvel, fornecer excelentes cenas de ação e amarrar tudo isso em uma trama digna das melhores histórias do Diabo da Guarda, sendo um prato cheio para os fãs e também sendo uma ótima pedida para quem não é, por ser facilmente entendível e bem explicada. É possível vê-la de uma vez só, como se fosse o filme mais longo já feito, ou aos poucos, alguns episódios por vez, ficando a critério de quem estiver assistindo, mas funcionando bem de ambos os modos e não tornando-se cansativa. A Marvel Studios começou sua parceria com a Netflix com o pé direito, e que venham "AKA Jessica Jones", "Luke Cage", "Punho de Ferro" e "Os Defensores". Mas, acima de tudo, que venha logo uma segunda temporada, por favor!
O último banner divulgado, com todo o elenco. É possível ver o Demolidor no reflexo de Murdock, algo muito recorrente nos quadrinhos.