Filmes de bastidores turbulentos dificilmente vêm a resultar em trabalhos decentes. Conflitos entre produtores e realizadores acabam por gerarem interferências em todo o processo criativo, minando ideias que poderiam mudar o rumo do produto final e fazê-lo se destacar ante os demais lançamentos do momento, ou de longas pertencentes ao mesmo gênero. Basta olhar para Liga da Justiça, Esquadrão Suicida, Batman vs. Superman: A Origem da Justiça e Quarteto Fantástico, todos produções de grande potencial que acabaram por ser algo entre o medíocre e o execrável devido a intrigas e interferências de figurões de Hollywood.
Han Solo: Uma História Star Wars também passou por complicações. Após um celebrado anúncio de que Phil Lord e Chris Miller dirigiriam o filme em meados de 2016, a dupla foi demitida do cargo cerca de um ano depois, após já haver investido quatro meses em sua gravação e estar próxima de finalizá-lo. Ainda não há um consenso acerca dos motivos de Kathleen Kennedy, CEO da Lucasfilm, para a tomada de tal decisão, mas o fato é que, dois dias depois, Ron Howard já estava anunciado como novo comandante do longa, que passou por extensas refilmagens (cerca de 70%, pelo que se tem conhecimento), o que atrasou o início de sua divulgação, mas não de sua chegada aos cinemas, que ficou mantida para 24 de maio deste ano no Brasil (25 de maio no resto do mundo, mesma data do lançamento de Uma Nova Esperança e O Retorno de Jedi).
Embora o departamento de marketing tenha se esforçado ao máximo, com dois bons trailers e diversos belos pôsteres, Han Solo não consegue disfarçar o que é: um filme problemático como os citados acima, que também tiveram problemas de bastidores, o que fica claro já em seus primeiros minutos. Apoiando-se em clichês e respostas para perguntas que jamais foram feitas enquanto tenta distrair o espectador com cenas de ação que raramente conseguem cumprir seu papel, o mais novo spin-off de Star Wars deixa clara a desnecessidade de sua existência ao se cercar de coincidências que pouco acrescentam (quando não destroem) à mitologia de um dos mais queridos heróis clássicos da saga.
Não que o filme seja um desastre completo. Han Solo: Uma História Star Wars tem sim pontos positivos, a começar, por exemplo, com a interpretação de Donald Glover como uma versão mais jovem de Lando Calrissian, de modo que o ator transmite com fidelidade os trejeitos, o estilo e a elegância do histórico personagem encarnado por Billy Dee Williams na trilogia original, chegando até a impostar sua voz para fazê-la se assemelhar com a do antigo intérprete. Todo o elenco, na verdade, realiza um bom trabalho dentro do que lhes foi entregue, inclusive Alden Ehrenreich, dono do papel principal e um dos principais temores devido ao que vinha sido dito acerca dos bastidores, mas que convence como Han Solo, ainda que esteja longe do calibre de atuação de Harrison Ford. Os efeitos especiais também se destacam, mantendo o já conhecido padrão de qualidade Industrial Light & Magic, e a trilha sonora composta por John Powell (com o tema principal sendo de autoria de John Williams) é bem executada e muitas vezes eleva o que é visto em tela.
O que desbalanceia o filme quanto a todos estes aspectos técnicos é seu roteiro. Apesar de seguir uma sequência linear lógica e respeitar a estrutura básica de narrativa, a forma com que retrata a história de Han Solo é através de uma origem que se sente compelida a explicar cada aspecto icônico do personagem, e todos dentro de uma única aventura. Desse modo, o público é exposto a algumas irrelevantes respostas acerca do protagonista, como a origem de seu nome, de seu icônico blaster, de sua fama de soltar cargas contrabandeadas ou o motivo para haver atirado primeiro em Greedo nos eventos do primeiro Star Wars. Ao mesmo tempo, momentos como o famoso "Percurso de Kessel em 12 Parsecs" ou a forma com que Han ganha a Millenium Falcon de Lando são retratados de forma branda e acabam por desmistificar estas informações dadas durante os três filmes clássicos, que por muitos anos habitaram o imaginário dos fãs e pareciam melhores ali.
Também fraqueja o script quando precisa desenvolver seus personagens ou a relação entre eles. É fácil se identificar com conhecidos como Solo, Lando e Chewbacca, mas novas adições como Tobias Beckett, Dryden Vos ou Val não conseguem estabelecer qualquer ligação com o público, sendo tão descartáveis quanto aparentam ser. Nem mesmo Qi'ra (Emilia Clarke), uma das protagonistas da trama, consegue se firmar e mostrar ao que veio, sendo parte de um arco dispensável que pouco faria diferença no resultado final. Suas interações ainda soam forçadas, pouco naturais, ao passo que o relacionamento entre Han e Chewie, que deveria ser um dos principais pontos do enredo, se dá de forma apressada e mal-desenvolvida, enquanto Lando protagoniza com a androide L3-37 (Phoebe Waller-Bridge) um dos momentos mais desconexos e talvez até vexatórios de todo o filme.
Soma-se a todos estes problemas apontados o filtro de fotografia usado pelo diretor Ron Howard, que não apenas escurece toda a película, dificultando assistir algumas cenas realizadas em ambientes de pouca luminosidade (especialmente em 3D), mas também neutraliza todas as suas cores, deixando Han Solo sem vida ou carisma, um erro básico quando se trata de um longa que tenta se pautar pelo humor, o qual poucas vezes se sobressai. Na falta de tantos elementos, tudo o que sobra é um filme insonso, desnecessário e até mesmo esquecível que, embora consiga ser divertido em momentos de maior fan-service, acaba não cativando o espectador pela ausência de um foco narrativo definido e melhor desenvolvido.
Dizer que não existem ideias ruins, especialmente dentro da indústria do entretenimento, seria uma mentira, porque elas existem. Mas mesmo ideias ruins podem render bons produtos se executadas da forma correta e estiverem nas mãos das pessoas certas. Jamais saberemos se este era o caso de Han Solo: Uma História Star Wars ou se a versão filmada por Phil Lord e Chris Miller seria melhor que a vista nos cinemas, mas certamente ela seria algo muito distinto do mostrado. De qualquer modo, o filme comandado por Ron Howard e lançado pela Lucasfilm acabou por seguir outro caminho e ficar no lugar comum, sendo, ainda que bem atuada e realizada, uma aventura medíocre e de pouco charme, algo que jamais poderia faltar a um personagem como Han Solo.
TRAILER:
Não que o filme seja um desastre completo. Han Solo: Uma História Star Wars tem sim pontos positivos, a começar, por exemplo, com a interpretação de Donald Glover como uma versão mais jovem de Lando Calrissian, de modo que o ator transmite com fidelidade os trejeitos, o estilo e a elegância do histórico personagem encarnado por Billy Dee Williams na trilogia original, chegando até a impostar sua voz para fazê-la se assemelhar com a do antigo intérprete. Todo o elenco, na verdade, realiza um bom trabalho dentro do que lhes foi entregue, inclusive Alden Ehrenreich, dono do papel principal e um dos principais temores devido ao que vinha sido dito acerca dos bastidores, mas que convence como Han Solo, ainda que esteja longe do calibre de atuação de Harrison Ford. Os efeitos especiais também se destacam, mantendo o já conhecido padrão de qualidade Industrial Light & Magic, e a trilha sonora composta por John Powell (com o tema principal sendo de autoria de John Williams) é bem executada e muitas vezes eleva o que é visto em tela.
O que desbalanceia o filme quanto a todos estes aspectos técnicos é seu roteiro. Apesar de seguir uma sequência linear lógica e respeitar a estrutura básica de narrativa, a forma com que retrata a história de Han Solo é através de uma origem que se sente compelida a explicar cada aspecto icônico do personagem, e todos dentro de uma única aventura. Desse modo, o público é exposto a algumas irrelevantes respostas acerca do protagonista, como a origem de seu nome, de seu icônico blaster, de sua fama de soltar cargas contrabandeadas ou o motivo para haver atirado primeiro em Greedo nos eventos do primeiro Star Wars. Ao mesmo tempo, momentos como o famoso "Percurso de Kessel em 12 Parsecs" ou a forma com que Han ganha a Millenium Falcon de Lando são retratados de forma branda e acabam por desmistificar estas informações dadas durante os três filmes clássicos, que por muitos anos habitaram o imaginário dos fãs e pareciam melhores ali.
Também fraqueja o script quando precisa desenvolver seus personagens ou a relação entre eles. É fácil se identificar com conhecidos como Solo, Lando e Chewbacca, mas novas adições como Tobias Beckett, Dryden Vos ou Val não conseguem estabelecer qualquer ligação com o público, sendo tão descartáveis quanto aparentam ser. Nem mesmo Qi'ra (Emilia Clarke), uma das protagonistas da trama, consegue se firmar e mostrar ao que veio, sendo parte de um arco dispensável que pouco faria diferença no resultado final. Suas interações ainda soam forçadas, pouco naturais, ao passo que o relacionamento entre Han e Chewie, que deveria ser um dos principais pontos do enredo, se dá de forma apressada e mal-desenvolvida, enquanto Lando protagoniza com a androide L3-37 (Phoebe Waller-Bridge) um dos momentos mais desconexos e talvez até vexatórios de todo o filme.
Soma-se a todos estes problemas apontados o filtro de fotografia usado pelo diretor Ron Howard, que não apenas escurece toda a película, dificultando assistir algumas cenas realizadas em ambientes de pouca luminosidade (especialmente em 3D), mas também neutraliza todas as suas cores, deixando Han Solo sem vida ou carisma, um erro básico quando se trata de um longa que tenta se pautar pelo humor, o qual poucas vezes se sobressai. Na falta de tantos elementos, tudo o que sobra é um filme insonso, desnecessário e até mesmo esquecível que, embora consiga ser divertido em momentos de maior fan-service, acaba não cativando o espectador pela ausência de um foco narrativo definido e melhor desenvolvido.
Dizer que não existem ideias ruins, especialmente dentro da indústria do entretenimento, seria uma mentira, porque elas existem. Mas mesmo ideias ruins podem render bons produtos se executadas da forma correta e estiverem nas mãos das pessoas certas. Jamais saberemos se este era o caso de Han Solo: Uma História Star Wars ou se a versão filmada por Phil Lord e Chris Miller seria melhor que a vista nos cinemas, mas certamente ela seria algo muito distinto do mostrado. De qualquer modo, o filme comandado por Ron Howard e lançado pela Lucasfilm acabou por seguir outro caminho e ficar no lugar comum, sendo, ainda que bem atuada e realizada, uma aventura medíocre e de pouco charme, algo que jamais poderia faltar a um personagem como Han Solo.
TRAILER: